Mini SITREP – Paquistão

Joaquim Alves – 28 de maio de 2022

“Você mexeu com a geração errada”

“Neste tipo de colonialismo, o poder colonizador usa líderes locais egoístas e traidores da nação para sacrificar os interesses nacionais em prol da auto promoção. O colonizador não precisa gastar seus recursos para lançar uma invasão formal para ocupar um país. Políticos corruptos locais prostituem o interesse nacional para fazer a vontade do colonizador”.

Abdul Jabbar

Caros leitores da Comunidad Saker Latinoamerica, seguimos com mais um Mini Sitrep para acompanhar o desenvolvimento da crise política no Paquistão.

Neste Sitrep, tentando elucidar a conjuntura que antecedeu o lawfare do governo Khan, ligando aspectos da geopolítica e da geoeconomia paquistanesa. Julgamos necessário, nesse momento da situação política do país, contextualizar os acontecimentos de forma mais aprofundada para ligá-los com o ocorrido na Longa Marcha Para Islamabad, decorrida na última quarta-feira.

O relato tem uma breve recuperação dos principais eventos que antecederam o lawfare; uma breve descrição do ocorrido na Longa Marcha para Islamabad; uma análise de conjuntura destacando a atuação internacional do governo Khan seguido de algumas conclusões em torno da problematização de como esse apoio popular foi constituído para o tensionamento político existente.

Antecedentes do lawfare

O ponto de partida da saga que vem acontecendo no Paquistão ocorreu, como registrado no primeiro Mini SITREP, com a deposição de Imran Khan do cargo de Primeiro Ministro no dia 09 de abril deste ano. Esse processo foi resultado da intensificação da ofensiva da oposição iniciada em janeiro do mesmo ano, com negociações parlamentares para a obtenção de cadeiras necessárias para derrubar o governo.

Instantâneo reportando as principais lideranças da Partido Popular do Paquistão (PPP) e a Liga Muçulmana do Paquistão (PLM-N). Tenham em mente o tema da denúncia, a ‘bomba de petróleo’, pois voltaremos a esse ponto.

No mês de fevereiro, Imran Khan havia tecido uma agenda internacional visitando Rússia e China, para acordos em torno de compras de trigo e de Gás Natural Liquefeito (GNL) com um desconto de 20% e 30% respectivamente, e para a realização de uma declaração conjunta em torno do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC).

Em março, a polarização aumentou, com o registro da moção de desconfiança no congresso por Shehbaz Sharif. Esse foi o ponto de partida para o enfraquecimento do governo de Khan. Em um período de poucos dias, o apoio ao governo derreteu, cuja perda de maioria ocorreu em 30 de março, a partir da perda do partido Muttahida Qaumi Movement (MQM) para a oposição. Khan realizou comícios e pronunciamentos denunciando a interferência estrangeira na tentativa de derrubá-lo do governo.

A 37a reunião do Conselho de Segurança Nacional do Paquistão ocorreu em 31 de março e foi presidida por Khan. Houve a formalização da denúncia sobre a flagrante ingerência estrangeira sobre chantagem estadunidense em ‘perdoar’ o Paquistão com a deposição de Imran Khan. Uma notificação foi enviada ao Departamento de Estado dos Estados Unidos. Os representantes do governo estadunidense não negaram as reuniões ou mesmo o recebimento da notificação do governo paquistanês.

Interpreting the US-backed regime change operation in Pakistan

Khan tentou reverter a ofensiva parlamentar da oposição no início de abril solicitando ao Presidente Arif Alvi a dissolver a Assembleia Nacional e organizar novas eleições. Alvi dissolveu o parlamento em 03 de abril e chamou novas eleições 90 dias a partir da decisão. Houve uma reação instantânea da Suprema Corte do Paquistão, revertendo a decisão 4 dias depois. Khan é deposto em 09 de abril e Shehbaz Sharif assume como Primeiro Ministro no dia posterior. A linha do tempo com maiores detalhes pode ser vista neste Mini SITREP.

Desde então, Imran Khan e o seu partido, Pakistan Thereek-e-Insaf (Movimento Paquistanês pela Justiça), fundado em 1996, iniciaram uma série de comícios (jalsas em urdu), para forçar o governo a organizar eleições antecipadas como resposta à deposição do seu cargo de Primeiro Ministro a partir de uma intervenção estrangeira.

Durante esse período ocorreram nada menos que dezesseis grandes comícios em diferentes cidades, onde Imran Khan fez discursos ao público. Em paralelo, ocorriam dezenas de comícios menores e reuniões entre diversas entidades em apoio às reivindicações por eleições na via de demonstração de força nas ruas.

O PTI é um partido com um grau de organização, capilarizado junto a população em várias regiões do país e com método de agitação popular que atinge diversos pontos do país. Outro destaque para essas mobilizações é a ampla participação das famílias que, ao que tudo indica, são de diferentes etnias do Paquistão. As marchas são organizadas de forma a manter o caráter pacífico.

Longa Marcha para Islamabad

A Longa Marcha foi organizada a partir de vários pontos do país pelas lideranças do PTI em direção à Islamabad. Imran Khan mobilizou um grande comício que partiu de Peshawar.

Até a Longa Marcha para Islamabad não havia tido nenhum evento de violência, mesmo em comícios lotados. O clima sempre havia sido de cordialidade e de uma ampla parcela de pessoas simples participando do evento em família, com um grande número de crianças e jovens participando também.

Como já havíamos descrito no Mini SITREP anterior, o governo Sharif aumentou a tensão perseguindo militantes do PTI, chegando a prender algumas lideranças e invadir a casa de simpatizantes e apoiadores.

Na madrugada anterior à Longa Marcha, o governo criou bloqueios em pontes de vários pontos e colocou forças policias junto à militância do PLM-N armada com paus para barrar os manifestantes. Vamos ver algumas imagens abaixo do ocorrido.

Aqui temos os militantes e apoiadores tirando container e liberando bloqueios.

Várias situações de violência e repressão foram registradas em inúmeros pontos do país. Houve tentativas de impedimento de comícios locais.

Apoiador do Khan sendo agredido e seu carro destruído.

O mesmo ocorreu com lideranças do PTI, a exemplo da Dra. Yasmin Rashid.

Polícia destruindo motos de apoiadores de Khan.

Porém, mesmo com a inédita repressão do governo desde o início dos comícios, o povo não parou e continuou seguindo rumo à Islamabad. Houve situações muito inusitadas, como o fato de depois de horas de confronto com a população a forças policiais desistindo da repressão e permitindo a população passar. Em outras, onde a situação de repressão se extremou foi no centro de Islamabad, com as forças policiais despejando uma grande quantidade de bomba de gás lacrimogênio.

Dra. Yasmin Rashid liderando comício após o dia inteiro de perseguição e ataques da polícia e de tropas da PLM-N que destruíram seu carro.

Khan saiu de Peshawar rumo à Islamabad, juntando milhares de pessoas no trajeto.

A Longa Marcha avançou madrugada adentro e junto com ela a repressão aumentou. O Ministro do Interior, Rana Sanaulah, anunciou destacamento do Exército para controlar a área de D-Chowk na intenção de criar uma zona vermelha em torno dos prédios da administração pública de Islamabad. Foi criada uma tensão intergovernamental entre o Ministério do Interior e a Suprema Corte, instalada em torno da liberação dos presos e da investigação das denúncias em torno de medidas repressivas a cidadãos desarmados.

Aqui temos um resumo da repressão da madrugada.

Ao amanhecer do dia 26, Imran Khan fez um discurso, declarando que daria seis dias para que o governo instalasse o processo de novas eleições. Caso não ocorra, ele faria outra marcha ainda maior para continuar pressionando o governo.

No calor das declarações de Khan a população se dividiu, com muitos comentários pró e contra a decisão feita no comício. Decerto, havia uma boa dose de raiva por parte da população, dada à tamanha repressão anterior, o que resultou em cinco pessoas mortas e mais de mil pessoas presas pelo governo.

Intuitivamente, parte da população queria ir para as vias de fato e tomar o poder. No fórum da Siasat.pk, algumas pessoas comentaram que talvez tenha tido algum acordo de bastidores em torno dessa declaração de Imran Khan.

Dra Yamin Rashid prestando condolência a um apoiador das manifestações do PTI morto durante a Longa Marcha para Islamabad.

Aqui temos Imran Khan participando de um momento de condolências no Distrito de Mardan.

Decerto, havia coerência no seu discurso, já que Khan não pregou uma revolta armada. Uma grande porção de intelectuais, jornalistas, advogados e outras figuras importantes do país saudaram o discurso de Khan, em muito, talvez, por causa do flagrante risco da situação escalar para uma guerra civil.

Ao fim do comício, os populares começaram a fazer a limpeza de diversos locais onde ocorreram os comícios, como podemos ver nos vídeos abaixo.

Agora vamos tentar ampliar o escopo da conjuntura do Paquistão.

Geolítica paquistanesa

No último Mini-SITREP, pontuamos a conjuntura econômica recente do Paquistão, destacando algumas melhorias relativas ao desenvolvimento tecnológico e ao impulso à agenda social. Agora veremos essa situação com olhar histórico mais aprofundado para entender a estrutura da economia paquistanesa a partir da entrada de Khan no poder.

Vejamos o gráfico abaixo.

Fonte: Trading Economics https://pt.tradingeconomics.com/pakistan/gdp

O PIB registrado para o Paquistão em 2020 é de 263 bilhões de dólares, com projeções de crescimento girando em torno de 5 a 6% para os biênios 2020-2021 e 2021-2022.

Contudo, o país possui cerca de 220 milhões de pessoas, o que expressa o nível de pobreza do mesmo quando se olha para o desenvolvimento econômico. O país possui uma economia predominantemente agrária, exportando produtos primários e importando produtos com valores agregados.

Por consequência, o saldo comercial é negativo. O Paquistão tem um histórico de dependência de ajudas externas. As remessas externas compõem cerca de 10% do seu PIB, o que evidencia que boa parte da população não consegue ter emprego no país e tem que sair do mesmo para outros países, notadamente os Reinos da Arábia e dos Emirados Árabes Unidos.

Olhando para o gráfico da evolução do PIB paquistanês, percebemos que logo da entrada do Khan no governo houve uma forte crise econômica. A Rúpia paquistanesa perdeu um terço do seu valor no período, resultando numa queda importante no PIB do país. Sem contar outras tentativas do Khan em reduzir as importações para tentar induzir a industrialização do país, além de manter empréstimos com a Arábia Saudita e o FMI para tentar controlar a situação econômica.

Com o advento da pandemia da Covid-19, a situação política piorou. A oposição sob comando dos clãs Bhutto e Sharif se aproveitaram da crise econômica para impulsionar campanhas contra o governo, chegando a fazer grandes comícios pedindo a deposição de Khan, em 2020.

Essa oposição crescente também foi um reflexo do posicionamento das elites compradoras do Paquistão. Vamos nos atentar a alguns fatos importantes evidenciando como a polarização entre Khan e esses setores ligados ao imperialismo aumentou no decorrer do seu governo.

Desde a sua independência formal, o Paquistão sempre manteve relações diplomáticas próximas com os britânicos e os EUA, cujo interesses em manter a região desestabilizada preponderavam. A situação piorou com a invasão imperialista ao Afeganistão em 2001, situação na qual o Paquistão era usado como proxy para as ofensivas militares, bem como seu território era usado como base para treinamento militar.

Porém, Imran Khan parece sempre ter seguido a linha de construir uma relação soberana e independente com outros países. Logo no início de seu governo, Khan rejeitou a ‘proposta’ de construir uma base militar estadunidense no país. Em sua participação na reunião da Assembleia Geral da ONU de 2019, Imran Khan fez um forte discurso anti-colonialista, fazendo denúncias em relação à sobreexploração dos países do Sul Global, além da necessidade de respeitar a religião muçulmana. Khan aproveitou-se do espaço para lançar, de forma indireta, denúncias relativas ao longo conflito entre os muçulmanos e dos representantes do Hindutva, que é a versão etnonacionalista de ultra direita indiana representada pelo Primeiro Ministro Modi, na região da Caxemira.

Khan participou da vigésima reunião da Organização de Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation Organization – SCO) realizada no Tajiquistão em 19 de setembro de 2021. A reunião da SCO ocorreu em paralelo com o encontro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (Collective Security Treaty Organization – CSTO), coordenada pela Rússia. Essa situação não ocorreu ao acaso. O tema central de ambas reuniões era a tomada do Afeganistão pelo Talibã após a desastrosa expulsão dos EUA do país, cuja conferência conjunta das duas organizações foi feita em 17 de setembro.

Em sua participação na reunião conjunta da SCO/CSTO, Imran Khan fez uma declaração a favor da normalização das relações com o Talibã. Ele fez um breve relato técnico sobre a situação da participação do Paquistão na guerra contra o Talibã, colocando de forma clara o desastre para o próprio país em relação aos milhares de mortos e cerca de 4 milhões de refugiados. E destacou a necessidade de uma cooperação dos países da região para trazer a estabilidade ao Afeganistão. Como demonstra a reportagem abaixo, essas proposições estavam em clara sintonia com o discurso de Putin no evento conjunto.

Outra informação importante que o artigo acima nos fornece é a entrada formal do Irã na SCO, país este que era membro observador do arranjo desde 2005. Essa informação é de grande relevância no contexto geolítico da época para entendermos a atual situação do Paquistão.

Percebemos um claro deslocamento de Imran Khan para uma atuação independente, o que necessariamente seria inclinada a ter boas relações com os países vizinhos, incluindo a Índia. De forma lógica, tal posicionamento o faria a ter inclinação a favorecer relações diplomáticas e comerciais com esses mesmos países, cuja materialização se deu pelo fortalecimento dos acordos em torno das Rotas da Seda.

Mapa simplificado do Belt and Road Iniciative (BRI).

Mapa dos projetos do CPEC.

Para além das rotas de conectividade para promover o desenvolvimento econômico, o Paquistão é alvo de interesses para diversos projetos de construção de gasodutos, passo fundamental para resolver a crônica escassez de energia não somente do Paquistão, mas de outros países da região como a Índia. Em breve citação, o projeto do Gasoduto Turcomenistão–Afeganistão–Paquistão–Índia (TAPI), o Gasoduto Irã-Paquistão-Índia (IPI) e a proposta de construção de um gasoduto ligando Rússia e Paquistão.

Em suma, o Paquistão sob governo de Imran Khan estava sendo direcionado para grandes projetos de integração euroasiática. Esse processo necessariamente entraria em conflito com setores da elite compradora e da relação mais equilibrada com países que historicamente usam o Paquistão para seus benefícios, a exemplo dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.

Um dia após a Longa Marcha para Islamabad, o governo Sharif aumentou o valor do combustível do país em cerca de 30% em resposta ao pedidos do Fundo Monetário Internacional (FMI) como condição para liberar parcelas de empréstimos. Esse processo pegou a população de calças curtas, cuja insatisfação foi aproveitada para a propaganda de agitação antigovernamental do PTI. No mesmo dia, foi anunciado que a Arábia Saudita permitiu o depósito de $3 bilhões para ajudar nas reservas estrangeiras.

O que estamos vendo, na verdade, é a importância central do Paquistão no contexto da recente guerra fria que ficou clara aos olhos do público mundial após o início da ação militar da Rússia na Ucrânia. Por um lado, temos o bloco imperialista e seus países capachos na tentativa de manter o país como um proxy para desestabilização regional, para exportação de mão de obra barata e mantê-lo preso aos laços funestos do FMI.

Do outro lado, um projeto de integração econômica baseada na construção de infraestrutura que pretende tirar os países mais frágeis da dominação destrutiva do imperialismo, dando impulso para o desenvolvimento autônomo e das relações comerciais com posições soberanas. O Paquistão acaba por ser um exemplo transparente, onde, em um momento, o país seguia um rumo firme para relações multipolares. O acordo feito com a Rússia parecia antever a forte crise econômica que se instalaria em 2022. O lawfare contra o seu governo resultou num aumento instantâneo da crise de escassez de energia no país, cujos apagões e intermitência de fornecimento de energia e de água vêm numa crescente.

Conclusões

Voltando ao contexto das mobilizações, há uma clara percepção que Khan e o seu partido conseguiram diminuir as reações negativas decorrentes das declarações do último comício. Eles rapidamente iniciaram uma contínua campanha em torno das novas eleições após o aumento dos preços dos combustíveis, junto com o amplo apoio da classe política e intelectual do país em torno do Imran Khan.

Ambos os lados continuam intransigentes, por um lado o novo governo continua sua ofensiva na tentativa de alinhar o Paquistão aos interesses atlantistas, enquanto Khan chegou ao ponto de recusar qualquer conversa com a elite paquistanesa para tentar apaziguar os ânimos, tendo como único ponto ganhar o embate político para que novas eleições ocorram.

Tal situação é reforçada pela enorme crise que o país vem passando, juntando com a reação popular negativa contra o exército após à repressão da Longa Marcha. O exército paquistanês costuma ser uma instituição muito respeitada entre a sua população. Porém, após a desconfiança da participação ativa da entidade na deposição do Khan, junto com a repressão do último comício, vem surgindo uma crescente raiva da população contra a alta cúpula do exército. A crise dentro das Forças Armadas se agudizou a ponto de veteranos do exército paquistanês participarem da Longa Marcha, reforçando nosso argumento dos SITREPS anteriores que a instituição está rachada, com boa parte da mesma pendendo para o lado de Imran Khan.

https://thecradle.co/Article/analysis/1066

Veteranos participando da Longa Marcha para Islamabad.

O clã Sharif encontra-se totalmente perdido. A janela de oportunidade para se livrarem do Khan passou. Portanto, a perspectiva é que a única forma de superar esse momento é colocar as eleições ou partir para uma ditadura aberta, o que parece estar fora das opções. A verdade é que Nawaz Sharif, fez mais de uma declaração, de Londres, defendendo que as eleições devem ser organizadas e o parlamento dissolvido o quanto antes. A questão é que Washington não permite esse movimento.

A situação está chegando a tal ponto que o governo está propondo vetar o voto de paquistaneses que residem no estrangeiro. Estão ocorrendo processos contra os membros do PTI em Tribunais regionais da Justiça controlados pelo governo.

O novo governo jogou o país à beira do abismo criando um conflito interno para poder ficar ao lado dos EUA, principalmente a partir do conflito da Ucrânia, sendo que quem vai ganhar esse conflito é a Rússia. O clã Sharif deu um tiro no pé. Eles estão perdendo a posição geopolítica e a robustez econômica. O país está se isolando nesse processo, já que poucos governos querem construir relações sólidas com o Paquistão em meio ao caos.

Terminamos esse SITREP com uma provocação. Ao que nos parece, Imran Khan só conseguiu realizar essa ampla polarização a partir da construção de uma aliança intertribal em torno do posicionamento de independência do Paquistão frente às interferências estrangeiras no país. Nossas suspeitas giram em torno da existências de situações semelhantes em diferentes contexto.
Por exemplo, essa estratégia era utilizada pelo General Qasei Soleimani em seu combate ao whahabismo em favor da união de diferentes etnias e tribos dos países afetados pelo imperialismo para combatê-lo. Ademais, tal tema, de importância fundamental para países islâmicos e sociedades tribais, foi teorizada por Muammar Gaddafi em seu Livro Verde, onde o ex-líder da Líbia defendia a união das diferentes tribos em torno da nação como forma natural de evolução social.

Como estamos vendo nos relatos dos SITREPs, em apenas pouco mais de um mês acompanhamos três atentados terroristas no país, especialmente direcionados a profissionais chineses e áreas de construção de infraestrutura controladas por empresas chinesas. O Paquistão tem um longo histórico de conflitos sangrentos entre diferentes etnias e religiões. Ainda assim, nada do tipo ocorreu dentro dos comícios de Imran Khan até o momento.

Será que foi por esses motivos que estamos especulando que não ocorreu nenhum evento de violência nas inúmeras jalsas e reuniões organizadas pelo PTI desde então?

Deixamos essa pergunta aos nossos leitores.

No próximo SITREP continuaremos a acompanhar o desenrolar da crise política paquistanesa e seus desdobramentos.

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