PT — LARRY ROMANOFF — NÜSHU (女书) — April 04, 2021

Nüshu é o que hoje designaríamos como uma “língua morta”, uma língua que já não é utilizada, e que, sem a intervenção da Providência, teria morrido e ficado extinta sem sequer ter tido um funeral. Esta língua misteriosa foi descoberta acidentalmente, somente há cerca de 40 anos. No início dos anos 80, um professor acompanhou os seus alunos a uma área remota da província chinesa de Hunan para estudar os costumes e a cultura locais. Durante esses estudos, descobriram uma estranha caligrafia que nenhum homem conseguia compreender, com caracteres muito diferentes das letras chinesas e de qualquer outra escrita do mundo. 

O Nüshu era uma forma especial de escrita e de canto, que era utilizada e compreendida apenas pelas mulheres do condado de Jiangyong, na província chinesa de Hunan e em determinadas regiões de três províncias adjacentes. Apesar da sua longa história, parecia que ninguém fora da área, incluindo grande parte da própria província de Hunan, a tinha visto ou estava mesmo ciente da sua existência. Reconhecendo imediatamente a importância da sua descoberta, o professor procurou a ajuda de linguistas profissionais que formaram um grupo de investigação destinado a recolher amostras e gravações e criaram um dicionário. O Nüshu, que tinha sido transmitido silenciosamente, de mulher para mulher, durante inúmeros séculos, tinha agora deixado a sua casa rural com os seus segredos expostos, causando ondas de emoção tanto no país, como no estrangeiro. O Nüshu foi declarado oficialmente Património Mundial e inventariado como uma das línguas mais antigas do mundo e a única língua exclusivamente feminina alguma vez descoberta.

Como era efectivamente uma língua secreta, não podemos encontrá-la referênciada em documentos antigos ou obras históricas e ninguém fora dessa área, parece ter estado familiarizado com ela. No entanto, esta história pode não estar completa porque em Nanjing, em 1999, foram descobertas algumas moedas que continham inscrições em caracteres de Nüshu, moedas que tinham sido cunhadas pelo governo de Taiping desde o início até meados do século XIX. Eram moedas legítimas, o que significa que o Nüshu deve ter estado em algum tipo de utilização oficial durante esse período, mas até à data, ainda não foi descoberta qualquer documentação. (People’s Daily News, edição internacional datada de 2 de Março de 2000).

O Fim de uma Tradição

O Nüshu declinou na década de 1920, no meio de várias mudanças sociais e políticas, e o uso dessa escrita foi fortemente reprimido pelos japoneses durante a invasão da China, na década de 1930-40, porque temiam que pudesse ser usado para enviar mensagens secretas. Também, durante a Revolução Cultural de 1966 a 1976, a língua foi desencorajada como uma espécie de resquício feudal, numa época em que a nação estava a tentar libertar-se de dois séculos de estagnação e a inserir-se num mundo moderno. Ocorreram mais mudanças sociais e culturais durante a segunda metade do século XX, incluindo a normalização da língua mandarim e a simplificação dos caracteres, resultando na adopção do mandarim pela geração mais jovem e no abandono do Nüshu, que depois caiu em desuso à medida que as mulheres mais velhas morriam.

Parece ser sempre verdade que, à medida que os tempos mudam, especialmente durante as grandes convulsões sociais, as nossas culturas e tradições evoluem e, por vezes, dissipam-se. NüShu caiu parcialmente vítima da Revolução Cultural que estava a reescrever a História de uma nova China e, simultaneamente, as reformas educacionais universais centradas no mandarim, que tornaram o NüShu supérfulo, pelo que deixou de ser ensinado e desapareceu, gradualmente, da cultura da época.

O Nüshu na Vida Diária

Usando a sua escrita, as mulheres escreveram cartas, poesia e canções em livros e em leques de papel e, frequentemente, bordaram esta escrita em tecido para lenços de bolso, cachecóis, aventais e outras peças de artesanato. Em vez de escreverem cartas, bordavam frequentemente poemas e mensagens em lenços de papel para serem entregues como mensagens essencialmente secretas, aos seus amigos e familiares no país. Além de poesia e canções, escreviam Nüshu nas suas orações e cânticos a Deus, mas talvez o uso mais notável tenha sido nas suas cartas e votos, umas às outras, como irmãs comprometidas através de juramento.

Era tradição entre as raparigas desta região, entabular um relacionamento entre si que se chamava Jiebai Zimei (結拝姉妹) ou “irmandade ajuramentada”, o que implicava um compromisso com as amigas que não eram biologicamente aparentadas, mas sim, comprometidas através de uma amizade profunda. Estas irmãs ajuramentadas eram geralmente muito mais próximas umas das outras, do que das suas irmãs biológicas e uma das principais utilizações de NüShu, foi como meio de registar estas amizades para toda a vida, em cartas e poesia.

Eram relações sérias de companheirismo emocional, quase semelhantes ao casamento e que se esperavam durar toda a vida. As raparigas jurariam promessas umas às outras e partilhariam a sorte e as desgraças, uma prática que desempenhou um papel muito importante na invenção e divulgação de Nüshu. Grande parte da escrita e dos bordados de Nüshu consistia em cartas entre irmãs juradas, e tudo leva a crer que a necessidade da expressão exacta destes laços emocionais foi responsável pela criação da língua. 

Uma das tradições mais encantadoras diz respeito aos livros conhecidos como San Chao Shu, (三朝书, literalmente, o livro do terceiro dia) que eram cadernos muito bonitos confeccionados à mão em tecido, escritos em Nüshu, para serem dados a uma filha ou a uma irmã ajuramentada aquando do seu casamento. Nos casamentos tradicionais chineses da época, uma noiva juntava-se à família do seu marido e tinha de se mudar, por vezes para longe, talvez só voltando a ver a sua família biológica ou as suas irmãs ajuramentadas, muito raramente.

Estes encantadores San Chao Shu eram presentes de casamento entregues no terceiro dia após o casamento da jovem, exprimindo tipicamente esperanças amistosas de felicidade futura para a noiva, bem como descrevendo as tristezas por serem afastadas dela. As primeiras páginas eram preenchidas com canções e poemas para a jovem que deixava a aldeia, enquanto as páginas restantes eram deixadas em branco para serem usadas como diário pessoal. Estes livros eram considerados como grandes tesouros e eram considerados muito pessoais, tanto que normalmente eram queimados ou enterrados com essa mulher, aquando da sua morte – uma prática que explica a escassez de exemplos de NüShu existentes hoje em dia. 

Quando examinamos os escritos de NüShu disponíveis, percebemos que estamos a olhar não só para as vidas mas também para os corações destas mulheres da aldeia, reflectindo os sentimentos e e as emoções mais profundas dos seus corações, uma forma de expressão que se enraizou na consciência das mulheres. Estas mulheres criaram algo para si mesmas, uma linguagem perfeitamente adaptada às necessidades de expressão das mulheres. O argumento é tão feminino e a escrita tão descritiva, que ambas tocam as almas destas irmãs juradas, transmitindo com precisão através das suas cartas, poemas e canções, as suas esperanças e lágrimas, a sua alegria e desespero.

Nüshu tem sido descrita como “Uma luz de civilização na História, um cenário especialmente belo na história das mulheres, um método para construir um reino espiritual único, raro, valioso e belo para as mulheres”. O Nüshu é um grande exemplo de uma cultura popular rica, um produto da grande civilização chinesa, que foi formada num solo cultural muito especial e complexo. Um estudioso escreveu que agora que Nüshu se retirou do palco histórico com a bênção da História, o que resta hoje é “um arco-íris da civilização humana”. (Zhao Liming)

É mais do que fascinante o facto de que o Nüshu possa alguma vez ter sido concebido porque, embora o objectivo de toda a língua seja comunicar, o Nüshu foi criado como uma língua de emoção e sentimento. Isto é tão verdade que se perguntou a uma mulher Hunan, que escreveu um poema em Nüshu, porque não o redigiu em Mandarim, o que teria sido mais fácil. A sua resposta foi que ela não conseguia, que era demasiado assustador até pensar em gravar ou exprimir os seus sentimentos noutra língua mas, ao usar o Nüshu, ela conseguia fazê-lo. Nüshu não é só uma língua do coração, mas sim, da alma. Uma mulher descreveu as suas expressões em Nüshu como a capacidade de sussurrar os seus sentimentos mais profundamente escondidos, de descrever não só lágrimas, mas, sobretudo, “lágrimas de cor púrpura”.

É sabido que as diversas línguas têm capacidades diferentes para comunicar conceitos. Há palavras alemãs – por exemplo, ‘schadenfreude’ – que não podem ser traduzidas para uma única palavra noutra língua. Por vezes, um parágrafo pode ser necessário numa língua, para exprimir uma única palavra noutra. Na maioria das línguas, a expressão de factos é fácil, mas os sentimentos e emoções são mais difíceis de exteriorizar verbalmente ou por escrito, sem recorrer a um vocabulário floreado.

A conclusão que parece ajustar-se às circunstâncias é que este vale de mulheres em Hunan sentiu uma necessidade de manifestar os seus pensamentos, sentimentos, desejos, tristezas e esperanças emocionais e, assim, criou uma linguagem específica para as mulheres que continha o vocabulário para fazê-lo rigorosamente. E exteriorizaram todos esses sentimentos delicados e indefiníveis através do vocabulário que criaram para o Nüshu. Se esta suposição estiver correcta, não é surpreendente que nenhum homem a possa compreender nem que nenhum homem seja convidado a compreendê-la. O Nüshu é inteiramente uma linguagem de emoção e sentimento; talvez a primeira (e única) vez que as mulheres foram capazes de revelar com precisão, os segredos dos seus corações.

Todos os manuscritos de Nüshu são de mulheres para mulheres, sejam cartas, canções ou poemas, cada um deles um produto da cultura única de uma mulher, reflectindo e preservando os sentimentos espirituais das mulheres. A linguagem, uma maravilha artística única, foi a base não só para a comunicação mas para a coesão, criando, como escreveu um autor, “um reino espiritual romântico baseado nos sentimentos e sofrimentos reais dessas mulheres”. Em termos simples, as mulheres precisavam de uma forma de se exprimir mas, sem utilizar as ferramentas necessárias nos dialectos comuns. Assim, aplicaram o conhecimento único dos seus corações para criar uma nova linguagem com um vocabulário subjectivo apropriado para reflectir as emoções femininas. Foi este facto que permitiu criar a estrutura para as irmãs jurarem os seus votos, quase como uma irmandade feminina secreta. Nüshu é uma grande iniciativa das mulheres chinesas e uma contribuição para a civilização humana.

 É interessante salientar que em todos os escritos de Nüshu descobertos, não há canções de amor.

Muitos estudiosos recompilaram exemplos da escrita de Nüshu e criaram dicionários de alguma reputação, mas a minha sensação é que não se pode transformar um gato num pássaro. No caso do Nüshu, é apenas num ambiente emocional muito específico que o sentimento verdadeiro e complexo de um grupo de letras/símbolos pode ser compreendido. Não pode ser traduzido noutras línguas que não tenham vocabulário para esses sentimentos. As palavras para descrever sentimentos subjectivos em ressonância com as irmãs, como uma das necessidades básicas da vida espiritual humana, não podem ser encontradas na maioria dos dicionários, especialmente os que foram criados por homens.

Por sua vez, a escrita Nüshu é exclusivamente feminina. Se há um sinal marcante desta língua, é o género. As letras de Nüshu têm uma beleza feminina suave e fluida, pitoresca e única. Considerando que era um meio de comunicar em privado, estes símbolos formosos e pequenos, foram concebidos com imensa beleza.

Muitos intelectuais, em vez de se concentrarem nas questões materiais do uso e da intenção da língua, parecem ocupar-se com as semelhanças da mesma com o chinês ou com outros caracteres/símbolos. No entanto, o chinês é uma língua de caracteres em que cada caracter representa uma ideia, ou uma palavra ou parte de uma palavra. De maneira diferente o Nüshu, é fonético, com os caracteres (letras) a representarem sons e não conceitos. Não são ideias, mas pronúncias, como na maioria das línguas ocidentais. É principalmente por esta razão, que acredito que os dicionários e as traduções podem ser de utilidade limitada. 

As letras(símbolos, caracteres) do Nüshu são principalmente um depósito de cultura feminina, não uma lista de substantivos. O Nüshu tem mais de 2.000 caracteres, alguns dos quais não têm equivalentes na linguagem falada e que demonstram pouca inteligibilidade mútua com outras línguas. Para além de tudo o que foi referido acima, o Nüshu tem um conjunto completo de regras de disposição com pronúncia, estilo e uma estrutura gramatical. 

Afirmei anteriormente, que os eruditos parecem concentrar-se inteiramente em elementos que são quase irrelevantes no quadro geral. Em minha opinião, há dois factores muito importantes no estudo desta língua.

Primeiro é a natureza feminina da língua, o fundamento emocional, uma linguagem criada por e para as mulheres, aparentemente com o propósito de exteriorizar os sentimentos mais profundos e quase inexprimíveis dos seus corações.

O segundo factor é talvez ainda mais espantoso e um motivo de admiração maior. Como é que um grupo de camponesas que viviam num vale remoto na província chinesa de Hunan há 1.000 anos, mulheres possivelmente analfabetas que, quase de certeza, nunca frequentaram uma escola de qualquer tipo, conseguiram criar uma linguagem completa com 60.000 palavras e regras gramaticais, e uma escrita  inteiramente nova e muito bonita, concebida para retratar esses “sentimentos indescritíveis”? Hoje em dia essa tarefa seria tão assustadora a ponto de ser quase impossível até mesmo para os linguistas mais competentes, no entanto, foi alcançada.

Tudo o que é Excelente tem Origem numa Situação Desagradável

Quando o Nüshu foi descoberto pela primeira vez, muitos “eruditos” estrangeiros foram até Hunan e roubaram os melhores e mais antigos exemplares da escrita Nüshu, os San Chao Shu e os artefactos bordados, todos eles de imenso significado histórico e cultural para a China. Desapareceram para sempre devido a esta “investigação” predatória.

Além de que, houve demasiados estrangeiros a coordenar as pesquisas sobre o Nüshu e a produzir uma inundação de  documentos e livros que, na melhor das hipóteses, estão errados e, na pior, são fraudulentos e insultuosos. O Nüshu foi o embrião de vários documentários ocidentais, todos péssimos e todos direccionados principalmente para denegrir a China e, de uma forma ou de outra, para destruir esta obra histórica maravilhosa.

Mas ainda mais decepcionante, é o facto de que muitos dos chamados intelectuais estrangeiros realizaram obras escritas e cinematográficas sobre o Nüshu com um cariz ofensivo, para denegrir mais uma porção maravilhosa do património cultural chinês. Um autor rejeitou o Nüshu, alegando ser “uma língua concebida por uma cultura de lésbicas”, afirmando depois que o governo nacional chinês tomou a iniciativa de salvar a língua da extinção, somente, porque previa enormes lucros potenciais, provenientes do turismo cultural.

Outros ‘intelectuais’ mal informados afirmam que as mulheres aprenderam esta língua porque lhes era proibida a educação formal e a aprendizagem do chinês. Alguns afirmam que as mulheres “se rebelaram” contra uma “sociedade confuciana grotesca, dominada por homens”, e que a língua surgiu como resultado desse conflito. Outros vêem o Nüshu através de uma lente feminista, criando paralelos ocidentais imaginários com o “fortalecimento das mulheres” através do “fortalecimento da consciência colectiva do ego”. Alguns afirmam que os homens ignoraram a língua Nüshu “durante a época da China feudal”, visto que as mulheres eram consideradas seres inferiores e lhes eram negadas oportunidades educacionais e eram condenadas ao isolamento social devido aos pés enfaixados. E muito mais. De todos os que analisei, nenhum demonstra qualquer compreensão do contexto cultural ou social, e nenhum reconhece sequer – e muito menos aprecia – os elementos primordiais implícitos.

Por conseguinte e de acordo com o meu ponto de vista, não estou a fornecer links ocidentais a qualquer parte deste artigo. Aconselho vivamente os leitores interessados em Nüshu a evitarem qualquer website que não esteja fisicamente sediado na China e que não tenha sido criado por fontes chinesas autorizadas. Existem dezenas de páginas web estrangeiras sobre Nüshu que alegam ser chinesas, mas que estão sediadas, principalmente, nos EUA e que têm pouca ou nenhuma informação, exacta ou histórica, para fornecer.

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Os artigos do Snr. Romanoff foram traduzidos em 30 idiomas e postados em mais de 150 sites de notícias e política de idiomas estrangeiros, em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas em inglês. Larry Romanoff, consultor administrativo e empresário aposentado, ocupou cargos executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi proprietário de uma empresa internacional de importação e exportação. Exerceu o cargo de Professor Visitante na Universidade Fudan de Shanghai, ministrando casos de estudo sobre assuntos internacionais para turmas avançadas de EMBA. O Snr. Romanoff reside em Shanghai e, actualmente, está a escrever uma série de dez livros, de um modo geral, relacionados com a China e com o Ocidente. É um dos autores que contribuíram para a nova antologia de Cynthia McKinney, ‘When China Sneezes”. Essa contribuição está traduzida em PT com o título “LIDAR COM DEMÓNIOS”.

O seu arquivo completo pode ser consultado em

https://www.moonofshanghai.com/
http://www.bluemoonofshanghai.com/

Contacto de email: 2186604556@qq.com

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Notas

(1) Falece a última mulher que falava NüShu

 September 24, 2004, China Daily

; http://www.chinadaily.com.cn/english/doc/2004-09/24/content_377436.htm

(2) A China revela ao público uma língua especificamente feminina.16 de Março de 2004;

http://en.people.cn/200403/16/eng20040316_137569.shtml

(3) Centro de Pesquisa De Caracteres Chineses Antigos da Universidade de Qinghua

http://www.thurcacca.org/booksearch.html

(4) Fotos de Nüshu:

https://image.baidu.com/search/index?tn=baiduimage&ct=201326592&lm=-1&cl=2&ie=gb18030&word=%C5%AE%CA%E9&fr=ala&ala=1&alatpl=adress&pos=0&hs=2&xthttps=111111

(5) https://baike.baidu.com/item/%E5%A5%B3%E4%B9%A6/608945?fr=aladdin

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A fonte original deste artigo é The Saker Blog

Copyright © Larry Romanoff, Moon of ShanghaiBlue Moon of Shanghai, 2021

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

Websites: 

https://www.moonofshanghai.com/

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