Por Larry Romanoff, July 20, 2021
Tradução exclusiva para PRAVDA PT
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Temos um ditado que diz: Depois de passar um mês na China pode-se escrever um livro; depois de um ano na China, pode-se escrever um capítulo; ao fim de cinco anos pode-se escrever um parágrafo, e depois de cinco anos pode-se escrever uma nota num postal.
Esse ditado tornou-se quase uma lenda urbana, mas é essencialmente, verdadeiro. Ainda me lembro do dia em que, ao passar por uma rua no centro de Shanghai, depois de estar no país durante perto de um mês, experimentei uma ilusão de tal clareza extrema que disse para mim mesmo: “Podia escrever um livro sobre este lugar“. Não consigo explicar os processos mentais ou sociológicos que se combinam para provocar esta ilusão inicial de compreensão e clareza, nem as forças que, tão efectiva e progressivamente, a desmontam para uma condição em que, quanto mais tempo passamos na China, menos a compreendemos.
Os meus amigos chineses dizem-me que tenho uma profunda compreensão da China, do seu povo e da sua cultura e, embora os elogios sejam lisonjeiros, também são em grande parte imerecidos. De facto, após quinze anos no país, há dias em que estou cego para algo tão básico que estou convencido que não compreendo nada e teria de dizer que, se a China não pode ser compreendida pelos ocidentais que nela residem, certamente não pode ser compreendida pelos ocidentais do exterior, que não têm qualquer contacto útil com nada que é chinês.
Os ocidentais vivem num mundo ilusório a preto e branco,enquadrado pela programação dos meios da comunicação social sionista e são na sua maioria incapazes de escapar à doutrinação ideológica dos mesmos. Há um adágio que diz que não se pode compreender uma pintura quando se está dentro dela, que se tem de sair dessa pintura e olhar para trás, para a ver como ela realmente é. Poucos ocidentais são capazes de o fazer, devido à doutrinação propagandeada que ocorre desde o nascimento. Esta doutrinação social é verdade, naturalmente, para todas as sociedades, mas o Ocidente sionista, ao contrário da grande maioria da população mundial, vê praticamente tudo que diz respeito às outras nações e aos outros povos, através de uma série de lentes ideológicas político-religiosas que lançam uma aberração cromática bastante grave sobre qualquer coisa percebida através dessas lentes.
São ideologias de capitalismo, democracia, colonialismo, militarismo, supremacia branca, darwinismo, cristianismo e sionismo, estas forças a conspirar para distorcer as verdades da China de modo a quase eliminar qualquer possibilidade de verdadeira compreensão, ao mesmo tempo que desdenha qualquer necessidade real de o fazer. O homem branco, o Ocidente sionista, incluindo o Japão, vêem o mundo como uma Metrópole e periferia, o mundo não branco povoado por seres inferiores destinados a ser explorados através da coerção ou da força militar, os seus recursos utilizados para entronizar o Ocidente enquanto escravizam o mundo, tudo de acordo com o plano de Deus. Para comprovar esta verdade, basta-nos examinar os seus actos, enquanto a História dá testemunho abundante desta afirmação.
Os meios de comunicação ocidentais são ostensivos na sua censura, incessante e estridente, à China, mas parece ser verdade que, praticamente toda a gente fora da China está a ler a partir do mesmo guião. Devemos ter centenas de publicações e websites chamados China Labor Bulletin, China Economic Review, China Auto News, China tudo e mais alguma coisa … que não são de modo algum chineses, mas são fontes mediáticas estabelecidas por ocidentais que são principalmente, mas não exclusivamente sionistas e que, na sua maioria, interpretam e deturpam deliberadamente, os factos e os fundamentos da China. Temos estatísticas produzidas pelos ocidentais sobre tudo relacionado com a China, desde coeficientes de GINI até à dívida bancária, desde o PIB até ao Rendimento Nacional e ao nível de vida, desde a educação até aos cuidados de saúde, até à longevidade e mortalidade infantil, tudo isto, mesmo quando baseado em números inicialmente obtidos de fontes oficiais do governo chinês, é depois massajado e deturpado para provar o oposto da realidade. Temos centenas, e talvez mesmo milhares de livros sobre a China, na sua maioria escritos por essas mesmas pessoas que vêem o país através dessas mesmas lentes ideológicas e, portanto, na sua maioria obras de ficção histórica, muitas delas condenáveis.
A noção arraigada da superioridade, da supremacia branca é, de facto, um grande obstáculo à compreensão, mesmo dos bem-intencionados. Quando os chineses viajam para uma terra estrangeira e testemunham uma cultura estrangeira, pensam “Eu sou diferente“. Quando os americanos (e os canadianos, os britânicos, os australianos) encontram uma cultura estrangeira, pensam “Eu sou melhor“. Também é verdade que os americanos em particular, mas todo o mundo de etnia branca e de língua inglesa no total, não têm respeito e não vêem qualquer valor em qualquer outra cultura, acreditando secretamente que todo o mundo quer ser como eles e que as reivindicações de protecção cultural são apenas uma desculpa para evitar o inevitável, que é tornar-se clones americanos. É neste contexto, amalgamado e complicado, que os ocidentais sinceros tentam compreender individualmente a China, uma tarefa extremamente difícil dadas as circunstâncias.
Os chineses não são limitados pelos horrores do cristianismo ou da política partidária e, na sua maioria, não vêem os acontecimentos fora de si através de uma lente que distorce. Os ocidentais gostam de descrever os chineses como tendo sofrido uma lavagem ao cérebro, mas na minha longa experiência os chineses são, de todos os povos, os que sofrem menos lavagem ao cérebro, enquanto os americanos são os mais notáveis a este respeito.
Devido a tudo o que foi mencionado acima, quando os ocidentais olham para qualquer aspecto da China, podem vê-lo claramente, mas na maioria das vezes não compreendem o que vêem. Porque observam o mundo através de lentes ideológicas, interpretam o seu mal-entendido em termos do que esse acontecimento significaria se ocorresse no seu país e na sua cultura. E a partir desta interpretação errada de um mal-entendido, fazem então julgamentos e formam conclusões que são invariavelmente erradas e muitas vezes tolas.
Menciono como exemplo, uma política americana de alto nível, que afirmou recentemente, numa entrevista, que os chineses precisam de se livrar daquilo que designou como a sua “timidez e falta de confiança“. Estava para além dos limites da sua compreensão, perceber que o que ela via não era nem timidez nem falta de confiança, mas modéstia, uma das mais belas características do povo chinês. Noah Webster escreveu “a modéstia resulta da pureza da mente“, e ainda que “a modéstia não afectada é o encanto mais doce da excelência feminina, a jóia mais rica do diadema da sua honra“. Os ocidentais são muitas vezes tentados em concordar com a avaliação do político acima referido, porque os chineses raramente reagem ou respondem a estas provocações abertas, no entanto, a falta de resposta é, muitas vezes, simplesmente porque os chineses são demasiado modestos e educados para lhe dizerem o que realmente pensam deles. Posso testemunhar que os chineses não têm falta de confiança em comparação com qualquer outra civilização, e também que têm pouco respeito pela versão americana de “na sua cara“, que vêem não como confiança mas como arrogância, rudeza e desrespeito. E sim, sei melhor do que vós que alguns chineses podem comportar-se muito mal, e a recordação de muitos turistas vem-me à memória, mas estes não são de modo algum chineses típicos, mas algum tipo de um subconjunto aberrante que ainda não fui capaz de definir claramente.
E como outro exemplo, estava a descer uma rua com um americano meu conhecido, que comentou a proliferação de “rampas para cadeiras de rodas” que aparecem em praticamente todos os cruzamentos de rua em todas as cidades pequenas e grandes. Em seguida, procedeu a uma dissertação sobre a China, sobre o povo chinês e sobre a cultura chinesa, com base na aparente ubiquidade destas passagens. Tive de parar de ser um indivíduo educado e informá-lo que não eram rampas para cadeiras de rodas, mas sim,que essas mesmas rampas foram concebidas para bicicletas.
Vários jornalistas ocidentais disseram-nos que a taxa de condenação da China para os criminosos acusados é de 99,9%, tendo este número sido extraído do nada, porque a China não reúne e publica essas estatísticas para todos os níveis de tribunais de todas as cidades, vilas e condados. Contudo, a taxa de condenação comparável no Ocidente, pelo menos do Canadá e dos EUA, é de cerca de 60% ou um pouco menos, sendo esta diferença atribuída ao nível mais elevado de virgindade democrática no Ocidente e a um nível extraordinariamente elevado de corrupção policial e judicial na China. Mas será que esta afirmação é mesmo verdadeira?
Mais importante ainda, o que é que significa a taxa de condenação de 60% do Ocidente? Significa que quase metade de todas as pessoas acusadas de um crime, eram de facto inocentes e que foi necessário o trauma e as despesas de um julgamento em tribunal para manter um homem inocente fora da prisão. Ou, se quisermos ser teimosos, podemos olhar para este facto sobre outra perspectiva e afirmar, que 100% das pessoas acusadas eram de facto culpadas, mas que um advogado inteligente e caro as deixou sair em liberdade. Será que isso é melhor?
É verdade que a China tem uma taxa elevada de condenação, mas isso deve-se ao facto da polícia chinesa conduzir o que são, talvez, as investigações mais completas e conscienciosas de qualquer país. A polícia não acusará até estar 100% segura da culpa de um indivíduo e também de ter não só provas suficientes para uma condenação, mas também o maior volume de provas circunstanciais para um juiz determinar a sentença mais apropriada. O sistema ocidental é que é corrupto e com falhas graves – e não o da China – e a China não tem FBI para lançar acusações fraudulentas como método de perseguição a dissidentes políticos.
Certo dia,quando estava na plataforma Maglev, no aeroporto de Pudong, em Shanghai, observei que um casal tinha uma discussão acalorada com um polícia que durou vários minutos. Não estava suficientemente perto para perceber o tema do conflito, mas a altercação terminou com a mulher a dar pontapés nas canelas do polícia. Consigo vislumbrar algumas cidades ocidentais onde isso não teria sido uma boa ideia.
A verdade é que as pessoas na China não têm medo da polícia. No Canadá ou nos EUA ninguém ultrapassará um carro da polícia, ao conduzir no limite de velocidade de uma auto-estrada, mas na China isso acontece a toda a hora. Comentei esse caso com um amigo que disse: “Por que é que eu deveria ter medo dele? Ele é o meu criado, não é o meu amo“. Na China, posso discutir com um polícia e desafiar as suas conclusões sem medo de ser preso por “conduta desordeira“, mas na vida real vai muito mais longe do que isto.
Uma vez acendi um cigarro num centro comercial (Sim, eu sei. Não me diga), e um polícia aproximou-se para me dizer que eu não podia fumar no centro comercial. Claro que eu já sabia disso; estava preocupado e não estava a pensar. Disse-lhe isso mesmo, e pedi desculpa e disse-lhe que me ia embora. Ele acompanhou-me até à porta, o seu colega juntou-se a nós e disse algo humorístico e rimo-nos, e eu fui para o ar livre. Vi-os quando regressei, acenei-lhes, eles disseram-me adeus , éramos amigos. O facto importante é que ele não me queria castigar; não queria começar uma guerra; só não queria que eu fumasse no centro comercial. Um aviso era suficiente, era tudo o que era necessário.
Se eu conduzir acidentalmente o meu carro por onde não devia, o resultado é o mesmo. Nas cidades chinesas, vemos por vezes um carro estacionado num passeio, geralmente porque o proprietário tem necessidade urgente de parar apenas um minuto, numa zona urbana onde o estacionamento é quase inexistente e o tráfego é intenso. Mas enquanto a rua estiver desimpedidda e o passeio tiver espaço suficiente para os peões passarem, a polícia irá ignorar o carro por um curto período de tempo, sendo os carros normalmente rebocados somente se realmente bloquearem o tráfego e causarem confusão; nunca como meio de angariar receitas para o município, como é tão comum no Ocidente.
Isto é um aparte, mas o único país do mundo semelhante à China (que eu saiba) é a Itália. Em Roma, uma vez perguntei a um polícia (esta é uma história verdadeira) se podia deixar o meu carro numa entrada durante alguns minutos enquanto corria para o outro lado da rua para tomar um café rápido. Ele concordou, mas pediu-me que deixasse as minhas chaves no carro para o caso de ele ter de o aparcar noutro sítio. Essa entrada era o acesso para a urgência de um hospital.
Nos EUA, no Canadá e em muitos países europeus, se ultrapassar a permissão do tempo de estadia – até mesmo por um dia – irá causar-lhe problemas. Normalmente, ficará detido numa cela de prisão até ter pago a multa e ter um bilhete de viagem para sair do país, altura em que a polícia o levará para o aeroporto e o colocará no avião, sendo-lhe proibido regressar durante bastante tempo. Uma vez excedi cerca de três semanas, o meu visto na China, embora em minha defesa possa esclarecer que foi devido a um mal-entendido e não foi por minha culpa, uma desculpa que não me traria qualquer simpatia no Canadá ou nos EUA. Mas ao passar pela alfândega e pela saída de imigração da China, o oficial deitou-me um olhar severo e disse: “Sabe, não devia ter feito isso“. Só então percebi o que tinha acontecido e quando ele compreendeu a natureza involuntária da minha transgressão e o meu sincero arrependimento pela ocorrência, deixou-me embarcar livremente no avião. Mais uma vez, ele não me queria castigar, não queria começar uma guerra; só queria que eu obedecesse à lei.
Uma vez, por razões que não me consigo recordar, arquivei todas as minhas facturas de serviços públicos numa gaveta da secretária e esqueci-me delas. Um ou dois meses depois, encontrei pequenos avisos brancos colados no exterior da minha porta da frente, que eram pedidos de pagamento. O escritório de gestão pediu-me para lhes enviar as facturas e o dinheiro e chamaram as empresas de serviços públicos credoras, que enviaram um mensageiro para levantar os pagamentos. Sem penalização, sem juros, sem recriminações, sem cortes de serviço. As empresas de serviços públicos não queriam punir-me; não queriam iniciar uma guerra; queriam apenas que eu pagasse as minhas contas. Uma vez cheguei a casa depois do jantar para descobrir que a minha casa não tinha electricidade. Era apenas um disjuntor que foi rapidamente reiniciado, mas na altura observei em voz alta a uma amiga que me acompanhava, que talvez a electricidade tivesse sido cortada porque me tinha esquecido de pagar a minha conta, e ela disse “nunca ouvi falar de tal coisa“.
Os ocidentais estão fascinados pelo conceito cultural chinês de Guanxi, que a Wikipédia nos diz “define a dinâmica fundamental nas redes sociais personalizadas de poder, que podem ser melhor descritas como as relações que os indivíduos cultivam com outros indivíduos, e é um sistema crucial de crenças na cultura chinesa“. Também que os ocidentais usam o termo “em vez de referirem “ligações” e “relações”, pois nenhum desses termos reflecte suficientemente as amplas implicações culturais que o Guanxi descreve“. (1) Isto é simultaneamente verdadeiro e falso, e prova que a Wikipédia não compreende o Guanxi, tal como os colunistas do New York Times. Temos um ditado no Ocidente que diz que “não é o que se conhece, mas quem se conhece“, sendo o conceito de um indivíduo que beneficia de amizades e ligações universais e não particulares à China.
Mas na China, as amizades e as chamadas “ligações” têm um sabor de confiança e responsabilidade que não existe em mais lado nenhum no mundo, pelo menos que eu saiba. Uma boa amiga estava a comprar uma casa nova para os pais e queria pagar o preço total em dinheiro à assinatura do contrato, de modo a beneficiar de um desconto compensador. Ela tinha 200.000 dólares a menos e ligou-me a perguntar se eu lhe emprestava o dinheiro para completar o pagamento. Eu concordei sem sequer ter de pensar nisso, e transferi o dinheiro para a sua conta no mesmo dia. Se bem me lembro, ela deu-me um IOU a dada altura mas não faço ideia do que fiz com ele e o empréstimo foi reembolsado. Pelo contrário, quando comprei a minha última casa, quis pagar a totalidade da quantia em dinheiro com o contrato de compra e venda pela mesma razão, mas a maior parte do meu dinheiro estava aplicado em GICs bancários que não amadureceram durante vários meses e faltavam-me 35.000 dólares. Estava a conversar sobre a minha casa com outra amiga e perguntei se ela me emprestava o dinheiro. Atravessámos imediatamente a rua até ao seu banco e ela deu-me o dinheiro, sem me fazer perguntas.
Existe uma quinta de morangos orgânicos perto da minha casa, com os morangos mais doces que já provei (os mais caros, também). Por vezes, comprava um cesto como presente para as empregadas de escritório da firma de gestão de propriedades. Um dia, fiquei sem acesso à minha casa, tendo-me esquecido de deixar um conjunto de chaves no escritório. Mas uma jovem no escritório esforçou-se muito para encontrar um serralheiro, que teve de vir de outra cidade a 40 Kms de distância para abrir a minha porta. Quando descobri que não tinha dinheiro para lhe pagar, a jovem, talvez com apenas 20 anos de idade, negociou um desconto de 40% com esse serralheiro e pagou-lhe com dinheiro da sua própria conta.
É um enorme eufemismo dizerque estas coisas não aconteceriam no Ocidente, mesmo que envolvesse a nossa família. Na China, estas ocorrências são normais, sustentadas por uma qualidade cultural de confiança e de obrigação que não pode ser compreendida por alguém que vive no Ocidente. A língua inglesa, que é tão precisa, não tem vocabulário para explicar a qualidade destas relações e a obrigação inseparável que lhes é inerente.
Uma grande queixa que os executivos de empresas, especialmente americanos, imputam à China é que os chineses, muitas vezes, não cumprem os termos de um contrato. Do ponto de vista americano estão correctos, mas esse ponto de vista americano é tão preto e branco como é a sua religião política, daí o choque cultural. Para os americanos, a assinatura chinesa de um contrato é apenas uma fase intermédia num processo de negociação permanente, enquanto que deveria fazer parte dos Dez Mandamentos, uma vez que está escrito em pedra. Isto é fácil de compreender, mas ultrapassa completamente o intelecto ideológico ocidental.
Quero utilizar aqui uma analogia, que compara a China ao Japão, mas que se aplica igualmente ao Ocidente. Os pauzinhos japoneses são talhados com uma ponta pontiaguda e, quando os japoneses comem peixe, com estes pauzinhos podem facilmente escolher primeiro todas as espinhas e depois comer o peixe. Mas os pauzinhos chineses não são cónicos e são tipicamente contundentes nas extremidades. Assim, os chineses comem o peixe inteiro, e depois escolhem as espinhas uma a uma à medida que as encontram. No Ocidente, é assim que vemos um casamento. Sabemos que haverá períodos duros no futuro, mas queremos o casamento e procedemos com o entendimento implícito de que iremos aplanar as dificuldades durante esses períodos à medida que elas surgirem. Os chineses aplicam a mesma intenção em relação às negociações comerciais. Não é errado; é diferente.
Um dia, quando os meus filhos eram muito mais novos, cheguei a casa e encontrei uma janela partida. Perguntei o que tinha acontecido e quem o tinha feito, e um dos meus filhos confessou. Mas qual teria sido a minha reacção se o meu filho tivesse dito: “Recuso-me a responder com o fundamento de que posso incriminar-me” ou pior, se ele tivesse dito: “Não creio que possas provar que fui eu, por isso declaro-me inocente. Adivinha, se quiseres“. Sou uma pessoa calma, por natureza, mas qualquer filho meu que assumisse tal posição receberia uma bofetada que jamais esqueceria.
E agora chegamos ao sistema judicial da China, que funciona exactamente da mesma forma como criamos os nossos filhos. Se fores apanhado a fazer algo errado, confessa, admite o teu crime e, se tiveres algum bom senso, pede desculpa, exprime o teu pesar pelo que fizeste, e apela à misericórdia do teu pai. Ajuda imensamente se o arrependimento e o pedido de desculpa for sincero. Mas, com a polícia e com os tribunais chineses, se o indivíduo quiser ser teimoso e arrogante e forçar a polícia a uma longa investigação e os tribunais a um longo julgamento, não receberá misericórdia quando for considerado culpado, e nenhum advogado esperto o salvará. É precisamente isso que ensinamos aos nossos filhos. Se uma criança mente e tenta evitar a culpa, o castigo será inevitavelmente mais severo, e é assim que deve ser. Neste sentido, o sistema judicial chinês é perfeito, enquanto que o sistema ocidental é estupidamente imperfeito. Nos tribunais chineses, os advogados não estão autorizados a mentir ou a lançar calúnias injustas ou atacar testemunhas vulneráveis, como fazem no Ocidente.
É o mesmo com o **processo de negociação de acordos que os americanos estão a tentar desesperadamente pressionar a China como um método superior de lidar com o crime. Mas não é superior; é antes uma enorme fraude que está a ser praticada. O problema é que os juízes chineses provaram ser quase impermeáveis ao suborno e os advogados chineses não foram treinados para mentir numa sala de tribunal. Então, o que fazer quando os americanos são acusados de crimes na China, como são e serão cada vez mais? O benefício do plebiscito é que retira as decisões judiciais e as sentenças dos juízes e dos tribunais e transfere esta discrição para dois conjuntos de advogados sobre a teoria esperançosa de que os advogados podem ser subornados mais facilmente do que os juízes. Mais uma vez, a este respeito, o sistema chinês é perfeito enquanto o sistema de justiça ocidental (americano) apresenta tantas falhas. Basta pensar nos recentes acontecimentos nos EUA em que Jeffrey Epstein evitou 200 anos de prisão pelo seu círculo internacional de tráfico sexual de menores, realizado apenas retirando decisões de culpa e punição dos tribunais e colocando dinheiro e essas decisões de culpa inteiramente nas mãos de advogados e, tudo dissimuladamente.
** A prática de negociar, por lei, um acordo entre a acusação e a defesa segundo o qual o arguido se declara culpado de um delito menor ou (no caso de delitos múltiplos) de um ou mais delitos acusados em troca de uma sentença mais branda, recomendações, uma sentença específica, ou a anulação de outras acusações.
Voltemos, por um momento, aos meios de comunicação social ocidentais. Começarei com John Bussey, no Wall Street Journal que, num breve artigo intitulado, “China”: Bullying to Prosperity”, ganhou um Prémio Nobel devido a uma reportagem desonesta e pouco ética. Resumidamente, foi este o seu artigo:
“Ver a China intimidar as Lojas Wal-Mart esta semana – e ver o Wal-Mart a prostrar-se sob a tareia – é uma lembrança embaraçosa de um facto simples: a China, o grande mercado de maior crescimento do mundo, aproveita-se dos negócios dos EUA. A variedade de barreiras proteccionistas, o fraco Estado de Direito, e o mercado semelhante a uma sereia tornam acontecimentos como este praticamente inevitáveis. Nas lojas da empresa na cidade de Chongqing, a carne de porco não-orgânica foi rotulada como “orgânica”. O erro foi este. De resto, a carne de porco estava em boas condições. Aproveitando-se deste erro numa altura em que a inflação é uma questão quente na China, os funcionários acusaram o Wal-Mart de enganar o público, cobrando preços mais elevados pela carne normal. Multaram a empresa, encerraram todos os 13 estabelecimentos Wal-Mart da cidade e prenderam um certo número de funcionários dessa empresa. As acções foram bem divulgadas nos meios de comunicação social nacionais. Há pouco ou nenhum recurso na China autoritária quando algo deste género acontece a uma empresa americana. Não existem tribunais regulares. Tal como muitas outras empresas americanas que têm infringido os sentimentos nacionalistas da China, o Wal-Mart só podia pedir perdão. Tem quase 350 lojas na China com receitas de 7,5 biliões de dólares. Assim, o Wal-Mart caiu de joelhos“. Terminou com uma afirmação espantosa onde citou inteligentemente um (inexistente) “executivo americano em Pequim que vigia estes assuntos” que supostamente disse que o Wal-Mart tinha feito muito mais do que as empresas chinesas “para garantir a segurança do abastecimento alimentar do [país]”. (2)
Devemos todos ter pena do pobre bebé Wal-Mart, com apenas 7,5 biliões de dólares de receitas na China e sendo obrigado a “ajoelhar-se” porque “não há tribunais regulares” e a China “autoritária” tem “um Estado de Direito incompetente e mal preparado “. A terrível China, sem dúvida.
Mas não foi exactamente assim. Ao longo dos anos a China tinha tido problemas com o Wal-Mart, que infringiu repetidamente todas as leis em vigor. Essas mesmas lojas venderam, durante anos, carne de porco comum rotulada como orgânica, sendo a cada vez apanhadas e multadas com uma quantidade insignificante, 8 vezes só nos 7 meses anteriores. Foi tão mau que, quando os inspectores saíam da loja com os produtos ilegais confiscados, o pessoal do Wal-Mart já estava ocupado a rotular ainda mais carne de porco vulgar como orgânica. Era apenas um jogo em que o preço de retalho era várias vezes mais elevado e os lucros tão elevados que o incómodo dos inspectores era corriqueiro. O que mudou o jogo foi que, desta última vez, os inspectores fizeram uma curva errada ao saírem da loja e encontraram-se numa sala refrigerada com 75.000 quilos de carne de porco vulgar rotulada como orgânica. E assim é que o Wal-Mart “garantia a segurança do abastecimento alimentar da China“. Mas de acordo com Bussey do WSJ, um funcionário subalterno cometeu um pequeno “erro” e rotulou erradamente alguns pacotes de carne, mas o governo chinês mesquinho e autoritário, que não tem tribunais nem um Estado de Direito, fez com que a empresa “ficasse de rastos“.
Posso facultar dúzias de casos muito bem documentados em que as empresas estrangeiras, na sua maioria americanas, cometeram os crimes mais flagrantes na China, mas foram repetidamente avisadas em vez de serem severamente punidas como teriam sido em qualquer país ocidental. Num caso, a Coca-Cola foi forçada a destruir cerca de 100.000 caixas de bebidas engarrafadas devido a um nível de cloro muitíssimo elevado que foi descoberto e que tinha sido adicionado às bebidas para matar um nível igualmente elevado de bactérias fecais. No Ocidente, a licença comercial da empresa teria sido cancelada, especialmente tendo em conta as mentiras que a empresa contou, mesmo indo à televisão nacional para alegar que o seu produto era “perfeitamente seguro” quando, evidentemente, não o era. Também vale a pena notar que das dez maiores fraudes de consumidores empresariais levadas a cabo na China, nos últimos anos, oito delas foram cometidas por empresas americanas como a P&G, OSI, Nike, GSK, KFC. (3) (4)
Num caso semelhante, os meios de comunicação social ocidentais relataram estridentemente, ad nauseum, que “um advogado chinês dos direitos humanos” tinha sido preso deliberadamente pelo “Partido Comunista“, por ser um advogado chinês de direitos humanos. Mais uma vez, a terrivel China. Mas, mais uma vez, não aconteceu exactamente assim.
Era verdade que este advogado tinha, numa ou duas ocasiões, agido em representação de alguém que tinha uma queixa sobre o sistema, sendo a história tecida na imprensa sionista ocidental que ele foi injustamente atirado para a prisão por ousar ajudar a desafiar a “ditadura chinesa autoritária, totalitária e brutal” e, pior ainda, por ousar desafiar a posição instável do Partido Comunista da China, que exterminaria qualquer um para manter o seu “fraco domínio do poder“. Apenas num único artigo entre quase 100 que li sobre este caso em particular na imprensa ocidental, houve mesmo uma sugestão de uma circunstância atenuante. Somente num artigo, é que a última frase fazia uma vaga menção passageira a “um problema fiscal“.
Esse “problema fiscal” era pouca coisa. Na China, existem várias classificações de recibos de compra, das quais apenas uma é utilizável para deduções fiscais de despesas empresariais. Em muitos países ocidentais, mesmo um recibo da caixa registadora é utilizável a este respeito, mas na China temos de ter um recibo oficial contendo um carimbo governamental. Uma vez que estes recibos são equivalentes a um crédito fiscal de 25%, são valiosos e, por vezes, negociados. Se eu tiver recibos oficiais de impostos que a minha empresa não possa utilizar, posso vendê-los a 10% do valor nominal e posso poupar 15% nos impostos sobre o rendimento das empresas. Neste caso, este “advogado de direitos humanos” e quatro dos seus amigos, todos advogados, tinham gerido um negócio onde imprimiram recibos de impostos falsos e venderam-nos a empresas insuspeitas, no total de mais de 300 milhões de dólares. Todos esses cinco advogados foram detidos e atirados para a prisão mas, de acordo com os meios de comunicação sionistas, este advogado principal (apenas) foi preso não pelos tribunais, mas pelo “Partido Comunista“, e não por uma fraude de contrafacção em massa, mas por defender os pobres e indefesos que foram vitimados pelos comunistas depravados. Quando os ocidentais têm uma dieta de artigos diários como este, que lhes são apresentados pelos seus meios de comunicação mais fiáveis, como é possível que alguém compreenda com precisão alguma coisa sobre a China?
A China é conhecida pelas suas baixas taxas de criminalidade. Cidades como Shanghai e Pequim, tal como Tóquio e Singapura, lideram o mundo em quase todos os aspectos da segurança pessoal. Viajei por quase todas as partes deste país, desde as maiores cidades às zonas rurais, de dia e na noite mais escura, sozinho e com companheiros e em 15 anos posso dizer honestamente que nunca tive a menor preocupação com a minha segurança pessoal e, de facto, esse pensamento nunca me passou pela cabeça.
Neste contexto de ausência de crime, a China ultrapassou o uso de cheques e cartões, favorecendo um sistema universal de pagamento por telemóvel, mas continua a ser, de certa forma, uma sociedade de dinheiro, que para grande surpresa nossa, ainda utiliza notas para pagamento de grandes transacções. Em qualquer cidade da China, vemos diariamente pessoas na fila de espera de uma caixa multibanco, à espera, pacientemente, enquanto uma pessoa deposita enormes maços de notas na máquina, 10.000 RMB de cada vez, a pilha de dinheiro, muitas vezes excedendo talvez 50.000 dólares. É uma situação tão comum que é completamente ignorada por todos. Nos meus 15 anos na China, nunca ouvi falar de alguém ser assaltado numa caixa multibanco.
Os governos urbanos na China expropriam terrenos frequentemente, para o reordenamento desses mesmos terrenos no centro da cidade contendo habitações antigas e degradadas, levando os meios de comunicação ocidentais a decretar a “deslocação brutal e autoritária” de cidadãos, mas, mais uma vez, não é exactamente assim que realmente acontece. Estas casas antigas não são edifícios históricos, mas são na sua maioria casebres de uma só divisão, miseráveis e empobrecidos, que partilham uma cozinha e casa de banho comuns, onde as janelas e as portas deixam entrar o vento e a chuva, e não têm aquecimento nem ar condicionado. Os governos locais mudam toda uma pequena comunidade urbana para um subúrbio onde construíram edifícios de apartamentos novos e encantadores, que são entregues ao povo gratuitamente. As novas casas são apartamentos de um ou dois quartos, construídos segundo um bom padrão de qualidade, com casas de banho e cozinhas reais, muito mais agradáveis do que estes cidadãos deslocados alguma vez poderiam ter esperado. Qualquer pessoa que não queira mudar-se, receberá uma soma em dinheiro pela sua casa antiga mas, uma vez que a habitação urbana é muito cara, a opção universal é aceitar a nova casa. De forma semelhante, o governo nacional chinês construiu recentemente mais de 60.000 novas casas no Tibete, dadas gratuitamente às pessoas, para as retirar da pobreza, reuni-las em comunidades reais, e ajudar a proteger o ambiente. Os meios de comunicação social ocidentais recusaram-se unanimemente a relatar este facto.
Além do mais, no que diz respeito à habitação, os governos nacionais e municipais da China tomam medidas para moderar os preços das casas com base no princípio comunista ditatorial de que as casas são locais para viver, e não “bens para especulação e exploração“. Nos grandes centros, as casas são bastante caras e muito menos nos subúrbios e nas cidades de segundo e terceiro nível, mas mesmo assim, cerca de 90% de todos os chineses possuem casa própria e cerca de 80% destas estão totalmente pagas. As hipotecas bancárias são pouco comuns na China, embora estejam a crescer em certa medida. Os chineses não gostam da “sensação” de estar endividados e está contida no ADN chinês uma elevada taxa de poupança, o que leva a que as hipotecas de habitação sejam tipicamente de 40% a 50%, sendo o saldo emprestado à família alargada e reembolsado sem juros ao longo do tempo. A China é o único país que conheço onde um jovem casal pode facilmente pedir dinheiro emprestado para a compra de uma casa a tias, tios, primos, avós, e pagar em dinheiro pela sua primeira casa, e os casais de baixos rendimentos são muitas vezes capazes de comprar ao governo casas subsidiadas abaixo do custo ou, surpreendentemente, a muitas empresas estatais que constroem casas de baixo custo a partir dos seus lucros excedentes. É o socialismo na sua melhor forma.
Sobre esta mesma nota, escrevi no meu artigo sobre o Socialismo que em Xi’An existe uma escola com um dos melhores campus do mundo, hectares de relva verde, uma piscina de tamanho olímpico, jardins de flores, condomínios encantadores e residências para o corpo docente e para os estudantes. A escola foi construída com lucros excedentes de uma empresa estatal local de tabaco que queria dar algo à comunidade. A empresa não só construiu a escola como paga os custos anuais de funcionamento.
Além disso, com a habitação (e outras compras importantes), os chineses não gostam da sensação de comprar nada que seja usado, isto aplica-se a casas, automóveis, electrodomésticos importantes. Se os chineses comprarem um carro usado, será um primeiro carro e no máximo de um ou dois anos de idade, desaparecendo os restantes nas zonas rurais como transporte temporário mas acessível. Se um chinês compra uma casa usada, o seu primeiro passo é desfazer completamente o interior, retirando toda a habitação até ao betão, e reconstruindo toda a casa para a tornar “nova” e esta renovação é considerada simplesmente como parte do custo da compra.
Voltemos, por um momento, às contas de serviços públicos não pagos. No Ocidente, as empresas de serviços públicos normalmente cortam a electricidade ou o gás imediatamente na data de vencimento, depois cobram ao proprietário uma taxa substancial de ligação, uma penalização financeira, e juros extra sobre o montante devido. Esta atitude dura deriva surpreendentemente do cristianismo distorcido do Ocidente, onde, segundo os banqueiros, cometeu um pecado – uma ofensa contra Deus – ao não pagar a sua conta a tempo e, portanto, “merece” ser punido. A empresa de serviços públicos não corta a tua electricidade porque precisa do dinheiro, mas porque te quer punir, para te fazer sofrer pela tua transgressão contra o deus dinheiro. Os chineses, não tendo sido terminantemente infectados por esta versão sacrílega da religião, não podem compreender a existência de tal atitude. O Ocidente, na sua ânsia de destruir a China, não pode por sua vez sondar o conceito de que a “liberdade de religião” inclui inerentemente a possibilidade de liberdade da religião. Mas os chineses têm, de facto, o que poderíamos chamar uma religião (para além do budismo), uma religião que deriva de Confúcio, e ensina mansidão, perdão, e compreensão. Confúcio ensinou somente reforma e educação, nunca castigo, pelo menos não num contexto civil. Isto leva-nos à surpreendente mas inevitável conclusão de que os chineses são muito melhores cristãos do que os próprios cristãos.
Esta é uma das razões pelas quais a China, com mais pessoas do que os EUA e a Europa juntos, tem apenas 1 milésimo de advogados. A maneira chinesa é resolver as disputas através da discussão e da negociação, nunca pela força. É tão verdadeiro que em muitas esquadras de polícia na China, a primeira sala que se vê quando se entra pela porta é uma ‘sala de negociação’ ou uma ‘sala de resolução de disputas’. A polícia moderará muitas formas de disputas que podem potencialmente ser resolvidas sem a apresentação de acusações criminais ou processos civis. A maneira americana, e de facto a maneira do homem branco é chamar a polícia e contratar um advogado, razão pela qual os americanos gastam todos os anos mais em advogados do que na compra de automóveis novos. A maneira chinesa é a melhor.
Este lugar é provavelmente o mais apropriado para assinalar que, para além das normais disputas fronteiriças entre nações vizinhas, todas as guerras mundiais foram iniciadas pelos cristãos e pelos judeus, seguindo os passos do seu Deus, cujo mandamento principal era “Não matarás”. Caso não se saiba, a China nunca iniciou uma guerra com ninguém, e a última batalha do país foi uma pequena escaramuça fronteiriça há cerca de 50 anos, que foi iniciada pela Índia e não pela China.
Um indício da natureza inerente socialista e humanitária do povo chinês é a sua atitude perante a inovação e a PI(Propriedade Intelectual), um poderoso ponto de discussão entre a China e o Ocidente capitalista. No Ocidente, em anos passados, as patentes foram concedidas por um período de somente três anos, tempo suficiente para um inventor produzir ou vender a sua invenção, e isto apenas para criações consideradas socialmente úteis. Não havia protecção de patentes para os peitos de plástico da Barbie ou para o ridículo “rectângulo com cantos arredondados” da Apple.
Podemos pensar desta maneira: se me contar uma história divertida e se eu a repetir a outra pessoa, não se ofende se eu não o creditar como sendo o “dono” da piada e, de facto, está satisfeito pelo meu apreço ter sido suficiente para a relacionar com o futuro. Essencialmente, esta é a posição chinesa sobre a inovação. Não se ofendem por terem gostado tanto de uma criação que a copiaram e melhoraram e, na vida real, este fluxo de actividade de toda a nação que rodeia uma nova invenção produz verdadeira criatividade e desenvolvimento. A maior parte das invenções é primitiva no início, exigindo muitas modificações e alterações para resultar na sua forma perfeita final. Na ausência de obstáculos concebidos à inovação e à concorrência pelas leis de Propriedade Intelectual do Ocidente, a maneira natural chinesa é permitir que uma nova invenção se espalhe entre a população nacional onde potencialmente milhões de pessoas contribuirão para a sua modificação e desenvolvimento, resultando não só numa evolução espantosamente rápida de um produto novo, mas também na sua capacidade de beneficiar toda a população, em vez de ser ciosamente restringida ao benefício egoísta de uma pessoa. Esta é a razão pela qual as leis de PI da China são muito menos agressivas do que as do Ocidente, especialmente as dos EUA. A preocupação natural, inata e profundamente enraizada dos chineses é o benefício da nação, de todas as pessoas e preocupa-me que a China esteja a ser corrompida pela ganância viciosa inerente ao capitalismo ocidental, evidenciada pelo “endurecimento” do país sobre a sua legislação da Propriedade Intelectual.
Há um outro assunto digno de nota, o do ritmo de mudança na China. Os países ocidentais precisaram da melhor parte de 100 anos para se industrializarem e passarem de sociedades agrárias para o desenvolvimento urbano, enquanto que a China conseguiu isso em talvez 30 anos, numa geração. Hoje, quando os jovens se casam na China, querem ter uma casa nova, um carro novo e umas férias no estrangeiro. Quando os seus pais se casaram, queriam uma bicicleta, um rádio, e uma máquina de costura. Falei com muitos chineses nos seus primeiros 30 anos, que me disseram que quando se formaram na universidade, há apenas dez anos, não podiam imaginar possuir uma nova casa e ter um carro e tirar férias europeias apenas em dez anos. Uma mudança tão grande infligida a uma sociedade com tanta rapidez, cria naturalmente muitas tensões e é grande mérito do governo nacional chinês e da extraordinária qualidade dos seus líderes que estas tensões tenham sido geridas, mantendo ao mesmo tempo uma poderosa coerência na sociedade chinesa, sendo as excepções, na sua maioria, menos evidentes.
Este facto é tão verdadeiro que, continuamente e em todas as sondagens, pelo menos 85% e muitas vezes 95% da população exprime grande confiança no seu governo e apoia as suas acções. (5) O NYT publicou um editorial recente que os deve ter sufocado pelo que estava escrito, mas admitiu com relutância, que os chineses apoiam abertamente o seu sistema de governo, que lhes parece estar a funcionar muito bem. Num artigo da revista The Economist, o escritor, profundamente chocado, lamentou o facto de “uma percentagem desconcertantemente elevada da população da China parecer estar muito feliz com o seu governo“. Há alguns anos, os americanos, incrédulos com estas estatísticas, tentaram conduzir o povo chinês a uma “revolução Jasmim“, inundando os meios de comunicação social chineses com um apelo à congregação em Wangfujing, no centro de Pequim, para protestar contra o seu “governo totalitário brutal”. Infelizmente para os americanos, os chineses não tinham esse interesse e ninguém apareceu para protestar. O único participante foi o Embaixador dos EUA, Jon Huntsman, que veio ver os resultados (inexistentes) do seu trabalho e que foi reconhecido e tão ridicularizado pelos clientes presentes que pôs o rabo entre as pernas e correu a esconder-se. (6)
No entanto, devido à rapidez das mudanças sociais, é possível hoje em dia, na China, ver restos da geração anterior incongruentemente misturados com os da nova era. O que isto significa é que a imagem da China pode ser muito colorida devido ao foco da sua atenção. O governo nacional tirou, de facto, 800 milhões de pessoas da pobreza num espaço de tempo muito curto, mas ainda podemos encontrar bolsas de pobreza simplesmente porque não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Assim, numa estação ferroviária algures, podemos ver, lado a lado, os comboios de alta velocidade mais elegantes e rápidos da quinta geração de 350 km/h. ao lado de um comboio de 50 km/h. de primeira geração. Quando coexistem simultaneamente gerações totalmente diferentes, podemos olhar para qualquer sector e encontrar provas para confirmar qualquer ponto que queiramos comprovar. Aqueles que querem denegrir a China escolherão simplesmente um ponto de atenção que coloque o país num ângulo desfavorável e apresentam-no como sendo a condição básica de todo o país.
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A obra completa do Snr. Romanoff está traduzida em 32 idiomas e postada em mais de 150 sites de notícias e de política de origem estrangeira, em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas em inglês. Larry Romanoff, consultor administrativo e empresário aposentado, exerceu cargos executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi detentor de uma empresa internacional de importação e exportação. Exerceu o cargo de Professor Visitante da Universidade Fudan de Shanghai, ministrando casos de estudo sobre assuntos internacionais a turmas avançadas de EMBA. O Snr. Romanoff reside em Shanghai e, de momento, está a escrever uma série de dez livros relacionados com a China e com o Ocidente. Contribuiu para a nova antologia de Cynthia McKinney, ‘When China Sneezes’ com o segundo capítulo, “Lidar com Demónios”.
O seu arquivo completo pode ser consultado em https://www.moonofshanghai.com/ e http://www.bluemoonofshanghai.com/
Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com
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Notas
(2) John Bussey | The Wall Street Journal
(3) China scandal costs OSI Group hundreds of millions
(4) Drug Giant Faced a Reckoning as China Took Aim at Bribery
(5) http://www.unz.com/article/should-we-compete-with-china-can-we/
(6) China’s jasmine revolution: police but no protesters
Tradução exclusiva para PRAVDA PT
Copyright © Larry Romanoff, Moon of Shanghai, Blue Moon of Shanghai, 2021
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gail.com
Websites: Moon of Shanghai + Blue Moon of Shanghai
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