Pepe Escobar – [Traduzido e publicado com a permissão do autor ]
O presidente Xi Jinping dizendo ao presidente Putin no final de sua cúpula março passado, em Moscou, que agora estamos enfrentando “grandes mudanças não vistas em um século” se aplica diretamente ao novo espírito que reina em todo o Heartland.
Atente para a cúpula China-Ásia Central na semana passada em Xian, a antiga capital imperial, onde Xi solidificou a expansão da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) da China Ocidental em Xinjiang para seus vizinhos ocidentais e depois até o Irã, Turquia e Europa Oriental.
Xi em Xian enfatizou particularmente os aspectos complementares entre o BRI e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), mostrando mais uma vez que todos os cinco “stões” da Ásia Central, agindo em conjunto, devem contrariar a proverbial interferência externa através de “terrorismo, separatismo e extremismo”.
A mensagem foi dura: estas estratégias guerra híbrida estão todas integradas com a tentativa do Hegemon de continuar promovendo revoluções coloridas em série. Os provedores da “ordem internacional baseada em regras”, sugeriu Xi, não hesitarão em impedir a integração contínua do Heartland.
Os suspeitos de sempre, de fato, já estão circulando que a Ásia Central está caindo em uma armadilha potencial, totalmente capturada por Pequim. No entanto, isso é algo que a “diplomacia multivetorial” do Cazaquistão, cunhada nos anos de Nazarbayev, nunca permitiria.
O que Pequim está desenvolvendo, em vez disso, é uma abordagem integrada por meio de um C+C5 secretariado com nada menos que 19 canais separados de comunicação. O cerne da questão é turbinar a conectividade Heartland por meio do Corredor do Central do BRI.
[The Geographical Pivot of History foi um artigo publicado por Halford John Mackinder em 1904 para a Royal Geographical Society. Neste artigo, Mackinder desenvolveu a Teoria do Heartland e estendeu o campo da análise geopolítica para a esfera global. Para Mackinder, o Heartland se localizaria no centro da Eurásia, estendendo-se do Volga ao Yangtzé e do Himalaia ao Ártico. Tal região foi controlada principalmente pelo Império Russo, posteriormente pela União Soviética – nota do tradutor]
E isso, crucialmente, inclui a transferência de tecnologia. Tal como está, há dezenas de programas de transferência industrial com o Cazaquistão, uma dúzia no Uzbequistão e vários em discussão com o Quirguistão e o Tadjiquistão. Estes programas são exaltados por Pequim como parte das “Rotas da Seda harmoniosas”.
O próprio Xi, como um peregrino pós-moderno, detalhou a conectividade em seu discurso principal em Xian: “A rodovia China-Quirguistão-Uzbequistão que atravessa as montanhas Tian shan, a via expressa China-Tadjiquistão que desafia o Planalto Pamir e o Oleoduto China-Cazaquistão e o Gasoduto China-Ásia Central que atravessam o vasto deserto – eles são a atual Rota da Seda.”
O renascimento do “cinturão” do Heartland
A China de Xi está mais uma vez espelhando as lições da História. O que está acontecendo agora nos traz de volta à primeira metade do primeiro milênio aC, quando o império persa aquemênida se estabeleceu como o maior até hoje, estendendo-se desde a Índia no leste e a Ásia Central no nordeste até a Grécia no oeste e o Egito no sudoeste.
Pela primeira vez na história, territórios que abrangiam a Ásia, a África e a Europa foram reunidos; e isso levou a um boom no comércio, cultura e interações étnicas (o que o BRI define hoje como “trocas de pessoas para pessoas”).
Foi assim que tivemos o primeiro contato do mundo helenístico com a Índia e a Ásia Central – quando eles estabeleceram os primeiros assentamentos gregos na Báctria (no atual Afeganistão).
No final do primeiro milênio aC até o primeiro milênio dC, uma imensa área do Pacífico ao Atlântico – abrangendo o império chinês Han, o reino Kushan, os partos e o império romano, entre outros – formava “um contínuo cinturão de civilizações, Estados e culturas”, como definiu o Prof. Edvard Rtveladze, da Academia de Ciências do Uzbequistão.
Isso, em poucas palavras, está no cerne do conceito chinês de “cinturão” e “rota”: o “cinturão” refere-se ao Heartland, a “rota” refere-se à Rota Marítima da Seda.
Há pouco menos de 2.000 anos, foi a primeira vez na história da humanidade que as fronteiras de vários Estados e reinos foram imediatamente adjacentes umas às outras ao longo de nada menos que 11.400 km, de leste a oeste. Não é à toa que a lendária Rota da Seda Antiga – na verdade um labirinto de estradas –, a primeira via transcontinental, surgiu na época.
Isso foi consequência direta de uma série de turbilhões políticos, econômicos e culturais envolvendo os povos da Eurásia. A história, no século 21 altamente acelerado, está agora refazendo esses passos.
Geografia, afinal, é destino. A Ásia Central foi atravessada por incontáveis migrações de povos do Oriente Médio, indo-europeus, indo-iranianos e turcos; foi o foco de séria interação intercultural (culturas iranianas, indianas, turcas, chinesas e helenísticas); e cruzou praticamente todas as principais religiões (Budismo, Zoroastrismo, Maniqueísmo, Cristianismo, Islamismo).
A Organização dos Estados Turcos, liderada pela Turquia, está até empenhada em reconstruir os tons de identidade turcos do Heartland – um vetor que se desenvolverá em paralelo à influência da China e da Rússia.
Essa parceria da Grande Eurásia
A Rússia está evoluindo em seu próprio caminho. Um debate importante foi realizado em uma sessão recente do Valdai Club sobre a Parceria da Grande Eurásia quando se trata da interação entre a Rússia e o Heartland e os vizinhos China, Índia e Irã.
Moscou considera o conceito de uma Grande Parceria Eurasiana como a estrutura chave para alcançar a tão desejada “coesão política” no espaço pós-soviético – sob o imperativo da indivisibilidade da segurança regional.
Isso significa, mais uma vez, atenção máxima às tentativas em série de provocar revoluções coloridas em todo o Heartland.
Tanto quanto em Pequim, não há ilusões em Moscou de que o Ocidente coletivo não fará prisioneiros ao arregimentar a Ásia Central ao impulso russofóbico. Há mais de um ano, Washington, para todos os efeitos práticos, já aborda o Heartland com ameaças de sanções secundárias e ultimatos grosseiros.
Portanto, a Ásia Central importa apenas em termos da evolução da guerra híbrida – e de outra forma – contra a parceria estratégica Rússia-China. Nenhuma perspectiva fabulosa de comércio e conectividade nas Novas Rotas da Seda; nenhuma Parceria da Grande Eurásia; nenhum acordo de segurança sob o CSTO; nenhum mecanismo de cooperação econômica como a União Econômica da Eurásia (EAEU).
Ou você é um “parceiro” na demência das sanções e/ou uma frente secundária na guerra contra a Rússia, ou haverá um preço a se pagar.
O “preço”, estabelecido pelos proverbiais psicopatas neoconservadores straussianos atualmente encarregados da política externa dos Estados Unidos, é sempre o mesmo: guerra por procuração via terror, a ser fornecida pelo ISIS-Khorasan*, cujas células negras estão prontas para serem despertadas em sertões selecionados do Afeganistão e do vale de Ferghana.
Moscou está muito ciente dos altos riscos. Por exemplo, há um ano e meio praticamente todos os meses uma delegação russa chega ao Tadjiquistão para implementar, na prática, o “pivô para o leste”, desenvolvendo projetos nas áreas de agricultura, saúde, educação, ciência e turismo.
A Ásia Central deve ter um papel de liderança na expansão do BRICS+ – algo apoiado pelos líderes do BRICS, Rússia e China. A ideia de um BRICS + Ásia Central está sendo levada a sério de Tashkent a Almaty.
Isso implicaria estabelecer um continuum estratégico da Rússia e China à Ásia Central, Sul da Ásia, Ásia Ocidental, África e América Latina – abrangendo a logística de comércio de conectividade, energia, produção manufatureira, investimento, avanços tecnológicos e interação cultural.
Pequim e Moscou, cada uma à sua maneira e com as suas próprias formulações, já estão definindo uma estrutura para que este ambicioso projeto geoeconômico seja viável: o Heartland de volta à ação como protagonista na vanguarda da História, assim como aqueles reinos, mercadores e peregrinos de quase 2.000 anos atrás.
*ISIS-Khorasan é uma afiliada do grupo terrorista Daesh (também conhecido como ISIS/ISIL/IS) ativo no sul da Ásia e na Ásia Central, é banido na Rússia e em muitos outros países.
Fonte: https://sputnikglobe.com/20230526/pepe-escobar-eurasian-heartland-rises-to-challenge-the-west-1110600622.html
O seguinte: a edição e tradução do texto, em diversos momentos, me pareceu confusa. Preferi ler em outras páginas em que foi publicado, mesmo tendo que recorrer ao tradutor do Google.
Come sempre fazemos o nosso melhor. Traduzir P.E. não é fácil e tradutores automáticos nao costumam fazer bom trabalho em seus textos.
Poderia por favor nos indicar onde ficou confuso, especificamente?
Oi Brezinski, tudo bem?! Boa tarde!
A pedido do Quantum Bird revisei a tradução parágrafo por parágrafo e substituí apenas 2 palavras, mas nada que comprometesse o entendimento do texto. A tradução, portanto, segue conforme o texto original do Pepe Escobar. Ela está tal como ele o escreveu.
Quando puder, por favor, nos aponte os momentos nos quais ela soou confusa.
E o nosso muito obrigado!
Salsa é troll. Está muito boa a tradução
Grande visão do que está, paulatinamente, colocando a pulga atrás da orelha daquela que estão a perder seus previlegios do mpério prestes a desmoronar…
Deu pra entender perfeitamente o que está rolando na geopolítica internacional da região, obrigado!