18/10/2020, Pepe Escobar, Asia Times (traduzido por autorização do autor), The Saker
Nenhuma “pressão máxima” cerebrada por Washington conseguiu embargar evento crucialmente importante nesse domingo: o fim do embargo à venda de armas ao Irã, imposto pela ONU, nos termos da decisão do Conselho de Segurança da ONU n. 2.231, que endossou o ‘acordo nuclear para o Irã’ (tecnicamente “Plano de Ação Abrangente Conjunto Global”; ing. Joint Comprehensive Plan of Action, JCPOA) de 2015.
O governo Trump abandonou, por decisão unilateral, o ‘acordo nuclear’. Mas esse movimento, como se sabe, não impediu o governo Trump de se engajar em massiva campanha, desde abril, para convencer os proverbiais “aliados” a estender o embargo de armas e, ao mesmo tempo, acionar um mecanismo de revide, que reimpunha todas as sanções da ONU contra Teerã.
Foad Izadi, professor de Estudos Internacionais da Universidade de Teerã, resumiu: “EUA queriam derrubar o governo do Irã. Fracassaram, obviamente. E passaram a tentar arrancar novas concessões do Irã, também sem sucesso. Na verdade, perderam concessões. A campanha de política de pressão máxima falhou. ”
No jogo de sombras que marca as eleições em curso nos EUA, não se pode dizer o que acontecerá a seguir. Um segundo mandato de Trump, quase com certeza turbinaria a “pressão máxima”; e Biden-Harris tenderia a reintegrar Washington ao ‘acordo nuclear’ para o Irã. Nesses dois casos, as monarquias do petróleo do Golfo Pérsico estão fadadas a aprofundar a proverbial histeria em torno da tal “agressão iraniana”.
O fim do embargo à venda de armas não significa nova corrida armamentista no sudoeste da Ásia. A verdadeira história é o modo como a parceria estratégica Rússia-China colaborará com o Irã, seu principal aliado geoestratégico. Nunca se destacará suficientemente que esse trio pró integração euroasiática é visto, por Washington como a principal “ameaça existencial”.
Teerã esperou pacientemente pelo dia 18 de outubro. Agora está livre para importar uma gama completa de armamentos avançados, especialmente de Moscou e Pequim.
Moscou deu a entender que, se Teerã continuar a comprar Su-30s, a Rússia está disposta a construir para o Irã uma linha de produção desses jatos de combate. Teerã tem alto interesse em produzir seus próprios caças avançados.
A indústria iraniana de armas é relativamente avançada. De acordo com o brigadeiro-general Amir Hatami, o Irã integra o seleto grupo de nações capazes de fabricar mais de 90% de seu equipamento militar – incluindo tanques, veículos blindados, radares, barcos, submarinos, drones, jatos de combate e, principalmente, mísseis cruzadores terrestres e embarcados, com alcance de 1.000 km e 1.400 km respectivamente.
O professor Mohammad Marandi, da Faculdade de Estudos Políticos da Universidade de Teerã, confirma: “A indústria militar do Irã é a mais avançada da região e a maioria de suas necessidades são supridas pelo Ministério da Defesa”.
Então, sim, Teerã certamente comprará jatos militares, “mas os drones iranianos são os melhores da região e estão sendo aprimorados” – acrescenta Marandi. – “Não há urgência e não se sabe o que o Irã tem na manga. O que se vê em público não é tudo”.
Caso clássico da faceta pública de algo que não pode ser visto aconteceu na reunião no último domingo na província de Yunnan, na China, entre dois excelentes amigos Mohammad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irã, e seu homólogo chinês Wang Yi.
Claro que é parte de parceria estratégica que liga os dois países – a ser selada pelo agora notório acordo comercial de $ 400 bilhões, 25 anos, para comércio, investimento e energia.
China e Irã estão rodeados por anéis do Império das EUA-Bases, e já foram alvos de várias modalidades implacáveis de Guerra Híbrida. Desnecessário acrescentar que Zarif e Wang Yi reafirmaram que a parceria prossegue e avança, em contraste direto com o unilateralismo dos EUA. Devem ter discutido o comércio de armas, mas nada vazou.
Decisivamente importante, Wang Yi quer criar um novo fórum de diálogo “com participação igual de todas as partes interessadas” para lidar com importantes questões de segurança na Ásia Ocidental. A principal pré-condição para participar do fórum é apoiar o JCPOA – sempre firmemente defendido pela parceria estratégica Rússia-China.
Não haverá ‘surpresa de outubro’ cujo alvo seja o Irã. Mas então vem o período crucial entre a eleição presidencial dos EUA e a posse. Todas as apostas estão suspensas.*******
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