DesInfo nuclear

Maria Zakharova – Moscou – 28 de abril de 2022

Mecanismos de ataques de informação com uma nova tese que visam o espaço público foram lançados no Ocidente ao mais alto nível de forma transfronteiriça e trans-formatada. A tese é primitiva e completamente terrível: os russos estão ameaçando uma guerra nuclear, e os russos estão agitando o bastão nuclear.

Preciso mesmo dizer que esta tese é absolutamente incorreta e falsa? Aparentemente, eu preciso.

Eles estão defendendo essa exata tese porque ela joga com os medos humanos básicos. A experiência da geração mais velha, que ao longo da segunda metade do século 20 estava se preparando para a Terceira Guerra Mundial contra o comunismo global, e a juventude ocidental, para a qual seus respectivos governos criaram um novo mecanismo chamado “cancelamento de cultura” (cancelando tudo russo desta vez). Além disso, o Ocidente absolutamente não se importa com o que Moscou diz, e o significado das palavras é distorcido e pervertido externamente.

Vamos considerar as especificidades.

Dois dias atrás, em sua resposta a uma pergunta de Dimitri Simes durante uma entrevista, Sergey Lavrov afirmou, literalmente, o seguinte:

“Por muitos anos, desde a presidência de Donald Trump, pedimos que Moscou e Washington reafirmassem ao mais alto nível a declaração de 1987 por Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan, que afirma que uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada. Tentamos convencer a equipe de Donald Trump a reiterar essa afirmação, considerando sua importância para nossas nações e para o mundo inteiro. Infelizmente, não conseguimos persuadir nossos colegas de que esse passo era necessário. No entanto, chegamos rapidamente a um consenso com o governo Joe Biden, e nossos presidentes emitiram a declaração em junho de 2021, durante uma cúpula em Genebra. Em janeiro de 2022, cumprimos mais uma iniciativa nesse sentido. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU adotaram uma declaração na mesma linha, que deveria coincidir com a abertura da Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Todos os cinco líderes colocaram suas assinaturas sob a declaração de que uma guerra nuclear nunca deve acontecer. Este é o nosso posicionamento de princípio e estamos comprometidos com ele. Os riscos são bastante altos hoje. Eu não gostaria de vê-los fora de proporção, mas muitos adorariam fazê-lo. Essa ameaça é séria e real.”

Quais são as lições?

1. Foi a Rússia que, com grande dificuldade, convenceu os Estados Unidos durante longas conversações a reafirmar a fórmula Gorbachev-Reagan de que uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada.
2. Foi a Rússia que persuadiu o grupo de cinco nações nucleares a adotar uma declaração com o mesmo conteúdo.
3. Existem riscos; eles não devem ser exagerados ou subestimados.

Fizemos todo o possível para evitar uma guerra nuclear, para criar todos os obstáculos necessários para não descambarmos para esse cenário (felizmente, eles se justificaram durante a Guerra Fria e estão se justificando hoje), porque entendemos os riscos e ameaças reais que representam comportamentos irresponsáveis nesta área. Não podemos permitir a simples ideia de uma guerra nuclear.

Atuando nas piores tradições de desinformação, as autoridades ocidentais estão alimentando a mídia, em um esforço coordenado, com fake news sobre as supostas ameaças nucleares [vindas] de Moscou. Os ministérios das Relações Exteriores dos países da OTAN começaram a convencer as pessoas em seus países de que os russos estavam “balançando suas armas”.

Primeiro, a mídia emboscou o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na Alemanha, e depois o citou dizendo que “os russos estão nos ameaçando com uma bomba”. Então, o diretor da CIA William Burns falou sobre o mesmo assunto em Atlanta. Ao mesmo tempo, aposentados, incluindo o ex-secretário de Energia dos EUA, Ernest Moniz, foram retirados da naftalina para continuar a inundar o discurso com a “ameaça atômica russa”.

Tudo isso foi um aquecimento para o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, se referir às palavras do ministro russo com “estrondo” e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, postular uma “potencial escalada nuclear” durante um briefing.

Observe como isso foi desastroso em termos de trabalho de mídia. Primeiro, todas as citações contra nosso país foram repetidas pelo jornalista, e depois foram novamente mencionadas por Ned Price. Uma apresentação pensada para um público não muito sofisticado. Ninguém sequer prestou atenção ao que o ministro das Relações Exteriores disse sobre os riscos e as tentativas da Rússia de evitar o impensável.

É inadmissível para nós, mas, pensando em Hiroshima e Nagasaki, é, infelizmente, possível para nossos colegas de além-mar.

No dia seguinte, a mídia começou uma lavagem cerebral em massa. Os tabloides britânicos (o Daily Mail e outros) e a imprensa analítica norte-americana de alta qualidade, a televisão francesa e os tabloides alemães começaram a falar a uma só voz que Moscou ameaçava com uma Guerra Nuclear a Terceira Guerra Mundial. E isso já estava sendo discutido na Europa; O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que as palavras do ministro das Relações Exteriores da Rússia foram a “retórica da intimidação”.

Eu gostaria de perguntar a este francês se ele pelo menos viu o que Sergey Lavrov disse. Nós traduzimos a entrevista.

Nosso país é contra qualquer guerra nuclear, e foi exatamente isso que disse o ministro russo, e é isso que orienta nossa diplomacia em seu trabalho.

Será que as capitais ocidentais leram as entrevistas apresentadas pela mídia ocidental? Esta é a única coisa que pode justificar suas palavras. Apenas não negligencie as fontes alternativas de informação e ouça o que a Rússia tem a dizer próximo ao texto original, em vez de como interpretado por sua mídia sob as diretrizes da OTAN.

Fonte Primária: Canal Telegram Oficial – em russo – de Maria Zakharova
https://t.me/MariaVladimirovnaZakharova/2503

Fonte Secundária: Canal Telegram Oficial – em inglês – do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa: https://t.me/MFARussia/12423