Por Batiushka para o Blog Saker – 28 de maio de 2022
A Religião é a chave da História.
Lord Acton
Civilização
A palavra ‘Civilização’ vem da palavra latina ‘civitas’, ou cidade, e assim ‘civilizado’ significa simplesmente viver em cidades. Esta palavra ‘civitas’ nos dá palavras como pessoa civil [civilian, no original – nota da tradutora], cívico e civil. Civilização significa que as pessoas não vivem mais como caçadores-coletores nômades, mas estão domiciliadas. Embora tenham, portanto, uma agricultura organizada, não dependem de todos que trabalhem na agricultura, pois há excedentes de alimentos, maiores do que o número de seres humanos trabalhando para cultivar alimentos. Isso significa que nem todos têm que viver da terra e muitos podem fazer outras coisas e viver nas cidades. Eles podem viver de excedentes agrícolas, trocados em mercados por outros bens, criados pela tecnologia, como materiais de construção, roupas, calçados e utensílios, tão bem como poder comprar e vender serviços como educação e medicina. Todas as civilizações possuem não apenas comércio, mas também um conjunto de valores sagrados ou espirituais que estão no cerne de qualquer civilização, que se chama Religião. A Religião está no centro da cultura e cria a arquitetura sagrada (zigurates, pirâmides, templos, mosteiros, catedrais, mesquitas…), pintura, escultura, literatura e define os valores morais pelos quais as pessoas vivem.
Historiadores e filósofos da civilização, como Christopher Dawson, Arnold Toynbee ou Samuel Huntingdon, apontaram a particularidade da civilização ocidental. Para citar Christopher Dawson em sua obra “Religion and the Rise of Western Culture”, escrita há quase um século:
“Por que apenas a Europa, entre as civilizações do mundo, tem sido continuamente abalada e transformada por uma energia de inquietação espiritual que se recusa a se contentar com a lei imutável da tradição social que rege as culturas orientais? É porque o ideal religioso não foi o culto da perfeição atemporal e imutável, mas um espírito que se esforça para incorporar-se à humanidade e mudar o mundo.”
Isso significa que, diferentemente da civilização chinesa, indiana, budista, amazônica, cristã ortodoxa, muçulmana ou de qualquer outra, a civilização ocidental é única, pois tem buscado continuamente se espalhar agressivamente de forma missionária, impondo-se, intrometendo-se e assumindo o restante do mundo. Em outras palavras, ela sozinha afirma ser global. Não admira que hoje se chame abertamente de ‘Globalismo’.
Civilização Ocidental
O mundo ocidental há muito se autodenomina “O Mundo Civilizado”, como se dissesse “não há civilização fora da nossa civilização”. É por isso que condena todas as outras civilizações, tanto do presente como do passado, como ‘primitivas’, ‘selvagens’ e ‘bárbaras’ e, portanto, arroga-se o direito de aniquilá-las. É por isso que usa eufemismos para se definir, por exemplo, como ‘a comunidade internacional’, quando na verdade é anti-internacional, impondo uma ideologia de tamanho único a todos e propondo uma ditadura mundial submetida à sua elite. ‘Ocidental’ veio a seus olhos para significar Universal. É por isso que, ironicamente, ele se autodenomina ‘judaico-cristão’. Voltaremos ao uso da palavra ‘cristão’ mais tarde. A afirmação de ser ‘judeu’ (uma religião racial confessada por menos de 0,2% da população mundial, é particularmente curiosa. No entanto, devemos entender que o que significa ‘judeu’ (1) é na verdade sionista, ou seja, universalista. Daqui entendemos o termo descritivo muito preciso para ele de ‘anglo-sionista’, como usado por The Saker. Pois é o mundo anglo-saxão (2) ou anglosfera, iniciado pelo genocida Cromwell (que, a propósito, foi idolatrado pela monetarista Thatcher), financiado por judeus holandeses, e se espalhou para as colônias norte-americanas, que é hoje o centro ideológico do ‘Ocidente’.
A civilização ocidental usa algumas definições muito distorcidas. Por exemplo: “civilizar” significa massacrar os nativos, para então poder vilipendiar seu país. O caso clássico é a América do Norte, mas há dezenas de outros exemplos ao redor do mundo, da Bolívia à Guatemala e do Congo ao Afeganistão; os justificadores das colonizações afirmam, ‘sim, mas nós trouxemos a eles os benefícios da civilização como as ferrovias’. De fato, as ferrovias foram construídas em países como a Índia para que os minerais pudessem ser explorados e as tropas transportadas para reprimir as guerras populares de libertação contra o domínio estrangeiro opressor e explorador; depois temos a promessa de que, em nome da liberdade e da democracia, “devemos bombardeá-los de volta à Idade da Pedra” (atribuída ao general norte-americano Curtis ‘Bombs Away’ LeMay, falando do Vietnã). Quanto ao Hitler vienense, aquele grande propagador da civilização ocidental, ele se opôs ao bolchevismo “judeu e asiático” e assassinou 27 milhões no irreversível Holocausto. Ele nunca soube que a Ásia é a fonte das civilizações e religiões avançadas, incluindo o Cristianismo, que não era europeu, pois Cristo dificilmente era um “ariano” nórdico pálido e loiro.
Guerra Ocidental
A guerra ocidental sempre consistiu em violência altamente organizada, auxiliada pela alta tecnologia mais agressiva. Os avanços na tecnologia militar foram todos iniciados pelo Ocidente. Antigamente eram castelos contra flechas, besta letal contra lanças, canhão contra muros de pedra, mosquete contra arcos, a espingarda Maxim, inventada pelo anglo-americano ‘Sir’ Hiram Maxim (3) contra africanos arremessadores de lanças, então foi o gás venenoso (como usado por Hitler, isto é, Churchill (desculpe o Bushismo, ‘de qualquer maneira’ contra os curdos), depois o Agente Laranja, cluster bombs [gentileza ver o vídeo abaixo – nota da tradutora] e cartuchos com projéteis de urânio contra rifles. Para ilustrar isso, pensemos em como aqueles acostumados à forma como essa tecnologia é explorada criticam a operação especial (não a guerra) na Ucrânia (4). Eles alegam que o progresso da operação russa, realizada por um número relativamente pequeno de forças de libertação de Donetsk e Lugansk e de tropas russas confederadas, é “muito lento”.
Aqui eles não entendem como as forças aliadas/confederadas usam sua tecnologia militar. É bem diferente dos EUA e seus vassalos da Union OTAN. As últimas bombas de tapete, causam ‘danos colaterais’ (o eufemismo da OTAN para o assassinato em massa de vítimas inocentes) e são extremamente destrutivas, como se a guerra fosse todo um show de efeitos especiais, um espetáculo para entretenimento, como nos filmes de Hollywood, a maioria dos quais retratam grande destruição. É por isso que há quase 20 anos o americano Rumsfeld falou da destruição da infraestrutura civil pelos EUA no Iraque como ‘shock and awe’/‘choque e pavor’, que é apenas outro eufemismo – Hitler a teria chamado de ‘Blitzkrieg’. Sim, claro, a civilização russa realiza operações militares ‘lentamente’ (5): não é uma operação de efeitos especiais ao estilo dos EUA, destina-se a evitar baixas civis e militares. Você não pode traduzir ‘dano colateral’ para o russo, você só pode parafraseá-lo.
Religião Ocidental
A Religião Ocidental tem uma história semelhante para contar. Como dissemos, toda civilização tem um conjunto de valores sagrados. A ocidental também e, embora chame sua religião de ‘Cristianismo’, não o é. Por exemplo, insiste em chamar os cruzados e cavaleiros teutônicos de ‘cristãos’. Mas só porque você é um bárbaro sanguinário que comete genocídio com uma cruz em seu uniforme, isso não faz de você um cristão. Assim como os nazistas usavam um cinto com ‘Gott mit uns’ (‘Deus conosco’) estampado nele, isso também não os tornava cristãos. E quando os nazistas colocaram cruzes em seus tanques e bombardeiros, isso também não os tornou cristãos (embora as cruzes tenham levado alguns ingênuos ucranianos ocidentais em 1941). E só porque Deus ‘disse’ a George Bush para invadir o Iraque em 2003, isso não fez dele ou de suas forças cristãos. Francamente, o uso ocidental da palavra cristão é uma blasfêmia para os cristãos ortodoxos e o uso mais preciso de palavras como ‘católico’ e ‘protestante’ é um insulto para aqueles que são dessas religiões.
É notável que quando a colonização ocidental levou seu chamado ‘cristianismo’ para suas colônias, ele não ‘vendeu’ na Ásia, onde eles têm um senso de religião mais sofisticado, seja muçulmano, hindu ou budista. Vendeu, ou melhor, foi forçado goela abaixo na ponta da espada, e apenas em formas específicas, apenas para animistas na América Latina, África e Filipinas. A religião ocidental é um assunto organizado e manipulado pelo Estado, o ‘ópio do povo’ (6), mais exatamente, algo, junto com o futebol, para manter as massas trabalhadoras sob controle. Mesmo nos locais de culto ocidentais, as pessoas entram em fila sob controle e estão sentadas em fileiras cuidadosamente controladas como carneiros. A religião ocidental é uma subversão da fé, pois é manipulada pelos Estados ocidentais para o que eles querem que seja. Por exemplo, a sodomia já foi considerada ultrajante pela religião ocidental; hoje está oficialmente aprovado. Afinal, o Estado assim disse. De fato, hoje a religião ocidental é o secularismo, o sentido do sagrado se foi, e o que quer que a elite politicamente correta tenha decidido é sua religião, independentemente de você ainda acreditar na ‘velha superstição’ de que Deus existe. Em outras palavras, a religião ocidental contemporânea é antirreligiosa.
Anti-Civilização
Isso nos leva a considerar algum tipo de definição da Civilização Ocidental de hoje. Se sua Religião Profana é o Secularismo, uma Antirreligião, então certamente sua Civilização deve ser uma Anti-Civilização? O histórico da ‘Western Civilisation’ tende a confirmar isso. Os eventos atuais na Ucrânia, onde a elite ocidental pretende destruir o maior número possível de ucranianos, tanto soldados quanto civis usados como escudos humanos, estacionando tropas dentro de hospitais e escolas, criando uma enorme crise de refugiados, endividando o país para sempre , possivelmente criando uma fome lá e em outras áreas do mundo, possivelmente provocando violentos motins e revoltas entre os povos empobrecidos da Europa Ocidental e da América do Norte, sugeriria que o quê quer que a Civilização Ocidental tenha sido, não é mais.
Notas:
1. Outro uso indevido ocidental, ou melhor, abuso, é o termo ‘anti-semita’. Não faz sentido, já que os povos árabes, incluindo os palestinos, que são despossuídos e oprimidos no campo de concentração da Faixa de Gaza e em outros lugares, por judeus, são semitas. Antijudaico é o termo correto.
2. Usamos o termo ‘anglo-saxão’ não em seu sentido acadêmico incorreto de inglês antigo/inglês antigo/pré-normando, mas em seu sentido moderno de anglo-americano, como no termo WASP, ‘branco anglo-saxão protestante’.
3. Em 1882, em Viena, um americano havia dito a Maxim: “Se você quer ganhar muito dinheiro, invente algo que permita a esses europeus cortar a garganta uns dos outros com maior facilidade.”
4. O uso da palavra ‘Ucrânia’ pelos Habsburgos do século XIX, que significa simplesmente ‘terras fronteiriças’ em línguas eslavas, ou seja, neste caso, a área nas fronteiras orientais do Império Austro-Húngaro; é absurdo quando usado para áreas distantes daquelas fronteiras.
5. Mesmo assim, em apenas noventa dias, das 24 províncias restantes da Ucrânia (no dia 25, a Crimeia foi devolvida em 2014), cinco das províncias ucranianas mais ricas sob opressão do regime de Kiev foram libertadas. São elas: Donetsk, Lugansk, Kherson, Zaporozhe e Kharkov. Se as forças aliadas desejam tomar todo o leste da Ucrânia/Novorossiya, restam apenas as três províncias de Dnipropetrovsk, Nikolaev e Odessa. Juntas, essas oito províncias densamente povoadas têm cerca de metade da população da Ucrânia, cerca de 20 milhões de pessoas. Dos outros dois terços do país, presumivelmente as nove províncias da Ucrânia Central permanecerão como parte da Ucrânia real, um futuro protetorado russo desmilitarizado, deixando as sete províncias da Ucrânia Ocidental para serem desmilitarizadas e divididas entre a Polônia, que talvez pudesse receber cinco delas, e os outras duas talvez repartidas entre a Hungria, a Romênia e a Eslováquia. Observe:
Não é de admirar que até mesmo o fracassado diplomata Kissinger esteja pedindo que a Ucrânia atenda a pelo menos algumas das demandas da Rússia. Claramente, todas elas terão que ser cumpridas, mas, pelo menos, um aposentado de 98 anos pode mostrar o início do pragmatismo. Ele demonstra que alguns no Ocidente percebem que perderam.
6. Não esqueçamos, porém, o famoso ditado de que o marxismo é ‘o ópio dos intelectuais’.
Hiperlinks inseridos pela tradutora.
Fonte: http://thesaker.is/civilisation-and-anti-civilisation/
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