Ao assumir a Presidência há pouco mais de um ano, Michel Temer bateu seguidamente na tecla das reformas. Chegou a ponderar que não se importava com a baixa popularidade, desde que conseguisse aprovar a reformulação das leis trabalhista e da Previdência.
Mas a gravação feita pelos donos da JBS, se confirmada, o coloca em uma situação de difícil sustentação.
Uma reportagem do jornal O Globo afirmou que o empresário Joesley Batista – um dos donos da JBS – teria gravado uma conversa em que Temer deu aval para o pagamento de uma mesada ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em troca do silêncio dele, que está preso desde outubro do ano passado em Curitiba. Tudo com aval da Polícia Federal.
Pouco tempo depois da notícia repercutir no Congresso Nacional, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) não se importou com o fato do seu partido compor a base aliada de Temer. O parlamentar veio a público e pediu a renúncia do presidente, sem recorrer a meias palavras. Tudo para impedir, segundo ele, que o país caia “no imponderável”.
“Só resta a renúncia do presidente Temer e mudança na Constituição: É preciso antecipar eleição presidencial”, avaliou o senador.
O tamanho do impacto da notícia também foi sentido na Câmara dos Deputados. Questionado pela reportagem da GloboNews se haveria impacto no andamento das reformas que tramitam no Congresso Nacional, o deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE) disse “não ter condições” das pautas seguirem o andamento normal agora. “Está tudo parado agora”, sentenciou.
O líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jordy (PPS-PA), indicou na noite desta quarta-feira que o partido – que possui dois ministérios no governo Temer – tende a deixar a base aliada, caso confirmada a existência da gravação que comprova o envolvimento do presidente no “cala a boca” financeiro dado a Cunha e ao operador Lúcio Funaro, outro envolvido na Operação Lava Jato.
Com uma popularidade baixíssima, de 4% segundo dados recentes do Ipsos, Temer corre o risco de se ver sem o seu único trunfo nestes 370 dias de governo: o apoio de uma sólida base nas duas Casas do Congresso. Se perder apoio político, a incapacidade de entregar as prometidas reformas irão ressoar junto às forças econômicas e a pressão por uma saída seria apenas uma questão de tempo.
Previsto para ser retomado no dia 6 de junho, o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também pode sofrer o impacto da delação dos donos da JBS. O presidente da República tinha pressa pela conclusão do julgamento, sobretudo por acreditar que teria garantidos cinco votos que o manteriam no Palácio do Planalto. Algo poderá mudar nesta Corte? A conferir.
Durante o seu ano como presidente, Temer procurou minimizar os diversos escândalos envolvendo os seus ministros. Nos bastidores, manobrou a base aliada por meio de emendas para obter vitórias importantes, sobretudo na Câmara. Na noite desta quarta-feira, em Brasília a gravação tinha cheiro de bala de prata. O ferimento, certeiro e mortal.
A eventual confirmação de que tudo o que Joesley Batista disse a respeito do presidente – a ocorrer pelas mãos do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin – pode colocar fim ao último desejo de Temer como político: o de chegar à linha de chegada do seu mandato, em 2018.
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