Imagem de capa: A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Maria Zakharova.
Maria Zakharova para a RT – Moscou – 16 de abril de 2022
Pergunta: Ficou conhecido que, durante a operação militar especial na Ucrânia, as tropas russas descobriram novos documentos sobre atividades biológicas militares na Ucrânia. Você pode falar sobre isso com mais detalhes?
Maria Zakharova: Como resultado da Operação Militar Especial na Ucrânia (SMO)[– Special Military Operation, ou operação militar especial – nota da tradutora], as Forças Armadas da Rússia encontraram documentos que lançam alguma luz sobre o programa biomilitar implementado pelo Departamento de Defesa dos EUA na Ucrânia. Os pesquisadores do programa estavam estudando os patógenos mais perigosos – potenciais agentes biológicos para armas biológicas que têm focos naturais na Ucrânia e na Rússia. Eles também estavam pesquisando formas de propagação de epidemias com base nesses agentes. A escala do trabalho torna óbvio que uma parte considerável e, provavelmente, a mais importante das informações sobre o programa militar americano permanece oculta da comunidade internacional.
Falando em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA em 09 de março de 2022, a subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, disse que Washington estava tentando impedir a transferência de alguns materiais de pesquisa de biolaboratórios ucranianos para as forças russas. Durante as coletivas de imprensa nos dias 07, 10, 17, 24 e 31 de março, o chefe das Forças de Defesa de Radiação, Química e Biológica das Forças Armadas Russas, Igor Kirillov, descreveu as atividades biomilitares dos EUA na Ucrânia, com base nas informações obtidas durante a SMO na Ucrânia pelas Forças Armadas da Rússia. Ele também apresentou conclusões com base na análise de especialistas. Os pesquisadores continuam a estudar esses materiais.
Pergunta: O que a Rússia está fazendo para que os Estados Unidos forneçam esclarecimentos sobre sua cooperação biológica militar com a Ucrânia?
Maria Zakharova: A Rússia tornou públicos os fatos que vieram à tona até agora na ONU e em outras organizações internacionais e pediu às autoridades americanas que forneçam explicações detalhadas, mas, previsivelmente, Washington não parece estar pronto para compartilhar com o público qualquer informação significativa sobre seu programa biológico militar na Ucrânia.
Além disso, claramente, a Casa Branca pensa que o ataque é a melhor defesa e lançou mais uma campanha de propaganda centrada na falsa afirmação de que os esforços de nosso país para chamar a atenção da comunidade internacional para as atividades dos biólogos militares dos EUA na Ucrânia não são nada mais do que uma cortina de fumaça, que, segundo eles, Moscou tentará usar para encobrir o uso potencial de armas biológicas ou químicas durante a operação militar especial conduzida pelas Forças Armadas russas.
Essa tentativa grosseira dos EUA de desviar a atenção do público dessa questão perigosamente explosiva dos laboratórios biológicos controlados pelos EUA na Ucrânia e afogá-la nessa “sensação apocalíptica” foi –, à primeira vista, inesperada, – fortemente apoiada pela liderança política alemã. Vários importantes políticos e altos funcionários alemães, incluindo o chanceler federal da Alemanha Olaf Scholz, divulgaram declarações que imitam a narrativa dos EUA na forma de ameaças e advertências justas dirigidas à Rússia. A postura verbal pró-ativa oficial de Berlim continua alinhada com a estratégia que vem demonstrando há muito tempo no contexto da crise da Ucrânia (o que não ajuda a resolvê-la agora e que anteriormente levou o processo de Minsk a um beco sem saída com sua inclinação pró-Kiev deliberada), mas, no entanto, se destaca em seu cinismo flagrante do fluxo geral de retórica anti-Rússia que vem da Alemanha nas últimas semanas.
Em primeiro lugar, tendo em conta a circunstância fundamental de que, mesmo antes de as Forças Armadas Russas iniciarem esta operação militar especial, a Alemanha, juntamente com os Estados Unidos, vinha realizando robustas atividades biológicas militares na Ucrânia há muitos anos e, possivelmente, continua a fazê-lo. Acreditamos firmemente que isso é em grande parte o que motiva a Alemanha a ser mais ativa, em comparação com outros países da UE [União Europeia – nota da tradutora], em suas tentativas de atribuir ao nosso país planos criminosos relativos ao uso de armas biológicas e químicas na Ucrânia e nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, que ainda não foram liberadas.
Pergunta: Existem detalhes adicionais sobre as atividades biológicas militares da Alemanha na Ucrânia?
Maria Zakharova: Para você entender melhor a situação, vou citar os fatos seguintes. Desde 2013, sob os auspícios do Ministério Federal das Relações Exteriores da Alemanha, o governo alemão vem implementando o Programa Alemão de Biossegurança (GBP)[German Biosecurity Programme, ou programa alemão de biosegurança – nota da tradutora], que inclui projetos de parceria com agências governamentais e organizações de pesquisa em países foco, do qual a Ucrânia passou a fazer parte em 2014, ano do Maidan. Especialistas alemães do Instituto de Microbiologia das Forças Armadas Alemãs (Munique), Instituto Friedrich Loeffler (Ilha Greifswald-Riems), Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical (Hamburgo) e Instituto Robert Koch (Berlim), especializados em pesquisas de agentes biológicos mortais, estão engajados em atividades práticas.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, a terceira fase do GBP será implementada em 2020-2022. Podemos inferir dos materiais disponíveis publicamente que os objetivos técnicos declarados do GBP incluem, entre outros, a coleta de inteligência epidêmica em países do terceiro mundo, inclusive com o uso de tecnologia de big data, e o desenvolvimento da infraestrutura dos países parceiros para o manuseio de agentes biológicos perigosos.
O Instituto de Medicina Veterinária Clínica e Experimental em Kharkov tem sido a principal contraparte ucraniana das Forças Armadas Alemãs desde 2016, o que sabemos por seus próprios documentos. Os dois institutos cooperam no âmbito do projeto ucraniano-alemão intitulado “Iniciativa sobre Segurança Biológica e Defesa Biológica na Gestão dos Riscos Zoonóticos nas Fronteiras Exteriores da União Europeia”. O fato de seu objetivo oficial ser “melhorar a situação de defesa e segurança biológica” na Ucrânia, “particularmente no leste do país” leva à pergunta retórica de qual fronteira os biólogos militares alemães consideram uma fronteira externa para fins de seus interesses profissionais. É a fronteira russo-ucraniana?
O Instituto de Microbiologia afirma em seus materiais que o projeto está relacionado à “ameaça potencial de terrorismo biológico” na Ucrânia em meio às intermináveis hostilidades nas regiões orientais daquele país. É bastante claro que esta é uma maneira de enviar uma mensagem sutil sobre o possível “envolvimento” da DPR [República Popular de Donetsk – nota da tradutora] e da LPR [República Popular de Lugansk – nota da tradutora] nos planos de incubação para o uso de armas biológicas proibidas internacionalmente. Ao fazê-lo, os militares alemães vêm intimidando deliberadamente seus colegas ucranianos há muito tempo e, de fato, os posicionam psicologicamente contra as repúblicas do Donbass. Especialistas ucranianos em segurança biológica invariavelmente participam das conferências de biodefesa médica que são regularmente realizadas pelo Instituto de Microbiologia das Forças Armadas Alemãs.
Obviamente, para garantir a proteção contra um possível ataque biológico, primeiro é necessário estudar os potenciais agentes biológicos com os quais ele pode ser feito. Em outras palavras, é necessário realizar pesquisas na área de armas biológicas ou químicas. As Forças Armadas da Alemanha (AFG) [Armed Forces of Germany – nota da tradutora] têm bastante conhecimento e habilidades práticas nesta área, como ficou demonstrado pelo incidente escandaloso com o envenenamento misterioso do blogueiro Alexey Navalny. Especialistas do Instituto das AFG de Farmacologia e Toxicologia – instituição militar aliada ao Instituto das AFG de Microbiologia – supostamente detectaram muito rapidamente no corpo do cidadão russo vestígios de alguma toxina militar que a OTAN lista como da família Novichok. Um nível tão alto de expertise – se, é claro, todas as declarações forem realmente precisas – sugere que as AFG são capazes de sintetizar substâncias tóxicas de forma independente, incluindo o notório Novichok e seus marcadores.
O Instituto Friedrich Loeffler da Alemanha, responsável pelo centro para o estudo dos vírus e infecções zoonóticas mais perigosos na ilha báltica de Riems, mantém uma cooperação ativa com o Instituto Estatal Ucraniano de Pesquisa de Diagnóstico Laboratorial e Especialização Veterinária-Sanitária (Kiev), o Instituto Estadual de Controle Científico de Biotecnologia e Cepas de Microrganismos (Kiev) e também com o Instituto de Medicina Veterinária Clínica e Experimental (Kharkov) que coopera em paralelo com o Instituto de Microbiologia das AFG. Na Ucrânia, o Instituto Friedrich Loeffler concentrou-se na febre hemorrágica da Crimeia-Congo. Cientistas soviéticos a descobriram pela primeira vez no território da Crimeia russa em 1944. Há evidências documentadas de que o instituto encomendou a seus parceiros ucranianos a coleta de amostras de receptores de ectoparasitas de morcegos que foram transferidos para a já mencionada Ilha de Reims sob os acordos existentes.
O Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical concentrou suas atividades na Ucrânia em febres extremamente perigosas – Dengue, Chikungunya, West Nile e Usutu, para citar algumas.
Esta informação sobre as atividades biomilitares da Alemanha na Ucrânia está longe de ter se esgotado. Não se pode descartar que, à medida que a operação militar especial progrida, documentos adicionais sejam descobertos pelas Forças Armadas russas. De acordo com relatos confirmados, a Alemanha coordenou de perto seu trabalho em segurança biológica com seus aliados americanos que estabeleceram uma rede de pelo menos 30 laboratórios biológicos na Ucrânia. Além de suas outras atividades, eles estavam envolvidos em pesquisas perigosas.
Instamos as autoridades alemãs a parar imediatamente de espalhar falsas alegações sobre as intenções de nosso país de usar armas proibidas pela lei internacional. Acreditamos que tais declarações só podem servir para pressionar os batalhões neonazistas a cometerem provocações horríveis, e a responsabilidade moral por suas trágicas consequências será compartilhada por Berlim.
Fonte primária: Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa
https://mid.ru/en/foreign_policy/news/1809592/
Fonte secundária: The Saker Blog
http://thesaker.is/foreign-ministry-spokesperson-maria-zakharovas-interview-with-rt-tv-channel- moscou-abril-16-2022/
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