EUA-2020: O Dilema do Partido Democrata

26/2/2020, Michael Hudson, Unz Review

Na luta entre oligarquia e democracia, um dos lados tem de ceder

“Pesquisas recentes mostram que Sanders é o único candidato que realmente pode derrotar Trump – como já mostravam que Sanders derrotaria Trump em 2016.

O Comitê Nacional Democrata sabia, e preferiu perder para Trump, a vencer com Bernie.”
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Ouvindo o debate entre os pré-candidatos, poder-se-ia supor que disputassem entre eles a posição de melhor nome para derrotar Trump. Mas quando o bilionário irmão gêmeo de Trump, Mike Bloomberg, joga um quarto de bilhão de dólares num spot de campanha para ultrapassar os candidatos que disputam votos em Iowa, New Hampshire e Nevada, logo se vê, por óbvio, que o que está verdadeiramente em questão é o futuro do Partido Democrata. Bloomberg joga pela banca, num cassino cuja jogatina é organizada pelo Comitê Nacional Democrata (CND) [ing. Democratic National Committee (DNC)] e jogatina na qual o dinheiro vota. (Se “[empresários e] empresas são povo”, então o dinheiro também é povo, no mundo político contemporâneo.)

Até Nevada, todos os candidatos à presidência, exceto Bernie Sanders, jogavam a favor de uma convenção-jogatina ‘batizada’. Parecia que os candidatos do partido seriam escolhidos pela Classe Doadora de Dinheiro de Campanha, o 1% e seus representantes e procuradores, não pela Classe Votante (os 99%). Se, como o prefeito Bloomberg pressupôs, o CND realmente venderá a candidatura presidência a quem ponha mais dinheiro no pano verde, surge a grande pergunta: sobreviverá o mito de que os Democratas representam a classe trabalhadora/média? Ou a Classe Doadora de Dinheiro de Campanha prepara uma armadilha, com sua Trump-carta, carta-trunfo,[1] contra a Classe Trabalhadora?

Nesse caso se poderia pensar no processo todo como “interferência nas eleições” – não de alguma Rússia, mas do próprio Comitê Nacional Democrata e a favor da própria Classe Doadora de Dinheiro de Campanha. Esse cenário poderia virar slogan dos Democratas para 2020 “Nem esperança, muito menos mudança”. Quer dizer, mudança-zero nas atuais propostas para a economia, que só fazem mandar varrer toda a riqueza para cima, diretamente para o 1%.

Parece Roma nos anos finais da República, no século 1º AC. Do modo como foi montada a Constituição de Roma, candidatos à posição de cônsul tinham de pagar, abrindo caminho por uma série de gabinetes/cargos. O processo começava por o candidato endividar-se pesadamente para conseguir ser eleito à posição de edil, encarregado de organizar jogos e entretenimento públicos. A política fiscal neoliberal de Roma não taxava nem gastava, e a burocracia da administração pública era mínima. Assim, qualquer gasto tinha de ser coberto pela oligarquia. Foi um modo de manter todas as decisões em mãos de políticos democratas. Júlio Cesar e outros tomaram dinheiro emprestado do mais rico Bloomberg de seu tempo, Crasso, para pagar os custos de jogos que mostrariam aos eleitores o espírito público dos governantes (e também mostravam aos apoiadores financeiros, no 1% romano, o tamanho da dívida dos governantes). Manter privado o financiamento de eleições permitiu aos oligarcas dominantes selecionar candidatos viáveis, ‘liberados’ para concorrer às eleições. É a ancestral romana da ONG conservadora Citizens United.

Mas na manhã seguinte, depois da avassaladora vitória de Sanders em Nevada, uma convenção de cartas flagrantemente marcadas significaria o fim da fantasia de que o Partido Democrata representaria os 99%. O sistema eleitoral norte-americano apareceria aos olhos de todos como tão oligárquico quanto Roma às vésperas das lutas internas que terminaram com Augusto coroado Imperador em 27 AC.

As empresas de mídia pró-1% de hoje – CNNMSNBC e o New York Times – só fazem cuspir veneno contra Sanders. No domingo, 23 de fevereiro, a CNN exibiu comentário intitulado “Bloomberg precisa derrubar Sanders imediatamente”. Dada a diferença nacional a favor de Sanders, alertava a CNN, a disputa de repente está já quase totalmente acima da capacidade dos eleitores conservadores para modificar os resultados nas urnas. Significa que os opositores de Sanders devem concentrar-se em atacar o homem; depois poderão cuidar de Bloomberg (em termos de CNN, “depois” significa: quando já for tarde demais para detê-lo).

Os Clinton-Obamas do Partido Democrata beneficiários do dinheiro da pródiga Classe Doadora de Dinheiro para Campanha fingem que acreditam que Sanders não conseguiria derrotar Donald Trump. Essa tática visa a atacar Sanders em seu ponto mais forte. Pesquisas recentes mostram que Sanders é o único candidato que realmente pode derrotar Trump – como mostravam que Sanders derrotaria Trump já em 2016.

O Comitê Nacional Democrata sabia disso, mas preferiu perder para Trump, a vencer com Bernie. Será que a história se repetirá? Ou, dito de outro modo, será que a convenção de julho/2020, virará replay de Chicago 1968?

É dilema, não é problema

Ano passado pediram-me que escrevesse sobre o que poderia acontecer se o Comitê Nacional Democrata novamente assaltasse e roubasse o processo eleitoral para indicar o candidato do partido. Sei que tecnicamente não cabe falar de assalto e roubo, porque nesse caso o assalto e o roubo foram declarados legais. Nos processos impetrados contra o assalto e roubo de 2016, as cortes decidiram que o Partido Democrata é realmente controlado pelos membros do Comitê Nacional Democrata, não por delegados votantes. No que tenha a ver com maquinações e tomada de decisões partidárias, delegados votantes apenas subsidiam o serviço dos superdelegados naquelas proverbiais salas enfumaçadas (hoje trocaram os fumos de cigarros, por fumos de contratos da fundação, que só queimam dólares).

Não consegui pensar em qualquer solução que não envolvesse desmantelar e reconstruir o sistema partidário hoje existente nos EUA. Já passamos da fase em que o Comitê Nacional Democrata foi “problema”. Agora estamos ante um dilema. Problema é, por definição, solucionável, quero dizer, alguma solução existe. Dilema é diferente. Dilemas não têm solução. Não há saída. O conflito entre os interesses da Classe Doadora de Dinheiro para Campanha Eleitoral e os interesses da Classe Votante cresceu muito, e ficou grande demais para ser contido num único partido. É preciso dividir o partido.

Um cenário de segunda votação dos superdelegados pode significar que mais uma vez já está decidido que Trump ganhará um segundo mandato. Essa opção recebeu o apoio de cinco dos seis que disputam a indicação do Partido Democrata, sobre o palco em Nevada, na 4ª (5ª) feira, 20 de fevereiro. Quando Chuck Todd perguntou se Michael Bloomberg, Elizabeth Warren, Joe Biden, Pete Buttigieg e Amy Klobuchar apoiariam o candidato que tenha recebido maioria de votos nas primárias (agora, como é óbvio, Bernie Sanders), ou se deixariam a indicação do candidato aos superdelegados controlados desde Obama-Clinton pelos neoliberais (75% dos quais já disseram que prometeram apoiar Bloomberg), todos os consultados advogaram a favor de “deixar o processo seguir seu curso”. Foi mero eufemismo, para não dizerem, de viva voz, que entregarão a escolha à liderança tipo Tony-Blair que reduziu o Partido Democrata a uma espécie de ‘entrada de serviço’ que leva ao Partido Republicano. Como o Partido Trabalhista Britânico ativo por trás de Blair e Gordon Brown, o papel dos Democratas-EUA é bloquear, em benefício do 1%, qualquer alternativa de esquerda ao programa dos Republicanos.

Esse problema não existiria se os EUA tivessem sistema parlamentar de estilo europeu, que permitiria que um terceiro partido tivesse espaço nas urnas em todos os 50 estados. Se aqui fosse a Europa, o novo partido de Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e outros obteria mais de 50% dos votos, deixando os democratas de Wall Street com mais ou menos os mesmos 8% que partidos democratas neoliberais assemelhados têm na Europa (e.g., aqueles infelizes social-democratas neoliberalizados alemães), quer dizer, o território da ‘procuradora #Klobocop’[2], depois que os eleitores democratas deslocarem-se para a esquerda. Os “Democratas votantes”, os 99%, teriam boa maioria, e fariam os Veteranos Democratas Neoliberais comer poeira.

O Comitê Nacional Democrata tem a função de impedir que se configure tal desafio. Os EUA vivem sob efetivo duopólio político. Os dois partidos criaram tais impedimentos para que qualquer terceiro partido chegue à cédula eleitoral, num estado depois do outro, que Bernie Sanders decidiu há muito tempo que não lhe restaria qualquer alternativa que não fosse concorrer pelo Partido Democrata.

Problema é que o Partido Democrata não parece ser reformável. Significa que os eleitores podem simplesmente abandonar o Partido – com o que estariam simplesmente reelegendo o real candidato de facto dos Democratas, em 2020: Donald Trump. A única esperança seria fazer o partido encolher muito, de modo a extrair de lá a velha guarda, para, então, afinal, reconstruir o partido desde a base.

Mas os dois partidos criaram um duopólio perfeitamente legal, reforçado por tantas barreiras técnicas, que apenas para repetir o terceiro partido de Ross Perrot (para nem falar em recriar o velho Partido Socialista, ou dos Whigs em 1854), seria preciso mais de um único ciclo eleitoral. Por hora, o que se pode esperar é mais alguns meses de jogadas rasteiras e golpes sujos ditos políticos, comparáveis aos de 2016, dos quais o indicado por Obama, Tom Perez, é apenas a versão mais recente da ex-presidenta do Comitê Nacional Democrata Debbie Schultz-Wasserman (que deu novo significado ao Teste Wasserman, para detecção de sífilis).

Tudo isso para dizer que teremos mais quatro anos de Donald Trump. Mas em 2024, como estará a economia dos EUA? Mais, ou menos apertadamente atada, pés e mãos?

O Vocabulário dos Democratas (para enganar): Como se poderia explicar o Programa de Bernie

Todas as economias são economias mistas. Mas quem ouça Michael Bloomberg e os demais rivais de Bernie Sanders explicarem a próxima eleição presidencial facilmente se convencerá de que economia tem de ser ou capitalista ou, nas palavras de Bloomberg, comunista. Não há meio termo, não há espaço entre um e outro ponto, ninguém vê que economias capitalistas têm setor governamental, tipicamente conhecido como setor “social”, de onde “setor socialista” – Assistência Social, Seguridade Social, o programa Medicare, as escolas públicas, as estradas, a regulação antimonopólios e a infraestrutura pública. São alternativa válida aos monopólios privados e privatizados que vivem de rentismo.

O que Mr. Bloomberg quer dizer, ao insistir em que seria ou capitalismo ou comunismo é uma ausência de gasto social e de regulação social do governo. Na prática, significa controle financeiro oligárquico, porque toda e qualquer economia é planejada por algum setor. A chave é: quem fará o planejamento? Se o governo recusa-se a assumir a liderança na modelagem de mercados, Wall Street assume – ou a City em London, Frankfurt na Alemanha e a Bourse na França.

Mais que tudo, o objetivo do 1% é distrair, afastando a atenção para longe do fato de que a economia está-se polarizando – e o faz em ritmo acelerado. As estatísticas nacionais de renda são manuseadas para mostrar que “a economia” está em expansão. A mentira está em que todos estariam ficando mais ricos e vivendo melhor, não cada vez mais amarrados. Mas a realidade é que o crescimento em termos de PIB chegou aos 5% mais ricos, desde o começo da recessão de Obama, em 2008. Obama resgatou os bancos, não os 10 milhões de proprietários vítimas de bancos hipotecários podres. A fatia do PIB que cabe aos 95% encolheu.

As estatísticas do PIB não mostram fortíssimo crescimento dos “ganhos de capital” – o preço de mercado de ações, papéis e propriedade imobiliária, itens cujos proprietários são os 1-5%. Isso acontece assim graças aos $4,6 trilhões do Estímulo Quantitativo de Obama bombeado para os mercados financeiros, não para a economia “real” na qual os assalariados produzem bens e serviços.

Como alguém “mantém o curso” numa economia em processo de polarização? Manter o curso significa continuar as tendências existentes que estão concentrando mais e mais riqueza nas mãos do 1%, isso é, da Classe Doadora de Dinheiro para Campanhas Eleitorais – ao mesmo tempo sobrecarregando os 99% com mais dívidas, a serem pagas ao 1% (autodenominados eufemisticamente “salvadores” da economia). Toda a “salvação” concentra-se no topo da pirâmide. O 99% não consegue poupar grande coisa, depois de pagar ao 1% as ‘despesas fixas mensais’.[3]

Se essa polarização econômica está empobrecendo a maior parte da população, ao mesmo tempo em que suga riqueza e renda e poder político canalizados para cima, para o 1%, nesse caso ser centrista é ser o candidato da oligarquia. Significa não desafiar a estrutura da economia.

A linguagem é trabalhada para confundir os eleitores e levá-los a crer que o interesse deles seria o mesmo que o da Classe dos Rentistas e Doadores de Dinheiro para Campanha Eleitorais, credores e empresas e business financeirizados, e monopólios rentistas. O objetivo é desviar a atenção para longe do próprio interesse econômico dos votantes assalariados e consumidores. É confundir os votantes, para que não reconheçam que, sem reforma estrutural, “deixar que o processo siga seu curso”, e fazer “business as usual” é deixar o comando entregue ao 1%.

Assim sendo, autodeclarar-se “centrista” é recorrer a mero eufemismo para autodeclarar-se lobbyist a favor de aspirar para cima, para o 1% toda a renda e toda a riqueza. Em economia que se vai polarizando, a escolha tem sido a favor do 1%, não dos 99%.

Isso, com certeza, nada tem a ver com estabilidade. O centrismo sustenta a dinâmica de polarização da financialização e da “reforma” pró-bancarrota patrocinada por Biden e redigida pelas empresas de cartões de crédito que apoiam Biden, em seu estado, Delaware. Biden foi o senador a serviço da indústria de cartões de crédito, assim como Joe Lieberman, ex-candidato dos Democratas à vice-presidência, foi o senador da indústria dos seguros do estado de Connecticut.

Demanda centrista relacionada a essa é o objetivo de Buttigieg e Biden, de equilibrar o orçamento federal. “Equilibrar o orçamento federal” não passa de eufemismo para dizer “cortar despesas com Seguridade Social, Medicare, e substituir a despesa que atende a interesses da sociedade (por isso declarados “socialistas”), por gastos para aumentar a militarização dos EUA, e subsidiar a falta que fazem os impostos que o 1% fica livre de ter de pagar. Sanders, com razão, diz que isso é “socialismo só para os ricos”. A palavra correta para isso é “oligarquia” – palavra cuja ausência no vocabulário dominante é realmente impressionante.

Se não há democracia, há oligarquia; e não há outra possibilidade. Como Aristóteles já sabia e ensinou no século 4º AC, as oligarquias autoconvertem-se em aristocracias hereditárias. Esse é o caminho para a servidão. Para os interesses financeiros corporativos, “estrada para a servidão” [título do livro] de Hayek significa governo suficientemente forte para taxar a riqueza e manter sob domínio público a infraestrutura essencial, provendo seus serviços à população a preços subsidiados, em vez de permitir que esses serviços sejam monopolizados.

A confusão em torno da palavra “socialismo” pode ser desfeita, se se reconhece que todas as economias são mistas, e que todas as economias são planejadas – por alguém. Se não pelo governo, para garantir o interesse público, então por Wall Street e outros centros financeiros, para garantir os interesses deles. E esses lutam contra qualquer setor público que cresça em qualquer economia, chamando aquele crescimento de “socialismo” – e sem se dar conta de que é, como disse Rosa Luxemburg, ou socialismo ou barbárie.

Acho que Sanders está usando a palavra de letras vermelhas “socialismo” e se autodeclara “socialista democrático”, para explicitar o desafio ideológico; está jogando a luva. Assim se filia assumidamente à longa e poderosa tradição da política socialista. Paul Krugman adoraria autodeclarar-se social-democrata. Mas os partidos europeus que levam esse nome desacreditaram completamente esse rótulo, porque nada foram além de centristas e neoliberais. Sanders quer enfatizar que é absolutamente necessário dar um salto quântico, mudar de fase.

Se Sanders pode ser criticado por agitar uma desnecessária bandeira vermelha, é só por tanto que repete que seu programa está concebido para a “classe trabalhadora”. Porque está falando de todos os assalariados, e aí se inclui também a classe média. Até quem ganha mais de $100 mil/ano, ainda assim é assalariado e, sem dúvida, está também sendo sangrado por um setor financeiro predatório, um setor de seguros de saúde predatório, empresas farmacêuticas predatórias e por outros monopólios.

O perigo nessa terminologia é que muitos trabalhadores gostam de pensar em si mesmos menos como “trabalhadores” e mais como classe média, porque é a situação à qual querem ascender. É o caso, especialmente, de trabalhadores proprietários da casa em que vivem (ainda que a hipoteca represente praticamente todo o valor do patrimônio, de modo que a maior parte do valor do aluguel do imóvel é pago a bancos, não aos proprietários ditos parte da “classe proprietária”); que têm cursos superior (ainda que grande parte dos maiores salários que consigam esteja comprometida no pagamento dos juros dos empréstimos estudantis); e que têm carro próprio para ir trabalhar (e respectivas prestações a pagar, do financiamento do carro).

Fato é que até executivos na faixa dos $100 mil têm dificuldades para viver nos limites do que recebem, depois de pagar a parcela mensal da hipoteca ou o aluguel, o seguro-saúde, a parcela mensal do empréstimo-dívida estudantil, as despesas no cartão de crédito e a prestação do carro, para nem falar dos 15% da Lei FICA descontados de todos os assalariados, e as taxas locais descontadas do salário.

Claro que a terminologia de Sanders é muito mais facilmente aceita por assalariados eleitores do tipo que Hillary chamou de “Deploráveis”, e Obama, de the mob with pitchforks” [aprox. “a gangue com tridentes”], contra os quais Obama protegia seus Doadores de Dinheiro de Campanha, de Wall St., e que convidou a visitá-lo na Casa Branca em 2009. Mas acho que há termo muito mais apropriado: “os 99%”, popularizado pelos Movimento Occupy Wall Street. Os 99% são o eleitorado natural de Bernie. Simplesmente opor os 99% ao 1% ajuda muito o processo de jogar a luva no desafio entre democracia e oligarquia.

O debate presidencial dos Democratas dia 25 de fevereiro definirá o cenário do “concurso de beleza” da “Super 3ª-feira” [em 2020, a Super 3ª-feira acontecerá dia 3 de março], para que se afira o que os eleitores Democratas desejam. O grau da vitória de Sanders ajudará a determinar se o bizantino aparelho dos Democratas será realmente capaz de decidir quem será o candidato do partido. A esperada forte vitória de Sanders tornará nítidas as duas vias à frente para que os delegados escolham – a saber: ou Bernie Sanders, ou algum pré-candidato que os eleitores já rejeitaram e que com certeza, como candidato Democrata, será derrotado por Donald Trump em novembro.

Se Donald Trump for reeleito, o Partido Democrata ter-se-á desmanchado no ar, evaporado, tanto completamente quando a velha-guarda Clinton-Obama já não consegue proteger a classe de seus Doadores de Dinheiro de Campanha Eleitoral em Wall Street e em todos os EUA-empresa. Muitos eleitores de Sanders sequer sairão de casa para votar ou votarão nos Verdes. Com isso os Republicanos manterão o controle que têm no Senado e talvez até recuperem o controle sobre a Câmara de Representantes.

Mas seria arriscado pressupor que o Comitê Nacional Democrata será razoável. Mais uma vez, a história de Roma oferece cenário quase de tipo “business como sempre”. O político liberal alemão Theodor Mommsen publicou sua History of Rome em 1854-56, alertando contra deixar que alguma aristocracia assuma o controle da Câmara Alta de qualquer governo (Senado Romano, ou Câmara dos Lords britânica). As famílias líderes, que derrubaram o último rei, em 509 AC, criaram um Senado para sempre condenado a deixar-se engessar pela “estreiteza de pensamento e visão curta que são privilégios próprios e intransferíveis, de qualquer genuíno patricianismo.”

Estreiteza de pensamento e visão curta são traços distintivos do Comitê Nacional Democrata. Melhor Sanders conseguir um grande, indiscutível triunfo!*******


[1] Orig. “[would] Donor Class trump the voting class?”: trocadilho intraduzível, entre “Trump” (nome do presidente) e “trump” (literalmente, “carta-trunfo”, “coringa”) [NTs].

[2] Referência à procuradora Amy Klobuchar, conservadora de linha-dura do Partido Democrata e candidata à indicação pelo Partido como candidata à presidência. Sobre ela, mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Amy_Klobuchar

[3] Orig. “the monthly ‘nut’. A acepção acima é a do Urban Dictionary [NT]. 

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