Maidan na Espanha

por Scott Humor,* The Vineyard of the Saker

 

Os países catalães são Catalunha, Valência, as Ilhas Baleares e partes de Aragão, além do Roussillon na França, o Principado de Andorra na França e as ilhas de Sicília e Sardenha e as gregas Atenas e Neopatria.

 

O chefe de Estado da França – seja rei, imperador ou Macron – é co-príncipe do Principado de Andorra.

Assim sendo, a França pode também perder o controle sobre Andorra, caso os catalães declarem a independência lá.

Segundo os “Pactos de Madrid”, os EUA deram jeito e instalaram bases militares na Espanha e apertaram o cerco sobre o mar Mediterrâneo.

O acordo foi mostrado ao público, pelo regime fascista de Franco como modelo de ajuda militar e econômica mútua entre “duas potências”. Cláusulas secretas reservaram aos EUA a iniciativa unilateral e o uso das instalações. Os EUA mantiveram a coisa sob proteção das leis norte-americanas.

Conforme o plano de 20 anos do Pentágono, discutido aqui, os norte-americanos têm só dez anos para organizar a demolição controlada das sociedades europeias, de modo que soldados dos EUA tenham de ser chamados para restaurar a ordem civil e controlar a agitação social.

Para poder trazer os exércitos jihadistas para dentro da Europa, os EUA querem controle sobre as fronteiras da Espanha que fazem frente para a África do Norte e sobre as Ilhas Baleares.

Assim os EUA adquirem condições para fechar o Mar Mediterrâneo à frota russa em rota do Mar Báltico para sua base na Síria.

Visão geral da presença militar norte-americana aberta e clandestina na Espanha

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Vai-se consolidando a impressão de que o movimento da independência catalã foi organizado e pago pelo mesmo pessoal que organizou e pagou o Maidan na Ucrânia e o movimento da independência dos curdos. Até o hino desses todos é o mesmo.

“Cuando todos estamos juntos somos invencibles”
(“
Разом нас багато, нас не подолати…” [Com a camisa do Chê?! É a CIA. Tá provado! (NTs)]

Greenjolly representou a Ucrânia no Festival Eurovision da Canção em 2005 em Kiev com a canção Razom Nas Bahato[Muitos de nós juntos somos invencíveis. A Revolução começou…]

 

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É visível que ninguém na Catalunha consultou advogado especialista em Direito Internacional, o qual teria explicado as coisas e listado outros que levam a bandeira eterna a favor do “tribalismo ocidental”, feito a Catalunha, os bascos, os escoceses, a ‘Padania’ [o vale do rio Pó, no norte da Itália, também ‘independentista’] e a lista continua.

 

Há cinco anos, Joseph Weiler, editor-chefe do European Journal of International Law [Jornal Europeu de Lei Internacional], escreveu um breve ensaio em que explicou que a independência da Catalunha não é protegida pela lei internacional e por quê.

“A Suprema Corte do Canadá, na cuidadosa e meticulosa decisão sobre o Quebec e cuja argumentação permanece válida até hoje, mostrou claramente que nenhum desses casos goza de algum direito à secessão nos termos da lei internacional, dado que todas essas regiões gozam de liberdades extensivas e coletivas que permitem o pleno exercício da identidade nacional/cultural dentro dos respectivos estados.”

Opinião expressa por Joseph Weiler é hoje ainda mais interessante, porque dentre os vários chapéus que usa inclui-se o de Co-Diretor do Centro Tikvah para Lei e Civilização Judaicas; além de ser Presidente do Instituto em Florença da Universidade Europeia. E é professor de Direito e da cátedra Jean Monnet da União Europeia na Faculdade de Direito da New York University, onde é diretor do Instituto Straus para Lei e Civilização Judaicas. E ainda é editor-chefe de ICON – International Journal of Constitutional Law [Jornal Internacional de Lei Constitucional].

 

O que Joseph Weiler diz é que o governo da Espanha tem de exibir seu lado “fascista” para que a Catalunha tenha alguma base “moral” para exigir e proclamar a própria “independência”.

 

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Sabe-se bem que nenhuma revolução colorida jamais será bem-sucedida sem que o governo central seja cúmplice do movimento e sem ajuda externa.

Não sejamos ingênuos e não nos deixemos comover demais ante as fotos da “brutalidade policial”, a menos que realmente se possa ter certeza de que a foto é autêntica e não é coisa fotografada há um mês na Letônia com atores contratados, como aconteceu com os vídeos dos “Capacetes Brancos” e em muitos outros casos de vídeos falsificados para despertar a compaixão dos públicos audientes.

 

Israel apoia abertamente o referendum dos curdos a favor da independência de todos “os países curdos”. Ao mesmo tempo rejeita qualquer possibilidade de independência para os palestinos.

O presidente catalão @KRLS tuitou: “Hoje cedo telefonei ao presidente @masoud_barzani para parabenizá-lo peloReferendum curdo. Desejamos grande sucesso um ao outro.

 

‘Somos a segunda Israel! ‘ gritam os curdos.

http://www.haaretz.com/middle-east-news/1.814563 …

 

Não. Na verdade os curdos são só petróleo para Israel, terra para Israel e soldados em solo a serviço de Israel e perfeitamente descartáveis.

 

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E mais duas importantes razões que permitem dizer que a Espanha está sob ataque de uma revolução colorida …

 

Primeira razão: Rússia Já Capturou O Mercado Espanhol De Gás, Antes Cativo Dos EUA

 

A Cheniere, empresa norte-americana, não conseguiu cumprir o contrato que tinha com a Espanha. Só conseguiu entregar 300 milhões de metros cúbicos, em vez dos 4,9 bilhões de metros cúbicos ao ano que haviam sido contratados.

“2% de todo o gás consumido na Espanha será russo – noticiou a mídia russa.A empresa espanhola de gás natural Gas Natural Fenosa assinou contrato para gás natural liquefeito em novembro de 2016 no valor de 30 bilhões de euros com a russa Yamal de gás natural liquefeito, que planeja implantar uma usina de liquefação de gás acima do Círculo Ártico, em 2017.As primeiras entregas de gás natural liquefeito russo à Espanha são esperadas para o segundo trimestre de 2018, informou dia 30 de maio a agência Interfax de notícias.Yamal LNG fornecerá ao parceiro espanhol 2,5 milhões de toneladas de gás ao longo de 25 anos. O volume corresponde a cerca de 12% do consumo de gás na Espanha no ano de 2015, noticiou hoje o diário Vedomosti de comércio & business.”

A Catalunha tem seu próprio terminal para gás natural liquefeito, que pertence à empresa Enagás, em Barcelona. E há também a refinaria em Tarragona.

 

O que adiante se lê foi extraído do Plano de Investimento Regional para o Gás do Sul 2011 – 2020

“DE UMA PERSPECTIVA EUROPEIA, criar um novo corredor do sul ao norte desenvolvendo o CORREDOR IBERO-FRANCO, abre uma via para transportar gás da Argélia até a Europa Central atravessando a França, aumentando a diversificação das linhas europeias de suprimento, com redução da dependência da atual fonte e dos riscos associados à segurança do suprimento.”

O gasoduto Midcat Figueras-fronteira da França

Março 2015: de Catalan News: Gás do Norte da África chega à Europa Central pela Catalunha até 2020, para reduzir em 40% a dependência da Rússia

“Será construído um gasoduto estratégico que atravessará os Pirineus Catalães, ligando a Península Ibérica com França e Europa Central. O projeto Midcat visa a reduzir o muito que a Europa depende do gás russo em 40%, diversificando a fonte de suprimento. O gasoduto deve estar operante em 2020.”

Agora, a crise com a Rússia tornou urgentíssima a necessidade de encontrar fornecedores alternativos de gás para a Europa Central.”

 

“São urgentemente necessárias alternativas ao gás russo, não só por causa da crise na Ucrânia: a Espanha está construindo novos gasodutos e tornando a Europa mais independente da Gazprom. Gás natural da Nigéria irá para a Europa.” 2014, deEuropas Abhängigkeit von Gazprom Erdgas aus der Sahara

2/2/2017 – “O gasoduto Midcat conectará Espanha e França, com o objetivo de permitir que o gás da Argélia flua para a Europa.”

 

A segunda das duas razões que permitem dizer que a Espanha está sob ação de uma revolução colorida é que a Espanha tenta ser integrada à Iniciativa Cinturão e Estrada.

Mariano Rajoy: “Espanha pode operar como link entre Ásia e Europa de um lado e África e América Latina de outro.

Ucranização da Espanha

 

A Catalunha quer assumir o mesmo papel que a Ucrânia tentou desempenhar para a Rússia: a mais importante rota de passagem para a União Europeia. Quando Washington invadiu a Ucrânia, os planos eram implantar gasodutos e oleodutos, recolher os impostos e taxas de trânsito e ditar a Rússia e a União Europeia preços e condições de comércio. Para controlar as rodovias e ferrovias de longa extensão da Rússia e da Eurásia até a UE, e da UE para Rússia, China e Eurásia.

 

Ao assumir o controle da Catalunha ‘independente’, Washington e também, provavelmente, Telavive e Bruxelas controlarão não só a Espanha, mas também o comércio e os migrantes do norte da África e rotas de embarque para dentro e para fora do Mar Mediterrâneo.

 

Como estão hoje as coisas, Washington já bloqueou quase completamente o leste da Europa. Com uma revolução colorida na Catalunha, tenta bloquear o sudoeste da Europa.

 

Para eles, isso se chama “assumir o comando de uma posição de bloqueio” 

É o que diz Alex Calvo, sujeito com impecável biografia perfeitamente neoliberal. Alex Calvo é Professor de Relações Internacionais e Direito Internacional e professor convidado na Nagoya University. Especialista em segurança da Ásia e questões de defesa, é pós-graduado pela Escolha de Estudos Orientais e Africanos [School of Oriental and African Studies, SOAS] da Universidade de Londres; atualmente está completando outra pós-graduação, em Estudos da 2ª Guerra Mundial, na University of Birmingham. Foi professor e pesquisador associado na Academia da Organização de Segurança e Cooperação da Europa em Bishkek (Quirguistão).

 

O gasoduto Midcat de gás natural faz lembrar a localização estratégica chave da Catalunha: à Espanha só resta a via da negociação.

– “Graças à geografia, a Espanha precisa da Catalunha mais do que a Catalunha precisa da Espanha.”

“Autoridades e políticos espanhóis insistem que a Catalunha será excluída da União Europeia, esquecendo que eles é que correm esse risco. Basta olhar o mapa para ver que os espanhóis melhor farão se se comportarem e imediatamente reconhecerem a Catalunha. Caso contrário seus caminhões carregados destinados à UE podem começar a sofrer terríveis atrasos, presos em intermináveis inspeções nos postos da fronteira catalã.”

 

Catalunha quer manter os ativos da Espanha, inclusive ativos militares. “Se Madrid persistir em seus propósitos, será deixada para trás presa à sua enorme dívida nacional.”

 

Catalunha quer afastar-se logo dessa dívida, forçando a Espanha a garantir o pagamento, ou a pedir falência.

 

“O assunto aflorou novamente esse mês quando o Parlamento regional da Catalunha aprovou lei pela qual as obrigações econômicas e financeiras da Catalunha recém-independente serão honradas “nos termos já fixados” com a nação da qual se separa, sem oferecer nem garantia nem pagamento integral.”

 

A independência da Catalunha acionará a bomba-relógio da dívida espanhola.

 

A lista de problemas vai longe.

 

No instante em que a Espanha viu um tênue sopro de esperança de futuro melhor com o gás natural russo mais barato e a Iniciativa Um Cinturão Uma Estrada… Washington & Co. decidiu fazer a ‘independência’ da Catalunha e destruiu aquele fiapo de esperança.*****

 

* Scott Humor é Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comunidade “The Vineyard of the Saker” e autor de The enemy of the State.

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