eugyppius sobre a transição: Parte 1

Sobre energia nuclear, transformação narrativa e ativismo climático

Por Irina Slav em 22 de setembro de 2023

eugyppius é uma das maiores estrelas do Substack. Em si, isso significa pouco nos dias de hoje, mas, no caso dele, a reputação é genuinamente bem merecida. Em uma cacofonia de desinformação, emoções descontroladas e problemas mentais avidamente nutridos, eugyppius é uma voz rara de sanidade e razão, não apenas em tópicos sobre energia. No entanto, por causa da minha lamentável fixação em tópicos de energia, foi sobre isso que perguntei a ele. Divirta-se.

Você também pode encontrá-lo no X aqui.

1. A Alemanha fechou suas últimas três usinas nucleares em meio a uma crise de energia e contra a vontade de mais de 50% dos alemães. A parte sã do mundo quer saber o porquê. Sério, por quê?

A resposta curta é que os Verdes estão no governo e são um partido antinuclear ainda mais do que um partido antiemissões. Robert Habeck, o ministro verde da Economia, respondeu à crise energética reativando usinas de carvão, percorrendo o mundo assinando contratos de GNL e, em geral, fazendo coisas para manter as luzes acesas, o que também irritou a irracional base Verde.

Ele e o resto do partido precisavam entregar algo aos seus eleitores, e seguir com a fase final da eliminação nuclear iniciada sob Angela Merkel e era esse o tal algo.

A fobia de energia nuclear é um fenômeno cultural na Alemanha que se estende muito além dos eleitores verdes, com origens em Chernobyl. Massivamente influente a nível cultural, porque é um elemento rotineiro dos currículos escolares, é um romance de 1987 de Gudrun Pausewang chamado Die Wolke (“A Nuvem”).

É uma história histriônica sobre um desastre semelhante a Chernobyl na Alemanha Ocidental, e todos os alemães foram obrigados a lê-lo em algum momento de sua vida. Esta e a propaganda associada, através da mídia e do sistema educacional, moldaram as opiniões de toda uma geração de alemães, e os sentimentos resultantes são uma grande razão pela qual os Verdes são tão fortes aqui. Como muitas crenças ingênuas, quase religiosas e infantis, eles são notavelmente resistentes a preocupações práticas e não vejo muita perspectiva de mudá-las.

2. A energia eólica e solar estão sendo aclamadas como um substituto perfeitamente bom para petróleo e gás (e carvão), e ainda assim a RWE [NT: gigante empresa alemã que atua na distribuição de gás natural e na geração e distribuição de energia elétrica] recentemente começou a desmantelar um parque eólico para expandir uma mina de carvão. O gás do gasoduto russo está sendo substituído por GNL (inclusive da Rússia), apesar das altas garantias de que o gás está sendo gradualmente eliminado, porque há energia eólica e solar. Como você explica essa dissonância cognitiva?

Bem, é a mesma história que vemos em todos os lugares: você pode desenvolver energias renováveis até certo ponto; é fácil no início. Então você atinge um teto, onde vários problemas – acima de todos os problemas de gerenciamento de rede decorrentes da intermitência – dificultam ainda mais a expansão. A Alemanha há muito se aproximava desse ponto, mas a crise energética forçou o governo a enfrentá-la mais direta e imediatamente do que eles esperavam.

Muitos artigos da imprensa elogiam nossos aumentos substanciais na capacidade eólica terrestre instalada este ano, ao mesmo tempo em que observam que não estamos nem perto de atingir nossa meta de 150.000 MW para 2030. Se você olhar para a capacidade renovável instalada ao longo do tempo, parece que estamos nos aproximando de um teto.

A ideologia dos influenciadores climáticos parece ter sido formada nos estágios iniciais do processo de transição, quando as energias renováveis apresentavam problemas relativamente solúveis. Estamos vendo agora como essa visão ingênua é confrontada com a dura realidade de suas próprias limitações e a súbita ausência de combustíveis fósseis, que os Verdes – se sua visão tivesse alguma substância – deveriam ter acolhido.

Devo dizer que me sinto justificado, pois algumas das minhas críticas insistiram que os Verdes eram apenas lunáticos autodestrutivos que queriam queimar a Alemanha até o chão. Na verdade, quando enfrentaram a beira da destruição política (que é o que os apagões não gerenciados significariam para eles), recorreram a uma política energética minimamente racional.

Sim, eles ainda queriam afundar a energia nuclear, e conseguiram isso, mas também esqueceram sua fobia de combustíveis fósseis na medida em que era necessário garantir sua sobrevivência política.

A equipe de transição energética consiste em instituições completas que existem inteiramente para defender, fazer lobby e publicar ciência manipulativa para promover a energia renovável, assim eles não podem simplesmente se retirar. Suspeito que continuaremos a ver uma divisão cada vez maior entre a ortodoxia partidária e a política energética real, até que algo se rompa.

Se os Verdes são capazes de pensar racionalmente em prol da sobrevivência, essa clivagem que você menciona poderia levar gradualmente a uma reversão das políticas atuais, por mais impossível que possa parecer agora? Poderíamos ver um cenário em que em poucos anos eles vão dizer “Quem, nós? Nunca quisemos 100% de energia eólica e solar”?

O futuro é muito difícil de prever, mas já vemos pelo menos uma pista do que pode acontecer. No último minuto, a Alemanha (e alguns países do Leste Europeu) negociou uma exceção à proibição da UE de motores de combustão interna para 2035, para carros que podem funcionar com combustíveis sintéticos.

Há também o fato de que esses prazos são deliberadamente colocados apenas o suficiente no futuro, para que a) entrem em vigor depois que a maioria dos eurodeputados atualmente em exercício não estiverem mais no cargo, e b) permitam que os tecnocratas atuais sinalizem para as crenças difundidas no progresso tecnológico para servir de soluções para problemas impossíveis. A visão já está, portanto, equipada não apenas com racionalizações mitológicas, mas também com fugas práticas e pessoais.

Se você olhar para a história mais ampla do ativismo climático, verá que ele já progrediu em várias épocas e, na verdade, é bastante maleável. As primeiras preocupações com a superpopulação após o baby boom do final dos anos 1960 deram lugar a várias preocupações ecológicas, com as emissões de CO2 só se tornando a ansiedade dominante após o fim da Guerra Fria.

Suspeito que a ideologia sofrerá novas transformações e poderá, em última análise, abandonar o CO2 em favor de alguma outra métrica, como os níveis atmosféricos de metano. As primeiras ansiedades da “bomba populacional” sucumbiram ao crescente terceiro-mundismo de muitas empresas filantrópicas.

Muita ansiedade sobre as taxas de natalidade africanas cheira a racismo e, nas próximas décadas, as emissões de CO2 serão cada vez mais um produto da população do terceiro mundo, de modo que podem se tornar politicamente intragáveis apenas por esse motivo. Mas, como eu disse, o futuro é muito difícil de prever. Um cenário alternativo é que a influência política dos Verdes desapareça lentamente, o que lhes permitiria manter seu radicalismo de carbono.

4. Ativismo climático: a Alemanha parece, do meu ponto de vista, que é da Europa Oriental, um viveiro de radicais climáticos, inclusive no governo. Por quê? Como isso aconteceu?

Escrevi dois posts sobre esse assunto há algum tempo:

eugyppius: uma crônica da peste

Uma vasta cabala climática financiada por estrangeiros com um domínio absoluto na política está atualmente lutando arduamente para derrubar a República Federal da Alemanha sem sobreviventes, e não há nada que alguém possa fazer sobre isso

A imprensa internacional manteve um silêncio quase total sobre a crescente insanidade do que está acontecendo na Alemanha. Os meios de comunicação que celebram rotineiramente o progresso alemão em direção à transição energética não querem que você saiba que a potência industrial dominante da Europa entrou em uma espiral política e administrativa profundamente destrutiva da qual talvez nunca …

(Leia aqui o original: https://www.eugyppius.com/p/a-vast-foreign-funded-climate-cabal?utm_source=substack&utm_campaign=post_embed&utm_medium=web)

eugyppius: uma crônica da peste

Mais sobre a cabala climática verde que está atualmente em guerra com a indústria e a sociedade alemãs

Um leitor reagiu com indignação aos comentários no artigo de sexta-feira sobre a vasta cabala climática financiada por estrangeiros que luta para derrubar a República Federal da Alemanha sem sobreviventes: é fascinante ler os comentários e ver como a indústria de combustíveis fósseis – a maior e mais poderosa do mundo – cooptou completamente todos vocês. Você desconfia e condena com razão…

(Leia aqui o original: https://www.eugyppius.com/p/more-on-the-green-climate-cabal-that?utm_source=substack&utm_campaign=post_embed&utm_medium=web)

Embora provavelmente existam explicações culturais para a predisposição dos alemães ao ambientalismo radical, a atual insanidade política surge de tendências específicas que se enraizaram na longa era Merkel.

Especificamente, desde o início dos anos 2010, um pequeno grupo de ativistas bem financiados ergueu toda uma “Rede Ecológica” de ONGs, organizações filantrópicas e grupos de lobby na República Federal com o propósito específico de direcionar a política para as restrições de emissões.

Um ator significativo nisso foi o ambientalista americano Hal Harvey, que estabeleceu operações-chave com fundos da Fundação Hewlett. O foco específico desses esforços era colocar os ideólogos verdes em posições institucionais-chave, e eles conseguiram substituir a velha guarda dos liberais de mercado no serviço público.

Essa nova geração de burocratas e políticos agora tem liberdade quase irrestrita para redigir políticas energéticas, e eles entram e saem constantemente de think tanks e organizações de lobby do setor privado, formando uma frente unida com a mídia estatal amiga do meio ambiente e ativistas de rua como a Letzte Generation (que também são, intrigantemente, financiados em parte pelos americanos).

Muitas teorias da conspiração são possíveis aqui, mas acho que a mais simples é a mais provável: os ideólogos do clima nos Estados Unidos querem estabelecer uma espécie de vanguarda da política climática na Europa, para que possam aproveitar o que resta do prestígio cultural continental nos EUA para aumentar a credibilidade dessas políticas em casa. A Alemanha, como potência industrial dominante da UE, era um alvo óbvio, e a Alemanha agiu por sua vez para espalhar essas políticas aos seus vizinhos.


Fonte: https://irinaslav.substack.com/p/eugyppius-on-the-transition-part?utm_source=share&utm_medium=android&r=2k6lno


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