Dilma: uma mulher de honra confrontando um Senado de canalhas

Acordos de bastidores estão em progresso enquanto você lê este texto. A única certeza é o assassinato dos direitos democráticos e constitucionais.

PEPE ESCOBAR, COUNTERPUNCH

Dilma Rousseff entrou no Senado e calmamente encarou seus acusadores. Ela saiu com sua cabeça erguida depois de exortar os Senadores a votarem com consciência.

A maioria dos políticos presentes provavelmente não tinha a menor ideia do que é consciência; eles não são nada mais do que meninos corruptos. Mas a inconsciência coletiva brasileira – Jung ao resgate – será marcada.

A presidente Dilma Rousseff, em um discurso detalhado ocasionalmente emocional, se defendeu com honra e dignidade de acusações dizendo que ela havia cometido “crime de responsabilidade”. Ela não estava, na realidade, encarando uma fossa política, mas sim um ‘Anjo da História’ tão amado por Walter Benjamin. A história irá julgá-la gentilmente.

Enquanto isso, não está acabado até que um político duvidoso cante. Enquanto escrevo, Rousseff está a caminho para ser expulsa da presidência da 8a maior economia do mundo por um bando de políticos canalhas e covardes. Seu único medo, ela disse, era a “morte da democracia”. O impeachment de Rousseff significa, na prática, que a votação democrática em uma das maiores democracias do mundo será cancelada por um golpe parlamentar controlado por interesses oligárquicos. Não é, e nunca foi, sobre justiça; é sobre política suja e nojenta.

Não há argumento burocrata que seja capaz de provar que a presidente deva ser impichada por causa de gerência de orçamento federal que não foi direcionado um centavo para seu bolso, ou em detrimento do Tesouro – e essa é uma nação supreendentemente infestada de corrupção.

Se tivéssemos que nos embasar em uma formulação única para explicar essa charada para uma audiência global seria assim: o atual golpe midiático corporativo/parlamentar/institucional/dos grandes bancos e dos grandes negócios é a ferramenta usada pelas oligarquias brasileiras para destroçar a distribuição de renda que precedeu, via presidente Lula, a crise global do capitalismo em 2008 provocada pelos EUA.

As presidências de Lula e Dilma adotaram um modelo de “ganho vantajoso” muito chinês. Havia um tipo de pacto não escrito entre classes sociais: os ricos ficavam ainda mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Mas então a crise atingiu o membro do BRICS, Brasil, com uma vingança. Não havia plano B – a parte da exportação de commodities; o boom acabou e os traidores/conspiradores na oposição viram uma abertura para reivindicar o poder nas rédeas da investigação de corrupção altamente seletiva, Lava-jato. E ainda assim, essa sendo a Kafkaland, o impeachment parlamentar contra Dilma é, de fato, uma tática diversa feita para estancar a Lava-jato, de modo que não atingisse os políticos de direita oligárquicos.

Os abutres e seu plano

Emir Sader, um dos principais sociólogos do Brasil, resumiu o que virá pela frente: conflitos políticos e sociais grandes; repressão militar e policial; contratos sociais quebrados; a redução da nação para uma mera vassala dos EUA; um governo não-eleito, ilegítimo sem autonomia, soberania e geopoliticamente marginalizado. Tudo enquanto é ‘liderado’ pelo atual presidente interino, Michel Temer, um covarde corrupto, medíocre que não teve nem a coragem de aparecer na cerimônia de encerramento das Olimpíadas pois sabia que seria vaiado para fora do estádio do Maracanã.

Bem-vindos ao Brasil pós-golpe: terra da crise permanente, de um governo corrupto e ilegítimo, de uma recessão econômica e do desemprego. Como notou Sader, “tudo o que o Brasil construiu de positivo nesse século será jogado fora por um golpe”.

Temer o usurpador não poderia nunca aspirar a uma grandeza Shakesperiana, como uma figura trágica. Ele já foi ligado a quase $3 milhões em propinas. O atual ministro das Relações Exteriores, o desprezível José Serra, um bem da Chevron, foi acusado de receber mais de $6 milhões, incluindo além mar.

Ainda assim, mais acusações sérias teriam tido como alvo partidos políticos de direita – devastação estendida a ao menos metade do Congresso – até que foram magicamente ‘descreditados’ por vazamentos propositais.

Aí está o problema: na armação atual Kafkaniana, somente os ‘vermelhos’ – do PT – podem ser criminalizados. A maioria desse alvoroço irá aparece em ao menos quatro documentários que estão sendo produzidos atualmente sobre a saga.

Imediatamente depois do impeachment de Dilma, o Senado planeja iniciar uma festa fiscal – baseada em aumentos salariais para os ministros do Supremo Tribunal Federal; esses salários regulam a remuneração de todo o serviço público brasileiro. Lembrando que Dilma está sendo acusada de ‘irresponsabilidade fiscal’.

Muitos abutres e canalhas irão dividir os benefícios de uma democracia morta. O que importa é que a principal especuladora do impeachment será a Deusa do Mercado. Isso também inclui grandes negócios, mídia tradicional (um monopólio de cinco famílias). O mandato deles é claro. A presidência é somente um detalhe. O que eles precisam controlar é o ministério das Finanças e o Banco Central.

Suas políticas estão prontas para serem implementadas: destroem o estado de bem-estar social incipiente; mantém as taxas de juros na estratosfera; impõe um “ajustamento fiscal”; e permitem fluxo livre do capital. Coisas assim só acontecem em ditaduras certificadas.

Agora, eles têm o poder, a ideologia neoliberal e todas as alianças políticas necessárias para se darem bem. Adicione a isso uma ofensiva incessante contra o PT como um modo de contra-atacar as acusações contra Temer o Usurpador e seu ministro medíocre, Serra.

Então, o que vem a seguir? O Congresso altamente fragmentado, hiper-conservador irá se proteger de tudo que ameaçar seus privilégios. O Advogado Geral dificilmente terá a temeridade de realmente investigar Temer o Usurpador e outros políticos. Mesmo tendo acusações sérias contra todos, o escudo inviolável jurídico, político, policial e midiático protegendo a galáxia de canalhas é surpreendente. Estamos afundados em um território que protege o crime organizado.

Acordos de bastidores incessantes estão em progresso enquanto você lê este texto. A única certeza à frente é o assassinato dos direitos democráticos e constitucionais e a destruição dos programas sociais.

Como eu já detalhei, o grande plano à frente é vicioso, vindo diretamente do livrinho de desastres do capitalismo; vender as reservas de petróleo do pré-sal aos estrangeiros, de acordo com interesses das corporações dos EUA; vender o desenvolvimento industrial indígena brasileiro por meio de privatizações ferrenhas; abandonar a defesa do know-how da engenharia brasileira; cortar severamente parte da educação, saúde, ciência e tecnologia; ao mesmo tempo, haverá “fexibilização dos direitos dos trabalhadores” , atacando-os em todas as frentes; um ataque regressivo às pensões; e a sabotagem do Mercosul – o mercado comum da América do Sul – ao benefício da subordinação aos interesses dos EUA.

No final, Rousseff irá sair de cabeça erguida. Quanto ao Anjo da História, ele não terá misericórdia com os canalhas.

Créditos da foto: Beto Barata

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