Dmitry Orlov – 05 de outubro de 2022
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Essa frase atualmente rende cerca de 6.590.000 resultados no Google, então deve ser real – ou não é? Não é. Mas, aparentemente, figuras de maior autoridade inventaram uma narrativa em que Putin, desesperado com a perda de Krasny Liman, um entroncamento ferroviário no distrito de Kramatorsk, na República Popular de Donetsk, que faz parte da Federação Russa desde ontem, ficará todo emocionado e atacará o ucranianos usando armas nucleares táticas. Como essa narrativa é falsa, deve haver algo mais acontecendo, como uma bandeira falsa sendo planejada pelos EUA. Vamos destrinchar essa narrativa e ver onde ela leva.
Se você nunca ouviu falar de Krasny Liman, está perdoado por esse pouco de ignorância geográfica. É notável apenas por duas coisas: ser um entroncamento ferroviário e o fato que os russos recentemente decidiram recuar enquanto infligiam perdas horríveis aos ucranianos que atacavam. No que diz respeito às perdas no campo de batalha, a proporção de 10:1 (10 ucranianos mortos para cada russo morto) parece estar mantendo-se estável. Dado que a população da Rússia é 4 vezes maior e que a Rússia fabrica todas as suas próprias armas enquanto a Ucrânia é forçada a contar com a bondade de estranhos, a vitória russa no campo de batalha está totalmente garantida.
Krasny Liman e sua majestosa estação ferroviária serão retomadas no devido tempo, porque está agora em território russo, mas não há motivo para pressa. O que está acontecendo agora em Novorossiya (como a região era chamada quando foi colonizada pelos russos, deslocando remanescentes nômades errantes do império de Genghis Khan) é uma operação antiterrorista, sendo os ucranianos e seus apoiadores ocidentais os terroristas. As tropas russas estão lentamente abrindo caminho para a vitória, definida como a libertação de Novorossiya das forças ucranianas e mercenários estrangeiros, que são, como nenhuma guerra foi oficialmente declarada, combatentes ilegais – ou seja, terroristas.
Caso você queira desafiar essas definições, vamos adicionar alguns fatos legais perfeitamente chatos. Novorossiya (atualmente incluindo Donesk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, e eventualmente incluirá, no mínimo, Nikolaev, Odessa e Dnepropetrovsk) votou recentemente em um referendo sobre a adesão à Federação Russa. Os números foram esmagadoramente favoráveis. Um referendo é um instrumento legal de democracia direta por meio do qual um povo dá a conhecer ao mundo seu desejo soberano, conforme consagrado no artigo 1 da Carta da ONU como: “o princípio da igualdade de direitos e autodeterminação dos povos”. Isso é direito internacional; também há muito disse-me-disse: o regime de Kiev afirma que essas regiões são separatistas; os aspirantes a separatistas afirmam que o próprio regime de Kiev é ilegal.
Você pode se perguntar por que essas legalidades são importantes aqui, já que os projéteis estão explodindo e as pessoas estão morrendo e você se sente compelido a correr com o cabelo em chamas em uma tentativa inútil de fazê-los parar. Bem, boa sorte com isso, mas para os russos as questões de legalidade nas relações internacionais são de suma importância. Cerca de 80% da população mundial que não faz parte do Ocidente coletivo vê a Rússia como um dissuasor valioso contra práticas ocidentais predatórias (com sua “ordem internacional baseada em regras”, que ninguém jamais viu, muito menos ratificou, este compêndio imaginário de regras). A Rússia está ansiosa para se posicionar como um parceiro confiável que atua dentro de uma estrutura legal mutuamente aceitável. O sucesso de organizações internacionais como SCO [Organização para a Cooperação de Xangai – nota do tradutor] e BRICS, às quais muitas nações desejam se unir, atesta a eficácia desta abordagem. Em contraste, os EUA são vistos como uma nação renegada cada vez mais sem rumo e com conflitos internos e a UE como um bando de seus servos irresponsáveis.
Tiradas essas preliminares, vamos agora considerar a natureza da “ameaça nuclear de Putin”. A brilhante ideia de inventar essa falsa narrativa veio do próprio Putin que, durante seu discurso por ocasião da aceitação de Novorossiya na Federação Russa, disse o seguinte:
“Тем, кто позволяет себе такие заявления в отношении России, хочу напомнить, что наша страна также располагает различными средствами поражения, а по отдельным компонентам—и более современными, чем у стран НАТО. И при угрозе территориальной целостности нашей страны, для защиты России и нашего народа мы, безусловно, используем все имеющиеся в нашем распоряжении средства.”
Tradução: “Àqueles que se permitem fazer tais declarações em relação à Rússia, gostaria de lembrar que nosso país também possui várias armas ofensivas, algumas das quais são mais modernas que as dos países da OTAN. E, em caso de ameaças à integridade territorial de nosso país, para a defesa da Rússia e de nosso povo, definitivamente faremos uso de todos os meios de que dispomos.”
Putin não mencionou explicitamente as armas nucleares, embora tenha alertado contra a chantagem nuclear e dito, ameaçadoramente, que “a rosa dos ventos pode apontar em qualquer direção”, implicando que a precipitação nuclear pode se espalhar em qualquer direção. E isso foi o suficiente para colocar a mídia de massa ocidental em alta velocidade, fazendo com que ela hiperventilasse continuamente enquanto vomitava um fluxo interminável de palavreado “ameaça nuclear de Putin”. Mas não é uma ameaça – é uma promessa, e para detalhes deve-se olhar para a Doutrina Nuclear da Rússia, que define as condições exatas sob as quais a dissuasão nuclear da Rússia será empregada: sem primeiro uso e para ser usado apenas em resposta a uma ameaça existencial. O recuo tático temporário de Krasny Liman com sua adorável estação ferroviária não é uma ameaça existencial em qualquer extensão da imaginação; isso, mais a estipulação de “não usar primeiro” na doutrina nuclear da Rússia, garante que a Rússia não usará uma arma nuclear como resposta.
Se for esse o caso, então o que devemos ler na “ameaça nuclear de Putin” além de uma desculpa para hiperventilar e reclamar sobre a Rússia-Rússia-Rússia, para distrair a dívida federal de US $ 31 trilhões dos EUA e outros desastres iminentes? Os EUA exibiram uma propensão pronunciada para bandeiras falsas (11 de setembro, onde 3 arranha-céus – WTC 1, 2 e 7 – se foram, se você for crédulo, derrubados usando 2 Boeings!) e uma propensão igualmente pronunciada para usar explosivos nucleares para fins políticos (Hiroshima, Nagasaki e depois Fukushima, onde uma carga nuclear de profundidade foi usada para desencadear um tsunami que quase desligou a indústria de energia nuclear do Japão), talvez o plano seja combinar os dois, bombardeando Kiev e depois tentando pôr a culpa na Rússia. Dado que os EUA explodiram os oleodutos Nord Stream quase sem qualquer reclamação, por que não continuariam seus ataques terroristas?
Bombardear Kiev [com armas nucleares – nota do tradutor] resolveria vários problemas para os EUA. Primeiro, evitaria a necessidade de continuar apoiando Kiev militar ou financeiramente. Atualmente, não há uma maneira de se disfarçar isso. Dada a derrota inevitável de Kiev, a situação está ficando cada vez mais preocupante. Em segundo lugar, seria um golpe de misericórdia para a experiência fracassada de unidade europeia que é a União Europeia: não só sucumbirá ao colapso econômico causado pela recusa do gás russo, sanções anti-Rússia idiotas e esquemas de energia renovável malucos, mas também terá que lidar com a precipitação nuclear!
Depois disso, não estará em condições de ser um concorrente econômico dos EUA, liberando uma grande parte dos recursos energéticos escassos e cada vez menores. Além disso, culpar a Rússia, como é tradicional, permitirá que os EUA lavem as mãos do terrível fracasso de sua política para a Ucrânia nas últimas três décadas. Finalmente, os EUA poderiam apresentar o cadáver apodrecido de Kiev à Rússia como uma espécie de presente envenenado, esperando que uma Kiev radioativa faça com a Rússia o que uma Chernobyl radioativa fez com a URSS.
O entusiasmo americano por esse empreendimento deve, no entanto, ser temperado pela seguinte constatação: o desenvolvimento do drone nuclear da Rússia, Poseidon, atingiu agora o estágio de entrada em serviço. Tem alcance quase infinito, pode viajar a 100 km/h em profundidades que nenhum outro submarino é capaz e carrega uma carga nuclear grande o suficiente para desencadear um tsunami que varreria toda a costa leste dos EUA, de Cape Cod a Cape Hatteras, do mapa. Os russos até já têm um nome para o novo corpo de água que este tsunami esculpiria: Estreito de Stalin. Ah, e o conceito original pertence a ninguém menos que a um homem de paz consumado, Andrei Sakharov. Se Poseidon não for suficiente para fazer os criadores de bandeiras falsas nucleares dos EUA pensarem novamente, há também o Sarmat, que está se preparando para entrar em serviço. Mas vou guardar essa história para outro dia.
Fonte: https://boosty.to/cluborlov/posts/f6d45f02-60a4-451f-8f9e-ba75b0b5946d?share=post_link
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