13/3/2020, The Vineyard of the Saker, vídeo.Trad. ao ing. Resistance (aqui retraduzido).
Discurso do secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, em 13/3/2020, dedicado quase exclusivamente à crise de saúde global causada pelo Covid-19 e às medidas que cada indivíduo deve tomar para se proteger e proteger os demais.
Quando este discurso foi proferido, havia 124 casos de Covid-19 e 3 mortes no Líbano; em 12/4/2020, foram contabilizados 630 casos e 20 mortes.
O Coronavírus é inimigo mortal de toda a humanidade
[…] Dentre os tópicos prioritários que abordarei, que preocupam o mundo nesta fase, o primeiro é o do coronavírus. A luta fundamental em que todos estão envolvidos hoje, não apenas o Líbano e os povos de nossa região, e que ocupa a mente de todos, do país em que (aparentemente) começou (China) a todos os outros. Falo da batalha contra o que agora é chamado de pandemia de coronavírus. Hoje, nos países de nossa região – Ásia Ocidental (como Khamenei a chama) ou Oriente Médio –, na Europa, nos Estados Unidos, essa é a primeira e essencial questão que ofusca todas as outras. Hoje, falarei sobre isso.
Naturalmente, não me debruçarei sobre questões específicas reservadas a especialistas no campo científico e médico, seja no Ministério da Saúde, no nível dos médicos, na OMS, etc. e, portanto, tudo o que você ouviu e tudo o que eles disseram nos últimos dias e semanas (sobre gestos de contenção, distanciamento e confinamento social etc.), não voltarei a isso, nem repetirei. Mas quero seguir o mesmo caminho abordando esse enorme e importante desenvolvimento, a fim de determinar sua estrutura e as responsabilidades de todos nesse aspecto, inclusive o nosso.
Batalha global
Primeiro, devemos nos considerar no centro de uma batalha, seja no Líbano ou em toda a região. Hoje, não é mais uma batalha limitada a um (ou mais) país, mas é uma guerra mundial. Uma batalha global travada por todos os países e povos do mundo. Essa é a prioridade de todos os governos e a preocupação de pessoas de todo o mundo.
Devemos nos considerar no centro de uma batalha e travá-la. Isso é algo muito importante para entender o assunto e abordá-lo como deve ser abordado e encontrar a solução apropriada. Nesta batalha, há um inimigo e existem alvos (potenciais). E todos aqueles que estão ameaçados (ou seja, toda a população mundial) devem enfrentar esse inimigo.
Em qualquer batalha – porque devemos tirar proveito da experiência do Hezbollah, de todos os movimentos de Resistência e de todas as guerras do mundo –, o inimigo tem de ser claramente identificado e conhecido. O problema nesta batalha é que o inimigo, chamado de novo coronavírus, permanece fundamentalmente desconhecido no mundo, a maioria de seus aspectos ainda é desconhecida (para a comunidade científica).
Até o momento, pesquisas e análises estão em andamento, e ainda estamos tentando decodificar a fórmula desse vírus e desvendar seus segredos, e nos perguntamos como criar um remédio, uma vacina, uma solução, etc. Esse inimigo, portanto, permanece fundamentalmente desconhecido em suas especificidades, mas seus perigos se tornaram amplamente claros para todos nas últimas semanas. Aí está ameaça considerável para o mundo inteiro.
Qual é a ameaça que o coronavírus representa para nós?
É mortal para os indivíduos, pode ceifar vidas. Certos inimigos (como Israel) podem destruir nossa casa, queimar nosso campos plantados, ameaçar a segurança de todos, fazer guerra psicológica para nos desestabilizar etc. etc. Mas, aí, o perigo da pandemia de Coronavírus é diferente: esse é inimigo quer nos matar e matar muitos, em massa. Essa ameaça não pesa apenas sobre uma vila, uma cidade, um país ou mesmo um único continente: se estende a todo o mundo, a todo o globo terrestre. E esse inimigo não para na frente de nenhum número: nem as centenas, nem os milhares, nem as dezenas de milhares, nem os milhões (esse vírus pode infectar absolutamente todo mundo). Hoje, alguns veículos de imprensa estadunidenses consideram estatísticas colossais, falam de dezenas de milhões de pessoas potencialmente infectadas,160 a 225 milhões (dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças citados pelo New York Times). Essas estatísticas estão relacionadas apenas aos EUA (e sugerem que haja risco de mais de um milhão de mortos).
Consequentemente, estamos diante de um inimigo cuja ameaça é clara, considerável e universal. Digo isso, porque temos de conhecer o inimigo em toda a sua verdade, e conhecer a verdade da ameaça que nos impõe, para que possamos assumir nossas responsabilidades e enfrentá-las.
Não falo para incentivar a rendição, o medo ou o terror, ou a psicose, termo que usamos tanto, mesmo aqui no Líbano, e sobre o qual há debate (porque no Líbano, estamos divididos até sobre o que seja ‘psicose’).
De qualquer forma, o traço mais perigoso que nos chega com essa ameaça é que ela não pesa apenas na economia, na aprendizagem escolar (que é interrompida) ou em diferentes aspectos isolados da vida. Como disse, o Coronavírus ameaça a vida. É questão de vida ou morte. E não há nada mais importante do que a vida, do que todos termos meios para permanecermos vivos, saudáveis, sãos e salvos. Essa é a prioridade, ou pelo menos deve ser a prioridade. E voltarei a isso quando falar sobre o objetivo que temos de ter em vista. Porque tudo pode ser recuperado: podemos recuperar um ano escolar, podemos compensar um declínio econômico, tudo pode ser recuperado. Mas, quanto aos que perdem a vida, nossos queridos, a quem perdemos e que abandonam este mundo terrestre: eles não voltarão e nós os perdemos para sempre.
Portanto, aí está o inimigo e essa é a ameaça que esse inimigo nos impõe.
Diante dessa ameaça e diante desse inimigo, qual deve ser nossa decisão? Lutar. Temos que decidir lutar! É óbvio. Há de haver quem proteste, dizendo que repito banalidades. Mas a verdade é que em nosso país e em muitos lugares do mundo, há debate até sobre as coisas mais óbvias.
Por exemplo, quando o inimigo israelense atacou o Líbano, invadindo e ocupando nosso território, tentando tomar nossa água, nosso céu e nossa soberania, para satisfazer seus apetites, houve muita discussão sobre resistir ou não. Até a obviedade da Resistência foi assunto amargamente disputado. O mesmo vale para o coronavírus.
Temos de escolher a Resistência. Temos de resistir contra esse agressor e inimigo invasor que nos ameaça, que ocupa (sempre mais territórios) e contamina cada vez mais pessoas, e já é uma epidemia global.
Importante, sobre tudo, é não se render, não se entregar ao desespero ou antecipadamente sentir-se derrotado e desamparado ou incapaz de agir. Tampouco se deve subestimar o perigo da rendição ante a ameaça, em qualquer caso. Temos de decidir resolutamente enfrentar e lutar contra esse vírus. Temos de travar essa batalha, temos de assumir nossas responsabilidades, com moral elevada e confiança na vitória.
Terceiro, quando falamos sobre essa luta ou essa responsabilidade, a responsabilidade deve ser global e universal. Se eu considerar o exemplo do Líbano (mas meu argumento é válido para o mundo inteiro), a responsabilidade recai sobre o Estado em todas as suas instâncias: os Presidentes (da República, do Conselho de Ministros e do Parlamento), o governo em todos os seus ministérios, e não apenas no Ministério da Saúde, responsável por apenas um aspecto dessa batalha, mas em todos os ministérios, assim como na Justiça, no Parlamento, no exército, nas forças de segurança, nas vilas e cidades. …
Tudo que faz parte do Estado e de suas instituições e órgãos deve assumir essa responsabilidade. Todo o povo libanês também deve assumir essa responsabilidade, sejam os adultos, os mais jovens, em todas as regiões. Da mesma forma, todos os não libaneses que estão em território libanês, sejam refugiados palestinos, sírios deslocados e outros residentes, sejam árabes ou não. Qualquer pessoa no território libanês deve participar dessa luta e assumir sua parte de responsabilidade, é claro, na medida de seus meios e do que é exigido deles. E acontece que nessa batalha, absolutamente todo mundo tem tarefas específicas a cumprir, um papel a desempenhar.
Essa batalha é global e requer todos os esforços de cada um e a participação de todos os indivíduos. Todos têm de assumir uma ou mais responsabilidades. Nesse sentido, as responsabilidades de cada um não são as mesmas das batalhas políticas ou militares. Na batalha militar, a responsabilidade recai sobre alguns de nós e outros são dispensados de combater, como na batalha política. Mas nesta batalha, todos são responsáveis, e todos têm uma função (importante) e um papel a desempenhar.
Naturalmente, assim como em confrontos militares, o exército e as forças de segurança estão na vanguarda. Assim como nas operações da Resistência, os mujahideen e combatentes estão na linha de frente, como é o caso das batalhas políticas ou militares, onde figuras políticas importantes e comandantes de campo estão na vanguarda. Então aqui, neste tipo de batalha (contra um vírus), o Ministério da Saúde e os outros ministérios envolvidos, hospitais públicos e privados, médicos, enfermeiras, qualquer pessoa que trabalhe com saúde, assistência e ambulâncias estarão na linha de frente nessa batalha.
E devemos vê-los como oficiais da linha de frente, soldados e combatentes da Resistência, e nos comportar com eles como deveríamos nas frentes moral e psicológica. Voltarei a esse ponto. Portanto, todos têm a responsabilidade de assumir essa batalha contra o coronavírus.
Objetivos certos para essa batalha nacional
O próximo ponto é o objetivo da batalha: qual deve ser o nosso objetivo? Se hoje dizemos que estamos no centro da batalha, qual é o objetivo que devemos alcançar nessa batalha?
Devemos identificá-lo mediante ações que temos de empreender (para o percebermos e alcançá-lo). Estabelecer uma meta e saber que ela nos ajuda a planejar nossas ações, estabelecer programas de ação, estabelecer os melhores métodos de assistência mútua, avaliar os diferentes passos a serem implementados, saber se são eficazes ou não. Isso ajuda a avaliar se nos aproximamos eficientemente de nossos objetivos e se estamos no caminho para o sucesso, ou, pelo contrário, se nos afastamos deles, perdemos terreno e fracassamos.
E qual deve ser o nosso objetivo
Mas, claro, se cientistas e autoridades libaneses puderem participar, será excelente. Até que o mundo descubra uma vacina, uma cura para essa pandemia, essa doença, até chegarmos a esse estágio, o objetivo deve ser o de impedir a propagação da epidemia, impedir seu progresso, limitar as perdas humanas o máximo possível. Por exemplo, em vez de ter 100 mortos, se o número menos significativo de vítimas que puder ser alcançado for 20, deveríamos ter apenas 20 vítimas, não 100.
Primeiro, temos de conter a perda de vidas humanas
Temos de conter a perda de vidas humanas, porque, como eu disse, todo o resto pode ser compensado, recuperado (mais tarde), seja educação, ano escolar, economia, comércio, indústria… Ainda que no Líbano não estejamos, seja como for, muito desenvolvidos nesses campos. De fato, tudo se pode compensar, um dia ou outro. Por isso, a prioridade é proteger as pessoas, sua existência, sua saúde, sua sobrevivência. Esse é o objetivo. Esse objetivo é dividido em duas partes.
A primeira parte é impedir a propagação da epidemia
A primeira parte é impedir a propagação da epidemia, tanto quanto possível.
A segunda parte é tratar as pessoas infectadas
A segunda parte é tratar as pessoas infectadas. É verdade que não há vacina, mas existem maneiras de curar, aliviar o sofrimento dos doentes. Esse objetivo pode ser alcançado? Sim, podemos alcançá-lo. Não é objetivo teórico ilusório ou impossível. Pode ser alcançado em duas partes.
No que diz respeito à prevenção da propagação do vírus, teoricamente, devemos ouvir todas as autoridades médicas, de saúde e especializadas, da OMS etc.
Infelizmente, por causa do ‘noticiário’, há muitos supostos especialistas. Mas há especialistas em que se deve confiar, e muitos dizem que há algumas medidas que devemos repetir todos os dias (distanciamento, confinamento, lavar mãos etc.) – não vou repetir, porque não sou especialista no assunto.
Entendo que essas medidas a serem tomadas, se forem escrupulosamente respeitadas por todos, todos os indivíduos, todas as famílias, governos e pessoas, é possível impedir a propagação do vírus, ou limitá-la bastante.
O que se vê é que tanto a teoria quanto a prática provam, graças a experiências estrangeiras, como a experiência da China, que a progressão da epidemia pode ser interrompida. Que é possível impedir a propagação desse vírus ou limitá-la bastante. Portanto, isso é possível, tanto em termos teóricos quanto práticos, porque temos a experiência chinesa e seus resultados que foram divulgados até agora, e vamos rezar a Deus para que eles não evoluam na direção de um recrudescimento da epidemia.
Quanto à segunda parte do objetivo, ou seja, prestar o melhor atendimento às pessoas atingidas pela doença, todos os especialistas, da OMS a todos os níveis abaixo, afirmam que a cura é possível e que, mesmo, a taxa de cura é muito alta. Da mesma forma, em termos concretos, de acordo com os dados disponíveis, dezenas de milhares de pessoas recuperaram-se na China, outras milhares no Irã e centenas de pessoas em outras partes do mundo, conforme anunciado (regularmente). Assim, a cura é possível na teoria e na prática, além de impedir a propagação do vírus.
Portanto, o objetivo que estabelecemos para essa batalha nacional é objetivo realista, pragmático e alcançável. Certamente, exige esforço, decisões fortes, força de vontade, Resistência, paciência, eficiência, medições, precisão na aplicação e responsabilidade.
Assim sendo, já estabelecemos que estamos no centro de uma batalha, parte de uma guerra mundial. Porque nós libaneses não estamos sozinhos nesse combate; conversamos sobre o inimigo, sua natureza, seus perigos e a ameaça que representa para todos; conversamos sobre a magnitude das responsabilidades que pesam sobre todos; e conversamos sobre o objetivo da batalha. Quanto às medidas a serem adotadas, não são novidades, são repetidas diariamente pelas autoridades competentes. No contexto da batalha que acabamos de descrever, devo aconselhar várias coisas e enfatizar vários pontos.
Precisamos de cooperação e ajuda mútua para travar essa batalha
Primeiro, meus caros, precisamos de cooperação e ajuda mútua para travar essa batalha. É nosso dever fazer o combate com alma humana, com ética e com patriotismo. E o mesmo é verdade para todos os países. Não é exclusivo do Líbano. Todos os países devem fazê-lo: em todos os lugares, as pessoas devem ajudar-se mutuamente, seja no Estado, no governo, nas forças de segurança, nas famílias, na mídia, nas redes sociais, nas associações, absolutamente todos, sem exceção, devem ajudar e cooperar nessa batalha. E o espírito dominante deve ser positivo e construtivo.
Essa batalha não é o contexto apropriado para ‘acertar contas’ passadas, nem para ataques políticos, vingança ou marcar pontos (contra os oponentes). Não quero entrar aqui em nenhum tipo de debate.
Desde os primeiros momentos, houve debates no país, sobre certos pontos e certas escolhas. Não há problema com discordâncias sobre as (melhores) escolhas (a serem tomadas), mas a linguagem usada (por alguns no Líbano) é inadequada. Inadequada e injustificável. Quero dizer que não quero entrar em debate com ninguém. O que mais me interessa é manter-me distante de todas essas (disputas vãs).
Mas quero dizer que insistir nessa direção (ofensas, revolta etc.) não nos aproximará dos objetivos políticos desejados – no caso dos que tenham objetivos políticos – e nada fará além de criar mais ódio, hostilidade e ressentimento entre os libaneses.
Todos devem agir de forma positiva e construtiva. Não significa que não podemos nos opor, criticar. Pelo contrário: devemos criticar, expressar nossa opinião, dar conselhos, seja na mídia (ou em qualquer outro lugar), fazer contato com ministérios, órgãos governamentais e administradores envolvidos, nas diferentes posições de responsabilidade. Tudo isso é natural. Ninguém pede aos outros que calem a boca.
Abordar e resolver os problemas que hoje enfrentamos requer alma plena de ética e humanidade.
Ofensas e ataques não têm lugar aqui e refletem falha moral. Atitudes negativas que levam a mais perdas também expressam falha moral e falta de espírito nacional. É necessário espírito de ajuda e cooperação mútuas, e todos devem comportar-se com alto senso de responsabilidade. Porque se começarmos a discutir e acertar ‘contas’, querendo provar quem estava errado e quem estava certo, só se obterá mais divisão e ineficácia. Considero isso desnecessária perda de tempo e tentativa de fugir de nossas próprias responsabilidades.
Todos sabemos que desde 1982, até hoje, prossegue um debate sobre a questão da Resistência. Estamos em 2020, e o debate ainda não foi resolvido.
Há alguns dias, quando vários de nossos combatentes foram martirizados na batalha de Idlib (assassinados por atacantes turcos), surgiu a mesma pergunta: o que vocês estão fazendo na Síria?
Desde 2011 até hoje, apesar de todos os nossos discursos, todas as nossas declarações, todos os debates, todas as nossas intervenções na televisão (explicando o motivo de nossa presença na Síria), não conseguimos nada. Por isso não quero entrar em nenhum debate sobre tudo o que aconteceu. Quero dizer que não há problema para quem queira expressar suas objeções ou críticas, sua opinião, sua abordagem. Mas devemos nos afastar de qualquer linguagem que crie animosidade, ressentimento, ódio, hostilidade e divisão (por exemplo, vide as palavras do líder maronita das forças libanesas Samir Geagea pedindo que os campos palestinos sejam postos sob quarentena).
Respeitar as medidas de higiene e segurança é dever religioso sagrado
E muito mais espero a cooperação de todos, que esse coronavírus não faz discriminação de raça, continente, região, religião, seita, partido, etc. Essa epidemia ataca todos, sem nada querer saber de ninguém, antes de atingir todos e quaisquer. Esse vírus não respeita nem as fronteiras das raças, nem dos continentes, nem dos países, nem as fronteiras de nacionalidades, regiões, religiões ou crenças. Estamos enfrentando uma batalha exclusivamente humanitária (sem qualquer consideração partidária), e devemos enfrentá-la com a alma cheia de humanidade.
O segundo ponto é confirmar a responsabilidade humanitária, ética, nacional e legal (de todos) nessa batalha e nesse confronto
O segundo ponto é confirmar a responsabilidade humanitária, ética, nacional e legal (de todos) nessa batalha e nesse confronto. Mas o que quero acrescentar aqui, em termos pessoais, uma vez que pertenço à esfera das ciências religiosas, e que, a esse respeito, meu ponto de vista será diferente do dos funcionários do governo, é insistir na responsabilidade religiosa – do ponto de vista da lei islâmica (a Xaria).
Vejam, nós no Líbano, em geral, somos muçulmanos ou cristãos. Muçulmanos e cristãos, mesmo que não pratiquem, consideram-se aderentes ao Islã ou ao Cristianismo, e todos acreditam em Deus, no Dia do Julgamento, no Dia do Acerto de Contas. Todos nós acreditamos que seremos questionados diante de Deus e teremos de responder por nossas ações. Tanto muçulmanos quanto cristãos, de acordo com sua religião, sabem que Deus, em seus ensinamentos celestes, ordenou preservar a vida humana, e a declarou de maior e mais alto valor.
Mesmo em julgamentos legais e na jurisprudência islâmica, quando a necessidade de preservar a propriedade e a honra é enfatizada, o estágio mais alto (e mais importante e imperioso) é preservar o sangue, a vida humana, a alma humana, as pessoas, vida e saúde. É o mais alto escalão de deveres, o dever mais sagrado, o mais imperioso, o mais categórico. Se acreditarmos no Dia do Julgamento, o que quero acrescentar a esta batalha é que temos o dever de temer a Deus, o Altíssimo, o Exaltado, na liderança da batalha contra o coronavírus.
Proteger a própria vida e a vida dos demais é dever religioso, divino e legal.
Qual é a tradução prática desse mandamento? O primeiro dever é fazer de tudo para se proteger, proteger a própria vida e a própria saúde, assim como a vida e a saúde da família e das pessoas ao seu redor (vizinhos, etc.). Esse é dever religioso, divino e legal. Cada homem, cada mulher, todos são mantidos por esse requisito primordial. Todos serão responsáveis por respeitar este dever sagrado. Quem não o faça comete um pecado, não venial, mas mortal, um dos maiores pecados.
Consequentemente, obedecer todas as instruções (gestos para impedir o contágio, distanciamento, confinamento, lavar mãos etc.) não é como seguir algum tipo de recomendação sem importância, não, de modo algum.
Hoje você pode questionar qualquer alta autoridade religiosa, e as nossas autoridades são bem conhecidas: nossos grandes aiatolás emitiram declarações e fatwas para enfatizar o dever de respeitar esses regulamentos de saúde e medidas sanitárias.
Eles não disseram que fosse um ato recomendado ou simples indicação, que alguém tivesse a opção de respeitar ou não, ao qual a desobediência seria permitida. Não, nada disso.
Nossos aiatolás declararam que é dever de todos respeitar escrupulosamente as instruções do governo e das autoridades oficiais de saúde que trabalham na linha de frente dessa luta, batalha, especialmente no que diga respeito a questões de saúde. Todos têm de observar as regras determinadas para todos.
Não se trata de dever legal, porque se alguém não o cumprir, não há perigo de ser preso, ou levado aos tribunais. Ninguém será preso ou julgado em tribunal terreno. Mas chamo sua atenção para a necessidade de temer o Juízo Final. E essa regra estende-se a todos. Não se trata apenas de crentes praticantes ou pessoas piedosas. Todos, sem distinção, terão de prestar contas por seus atos no Dia do Julgamento diante de Deus, o Altíssimo e Exaltado: você protegeu sua vida, sua própria existência, sua saúde, sua família? E protegeu também a saúde e as pessoas ao seu redor (do melhor modo que era capaz)? Ou, pelo contrário, você foi negligente, preguiçoso, indiferente e desrespeitoso com as instruções dos especialistas em saúde? Se não – e o exame será severo – a punição será terrível.
Obviamente, temos de encarar essa batalha com esse espírito, tendo em mente o peso de nossas obrigações divinas e religiosas, em espírito de responsabilidade diante de Deus e a convicção de que Ele exigirá de nós contas rigorosas a esse respeito, no Dia do Juízo.
Nesse mundo, é possível escapar dos Tribunais, das forças de segurança, da polícia, da prestação de contas. Fulano ou beltrano tem amigos importantes, fulano é protegido, beltrano pode ser escondido pelos entes queridos, mas no Dia do Juízo ninguém será capaz de se esconder ou de fugir da justiça divina. ‘E para onde poderia eu fugir, para escapar de Seu julgamento?’ (extraído de uma invocação famosa). Ninguém pode escapar das garras e do Julgamento de Deus, o Altíssimo.
Entendo que essa perspectiva e essa obrigação religiosa é, teoricamente, um dos elementos mais fortes que podem permitir a vitória nessa batalha (porque o povo libanês é fortemente marcado por sentimentos religiosos).
Além disso, é exatamente o que aconteceu com a Resistência (Hezbollah).
O milagre realizado pela Resistência (derrotar Israel duas vezes) não se deve aos números, à capacidade ou à experiência. Embora tudo isso seja muito importante e fundamental, o elemento mais determinante é a alma gnóstica da Resistência, o ardente amor a Deus, a piedade, o medo reverencial, o senso de responsabilidade (diante de Deus), que ultrapassa os limites desse mundo e toca a vida após a morte, e que considera com a maior seriedade o momento inevitável em que será necessário aparecer diante de Deus, o Altíssimo, e prestar contas de nossas ações em relação ao nosso território (ocupado), aos nossos lugares sagrados (usurpados), à nossa dignidade (estuprada), à nossa liberdade de escolha, nossas águas, nossa honra e nossa soberania.Esse sempre foi o fundamento subjacente de nossa Resistência armada. E devemos entrar na batalha presente, apoiados nessa mesma base.
Mas que ninguém se deixe levar pelo excesso de zelo religioso ou por algum ímpeto de parecer valente diante da epidemia
E diante desse dever, há algo que certas pessoas, em particular certos devotos que poderiam ser levados a se sair melhor do que todos os outros … Esta questão (teológica) é a questão de prioridades e obrigações mutuamente excludentes. Quando as maiores autoridades religiosas pedem que você cancele a oração de sexta-feira (normalmente obrigatória) e até todas as orações coletivas, é porque existem coisas que contam mais que outras (sobrevivência e saúde contam mais que rituais religiosos) e tudo que não seja prioridade, deve ser posto de lado sem qualquer embaraço ou hesitação. Acima de tudo, que ninguém se deixe levar pelo excesso de zelo religioso ou por algum ímpeto de parecer valente.
Quando as autoridades cristãs cancelam as orações nas igrejas, elas o fazem com base na mesma ordem de prioridade. Porque é um ato humanitário ao qual empurram a jurisprudência e as religiões celestes, que têm por vocação preservar a vida.
Esse então é o segundo ponto.
Honestidade e transparência são de suma importância, e líderes ocidentais mentem
O terceiro ponto é que nessa batalha precisamos de franqueza e honestidade. Nesse ponto entrarei em detalhes e serei mais específico. E isso também se aplica a outros países.
Qualquer pessoa no Líbano … só falo do Líbano porque é o campo no qual participamos da batalha. Qualquer pessoa no Líbano que sinta que foi infectado por esse vírus, ou que apresente sintomas, deve declará-lo de forma honesta e franca. Deve informar espontaneamente as autoridades (médicas) envolvidas (e a pedido delas), deve ir ao hospital e fazer um exame para saber se é afetado ou não.
Isolar-se não é ‘recomendação’, meu povo! É obrigação! É dever racional e moral, e é obrigação religiosa!
E deve isolar-se rigorosamente – do modo que lhe será indicado –, seja em casa ou no hospital. Não é ‘recomendação’, meu povo! É uma obrigação! É um dever racional e moral, e é uma obrigação religiosa! Porque se formos negligentes quanto a isso, se tivermos vergonha de admitir que temos sintomas, por medo de estigma ou isolamento, de que nossa dignidade ou nosso status político seriam afetados, mentir é atitude absolutamente insana. Sempre será um dos maiores pecados (e dos maiores crimes) esconder essa realidade, pois mentir, nesse caso, pode levar à nossa morte e à morte de outras pessoas.
Uma das grandes autoridades da cidade sagrada de Qom, sob certas condições específicas, emitiu esta fatwa: quem transmite o vírus a outra pessoa e o mata deve pagar o Preço do Sangue [indenizar os parentes do falecido]. Tal é a gravidade desse assunto! Ninguém deve subestimar a seriedade dessa epidemia, em termos de responsabilidade religiosa.
Todos têm de dizer a verdade, francamente. Se a pessoa afetada tiver vergonha (de se declarar doente), que seus pais e parentes o façam ou seus colegas, amigos etc. Você deve divulgar sua condição às autoridades e isolar-se. Em outras palavras, quem está doente deve dizê-lo, e quem é informado da doença de alguém não tem o direito de manter a informação em segredo. É proibido esconder uma coisa dessas (porque se criam riscos para outras pessoas). Quem quer que seja, deve ser enviado ao hospital ou às autoridades médicas relevantes para exame (e confinamento). É proibido ser negligente a esse respeito. A sinceridade deve ser absoluta.
[Comparem-se essa e as diretrizes dos líderes franceses, que dizem ao povo que, quem apresente sintomas deve ficar em casa (onde contamina seus entes queridos), porque o governo francês não tem testes nem hospitais ou qualquer estrutura onde os doentes possam ser alojados, que seja – hotel, etc.].
Como acompanho de perto toda essa questão, quero testemunhar o fato de que o Ministério da Saúde, em comunicado enviado ao Hezbollah, foi franco desde o primeiro dia. Tudo o que ouvimos no Líbano sobre a existência de pessoas infectadas com o coronavírus, mas que teriam sido escondidas pelo Ministério da Saúde ou (porque até disso nos acusam!) pelo Hezbollah é mentira, não é absolutamente verdade, são passam de mentiras e invencionices.
O primeiro caso foi revelado diretamente pelo próprio Ministério da Saúde. E devo dizer até que foram longe demais na ânsia por franqueza e transparência, porque divulgaram dados que deveriam ter permanecido ocultos, como a identidade, o nome e a foto da pessoa afetada. Trata-se de irmã querida, e teria sido mais digno manter sua identidade em segredo. Mas a sinceridade foi a este ponto. E todos os casos descobertos por meio de exames ou informações foram relatados diariamente. E se houve atraso no anúncio de certos casos, é porque os exames estavam em andamento ou para preservar a identidade do doente e seus entes queridos que foram isolados imediatamente.
O Ministério da Saúde tem feito isso até hoje, e deve continuar a fazê-lo. E digo a ele que ele deve continuar assim, não importa quais sejam as verdades, por mais difíceis que sejam para dizer e ouvir. Até agora, os números permanecem sob controle (124 casos, 3 mortes), mas – e Deus nos livre disso! – se tivermos número enorme de doentes ou mortos, é proibido esconder qualquer realidade das pessoas.
Toda a verdade deve ser revelada diariamente, pois isso ajuda a aumentar o senso de responsabilidade, o grau de preparação e a seriedade das reações
Toda a verdade deve ser revelada diariamente, pois isso ajuda a aumentar o senso de responsabilidade, o grau de preparação e a seriedade das reações. E as pessoas têm o direito de saber. Ninguém deve poder acusar o Ministério da Saúde ou qualquer outro órgão governamental, de mentir ou de ser negligente).
Naturalmente, essa questão de franqueza e transparência é um grande problema no mundo. Por exemplo, se considerarmos os países descritos como os primeiros países do mundo (países capitalistas ocidentais mais desenvolvidos), as grandes potências mundiais ou os países democráticos onde (supostamente) haveria liberdade de imprensa e liberdade de opinião, o que vemos?
Por exemplo, o Reino Unido escondeu a verdade. Ou não? O governo britânico não foi sincero nem verdadeiro: todos os dias relatava 5, 10, 15 ou 20 casos (no máximo). Até que, ontem, falou de 7.000 a 10.000 casos. Vocês veem que grande país, não é? Nós no Líbano falamos a verdade.
No final do Tweet, Trump ainda escreveu ‘Pense nisso’. Não estou inventando coisa alguma. É a realidade!
Nos Estados Unidos, Trump, até poucos dias atrás (9 de março), postou um Tweet no qual afirmou que, no ano passado, 37.000 pessoas morreram da gripe comum nos Estados Unidos e que um grande número de pessoas são vítimas anualmente, a fim de denegrir as observações alarmistas e minimizar a importância das poucas centenas de casos detectados oficialmente nos Estados Unidos, com “apenas” algumas dezenas de mortes. No final do Tweet, ainda escreveu ‘Pense nisso’. Não estou inventando coisa alguma. É a realidade.
Trump disse que, apesar dessas 37.000 mortes, a economia continuou a girar (porque, aos olhos dele, a economia tem precedência sobre tudo!). Mas a verdade é que Trump está enfrentando um desastre nos Estados Unidos. Seu discurso ontem teve efeitos muito negativos (nos mercados, com o anúncio surpresa de os EUA fecharem as fronteiras para visitantes europeus), e hoje ele fará outro discurso. E no momento em que Trump minimizava a pergunta, o governador de Ohio e a responsável pela saúde naquele estado [Amy Acton] declararam à CNN (eu li sobre isso primeiro em resumos ou em títulos de redes sociais que foram trazidos para mim, mas não acreditei, porque é sempre necessário verificar a fonte original, pois as palavras podem ser distorcidas. E não acreditei até ver com meus próprios olhos essa pessoa falar na televisão). Ela disse que Ohio tem cerca de 11,5 milhões de habitantes, estima que haja 100 mil pessoas infectadas com coronavírus e que o sistema médico não poderá dar conta desse fluxo de pessoas.
Quem é o maior mentiroso? Na minha avaliação, é Trump, o maior mentiroso.
Quem é o maior mentiroso? Na minha avaliação, é Trump, o maior mentiroso. Mesmo nessa batalha contra o coronavírus, o maior mentiroso sobre a face da Terra foi, mais uma vez comprovadamente, Trump, com seu governo, seu vice-presidente e a equipe responsável por esta questão. E hoje, o Secretário de Estado (Mike Pompeo) acusou – com toda a sua arrogância e presunção – os funcionários iranianos de mentirem ao seu povo e de não dizerem a verdade. Ora! Os iranianos anunciaram desde o início os números reais, o número de mortos, o número de doentes e o número de curados, de uma forma muito franca e transparente. Tudo isso é motivo de orgulho para os funcionários iranianos. Infelizmente, algumas pessoas no Golfo não têm vergonha, e quando o Vice-Ministro da Saúde iraniano, ou pessoas como Said Ali Akbar Welayati foram afetadas pelo vírus, não é porque seja o conselheiro do Guia Supremo (castigo pseudo-divino?), mas porque dirige um hospital em Teerã que está na linha da frente da luta contra o coronavírus.
Quando ministros, funcionários ou médicos, destacadas personalidades iranianas são afetados por este mal, é porque permaneceram no país e nos seus postos, e não desertaram nem fugiram para outros países, outros lugares onde estariam a salvo, fazendo as malas e levando as suas famílias. Permaneceram no próprio país, com o seu povo e nos seus postos, assumindo todas as suas responsabilidades. Este é um ponto muito positivo, e motivo de muito orgulho para o Irã.
De qualquer forma, quando esse Mike Pompeo declara que o governo iraniano mente para o seu povo, seus instrumentos no Líbano fazem o mesmo e acusam o Ministério da Saúde e o Hezbollah de mentir, de ocultar a realidade e de minimizar a extensão da crise. São mentiras.
“Você, Pompeo, é mentiroso oficial, é mentiroso diplomado…” Pompeo é mentiroso com alvará para mentir. E nada tenho a ver com os instrumentos locais dele [ Risos ]
Meu Deus, e eu que disse que não entraria em discussão ou debate …
“Grande mentiroso! Primeiro, ajude a si mesmo e tente se livrar de sua própria situação e da catástrofe que está ocorrendo por causa de sua administração, arrogância, loucura e incompetência, ignorância da verdade e desprezo pelas pessoas (incluindo a sua própria pessoa!) e pelos seres humanos, porque aos seus olhos só contam o dólar, o barril de petróleo, a gasolina e o gás.”
De qualquer forma, esse Grande Mentiroso, o Presidente do Grande Satan [os EUA] declara ao mesmo tempo que está pronto para ajudar o Irã. (…) E segundo, se você realmente quisesse ajudar o Irã, poderia simplesmente suspender as sanções. O Irã não precisa da ajuda do Grande Mentiroso! Quisesse ajudar, bastaria suspender as sanções, mesmo que importando drogas e equipamentos médicos, o que ajudaria o Irã a enfrentar essa crise). De qualquer forma, é uma das manifestações da hipocrisia americana.
Portanto, franqueza e transparência são essenciais.
O governo libanês está liderando a batalha, todos devem obedecer e respeitar escrupulosamente o autoisolamento
O quarto ponto é a necessidade de respeitar escrupulosamente as medidas e disposições governamentais. E não estou falando apenas do Ministério da Saúde. Se o Ministério da Educação Nacional decreta que não há mais escolas, todas as escolas devem fechar. As escolas particulares não devem se eximir de respeitar essas medidas sob o pretexto de que são privadas. Se for decretado que as universidades fecham, todas devem fechar. O mesmo se aplica às decisões do Ministério do Trabalho e de outros Ministérios: todas as disposições decididas pelo governo e por cada um dos ministérios devem ser escrupulosamente respeitadas. Se for decretado que os restaurantes devem ser fechados sob tais e tais condições, os restaurantes devem ser fechados de acordo com essas condições (tipos, horários, local / retirada / entrega, etc.). Todas essas medidas devem ser escrupulosamente observadas e aplicadas.
Que todos se imponham a si próprios o mais estrito confinamento ou isolamento.
Quinto, o ponto mais importante a respeito dessas medidas, que hoje constituem o ponto decisivo para impedir a propagação ou pelo menos limitá-la, e pôr fim a qualquer reagrupamento ou encontro, é que todos se imponham a si próprios o mais estrito confinamento ou isolamento.
O que posso lhe dizer mais (para enfatizar a natureza imperativa do confinamento)? Ore em casa e não vá à igreja. Porque eu falo pelos muçulmanos e pelos cristãos.
Todos devem ficar em casa, com sua esposa e filhos, e (o máximo possível) ficar lá e não deixar a casa para ir a lugar algum. Mesmo para orar, meu irmão, você deve orar em casa, não vá à mesquita. O que posso lhe dizer mais (para enfatizar a natureza imperativa do confinamento)? Ore em casa e não vá à igreja. Porque eu falo pelos muçulmanos e pelos cristãos.
Exceto aqueles que não têm escolha: por exemplo, se alguém não vai trabalhar, ele não terá pão para comer; se alguém não for trabalhar, será demitido; etc. Até que o governo libanês tome as medidas mais estritas (e proíba o trabalho). Quando isso acontecer, todos terão que respeitar as novas regras.
Durante a guerra, alguém sai de casa para tomar ar fresco ou fazer turismo? Vamos esquiar? Vamos fazer um churrasco perto da água? Em tempos de guerra, todos tomam medidas de guerra.
De qualquer forma, a que se destinam essas medidas? De fato, é verdade que esse mal é (muito) perigoso. Mas é fácil lutar contra isso. Por mais perigoso que seja esse vírus, é (muito) fácil lidar com ele. É simples assim: pedimos que você respeite os gestos de barreira, lave as mãos, respeite essas medidas sanitárias nas refeições, quando viaja, etc., se isole, pare de se reagrupar (nada mais). Requer apenas um pouco de força de vontade e disciplina. Sim, estamos sufocando, estamos entediados confinados em nossas casas. Mas é uma guerra! Considere-se em guerra! Durante a guerra, alguém sai de casa para tomar ar fresco ou fazer turismo? Vamos esquiar? Vamos fazer um churrasco perto da água? Em tempos de guerra, todos tomam medidas de guerra. Sejam razoáveis e comportem-se com responsabilidade. Considerem as novas medidas como medidas de guerra.
Consequentemente, qualquer tipo de reunião deve ser proibido. Já falamos sobre mesquitas e quero acrescentar todos os eventos ou celebrações culturais, religiosas ou políticas, que devem ser adiados. (Mesmo) em relação às famílias dos mártires, em breve teremos comemorações anuais, mas todos concordamos em cancelá-las. Perdoe-nos e sejam compreensivo, mas não haverá menos reunião, menos celebração, menos reunião, nem nos complexos, nem nas husseyniyas, nem em qualquer lugar.
Vale o mesmo com relação aos funerais se – que Deus nos guarde – houver mártires (da Síria, Iraque etc.). Nem perguntaremos se haverá fatwa. Estamos aqui anunciando claramente que queremos o mínimo de cerimônias nos funerais. Se uma pessoa morre, que Deus tenha piedade de sua alma, e se houver um mártir, que Deus aceite seu sacrifício, mas sempre com número muito pequeno e modesto de membros da família presentes ao enterro. Devemos deixar de lado a cultura que exige que uma vila inteira participe do funeral, para que ninguém se envergonhe frente à família do falecido, e que toda a vila siga a procissão fúnebre: é um hábito bonito de nossas cidades e aldeias, mas nessas circunstâncias, terá de ser esquecido, porque o que era nobre ontem perde toda a sua nobreza e sua beleza nessa batalha e torna-se abominá-vel nas circunstâncias presentes).
Nobre e bonito é o número mínimo possível de pessoas que participem do funeral, seja no dia do funeral, na 3ª semana, na 7ª semana, na abertura das cerimônias de husseyniyas e condolências. Agora, todas essas tradições devem ser esquecidas. Não estou lhe dizendo que seja obrigação religiosa ou não, mas só espero que de agora em diante, e até que esta crise acabe, espero de todo o coração que vocês simplifiquem os funerais, para bem do povo e de vocês mesmos.
Alguns dias atrás, vi nas redes sociais que, por exemplo, uma família havia perdido um ente querido e anunciaram que estavam cancelando todas as cerimônias tradicionais e agradecendo a todos, pedindo a Deus que recompensasse (todos aqueles que queriam participar). É excelente.
Até a família do falecido ou o mártir deve tomar a iniciativa de dizer às pessoas que não devem comparecer (assistir ao funeral ou oferecer suas condolências), mas contentar-se em recitar Surat al-Fatiha em memória do falecido e orar a Deus por ele, e que eles seriam gratos a eles, nada mais querendo. Essas questões não devem ser ofuscadas pelo desejo de fazer o bem ou de se conformar aos hábitos e tradições. Tudo isso deve ser congelado (temporariamente). Esta é a manchete, e tudo o resto é detalhe. A regra absoluta é: sem agrupamentos, sem assembléias, sem cerimônias, etc. As pessoas devem ser mantidas o mais isoladas possível e nunca fazer mais do que o absolutamente necessário.
Por exemplo, em alguns lugares, as pessoas deixaram grandes cidades para voltar às suas aldeias, mas isso só é boa ideia se mantiverem o isolamente. Se você vai a uma vila e se mistura com pessoas e tem reuniões ou assembléias, refeições em grupo, visitas, turismo, é muito ruim. Se voltarmos para a vila, devemos ir diretamente para nossa casa e nos trancar! Porque o vírus pode se espalhar nas aldeias, como nas cidades. É verdade que se espalha mais nas cidades porque há mais pessoas (mas não deve ser propagada nas aldeias por negligência).
Como no Irã, os órfãos de coronavírus no Líbano também devem ser cuidados pelo Estado
O sexto ponto refere-se ao Estado e suas instituições e às pessoas em geral, ou seja, à consideração que devemos ao pessoal médico e aos atendentes das ambulâncias. Eu disse que eles estão na linha de frente e, nesse sentido, é nosso dever expressar gratidão a todas as pessoas que assumem seus empregos nesse contexto (crítico), em particular no Ministério da Saúde e na célula dedicada contra o coronavírus, bem como hospitais públicos.
Mas uma distinção especial deve ser feita para o Hospital Público Presidente Rafik Hariri em Beirute (que recebe pacientes com coronavírus libanês [230 até o momento e 4 mortes]), seja de gestão, médicos, enfermeiros: agradecemos a eles e os parabenizamos, todos, porque eles estão na linha de frente. Devemos apoiá-los moralmente e orar por sua saúde e preservação.E devemos fazer tudo o que puder ajudar esses funcionários, e também todos os que trabalham em ambulâncias, em todas as instituições – Cruz Vermelha, vários centros médicos de análise e triagem, todo o pessoal de saúde etc. Devemos agradecer a todos eles.
Todas as outras despesas (não médicas) devem ser adiadas em favor dessa batalha (a fim de fornecer segurança aos profissionais de saúde nesse sentido).
Da mesma forma, aconselho, recomendo e proponho ao governo libanês que se adotem medidas excepcionais para apoiar esse pessoal. Há algum tempo (devido à crise econômica e financeira do Líbano), eles têm tido problemas com seus salários e meios de subsistência, e não devemos atrasar os salários desses profissionais, nas duras circunstâncias em que estamos todos, hoje. Todas as outras despesas (não médicas) devem ser adiadas em favor dessa batalha (a fim de fornecer segurança aos profissionais de saúde nesse sentido).
Ainda mais: não basta dar a eles o que lhes devemos, e devemos pensar em uma gratificação adicional por seus esforços e encargos extras, porque a magnitude do perigo, o peso e as pressões que pesam sobre eles são muito maiores do que normal. Por isso, agradecemos (calorosamente) a todos esses funcionários, e todos devem fazê-lo e dar a eles toda a devida consideração, apoiá-los moral e psicologicamente, além de material e financeiramente. Todos devemos ter um grande respeito por eles, agradecer e estar cientes da extensão dos sacrifícios que fazem pela Nação.
Da mesma forma, espero que [o Líbano faça] o que o Irã fez – não sei sobre outros países – mesmo que algumas pessoas no Líbano sejam atingidas por uma apreensão assim que falarmos sobre o Irã.
No Irã, o plano do Líder Supremo foi implementado, com base na sugestão do Ministério da Saúde: qualquer médico, enfermeiro, paramédico ou outro membro de equipes médicas que, no exercício de suas funções, seja infectado pelo coronavírus e morrer com isso, é considerado mártir do trabalho e da Nação. E, é claro, isso implica não apenas s honra moral, mas também obrigações materiais para com sua família. As obrigações morais são devidas a ele, e as obrigações morais e materiais (financeiras, etc.) são devidas à família: em caso de morte, o cônjuge sobrevivente e filhos passam a ser pensionistas do Estado).
Espero que também no Líbano, já que estamos falando de uma batalha (contra o coronavírus), o pessoal médico local (e suas famílias) tenha acesso a essas honras e recompensas (financeiras). Quanto a soldados ou forças de segurança, funcionários e funcionários do Estado, se forem mortos em serviço, há obrigações morais e materiais do Estado para com a família (viúvas e órfãos), porque eles já são automaticamente considerados mártires, mas devemos estender a mesma legislação também ao pessoal médico e cuidadores.
Devemos nos preparar para o pior. As capacidades do Hezbollah estão totalmente mobilizadas
Sétimo, devemos estar preparados, agora, para o pior. Todos temos de nos ajudar uns os outros para impedir a propagação do vírus, mas suponhamos que, mesmo assim, ele se espalhe incontrolavelmente, por alguma razão. O Ministério da Saúde, outros ministérios, instituições, pessoas, todos, temos o dever de nos preparar para o pior.
Existem países no mundo, mesmo os que são considerados os mais desenvolvidos do mundo e os mais bem-dotados em termos de saúde, que requisitaram hotéis e abriram escolas e universidades (para acomodar os doentes). Tais medidas não devem ser problema ou ficar sujeitas a hesitação: devem ser tomadas já agora, como precaução.
Devemos preparar os locais, os equipamentos e os recursos para uma fase mais avançada da epidemia se – e que Deus nos proteja – estamos caminhando para o pior.O ambiente humano deve estar preparado (equipe médica, voluntários, etc.): todos os estudantes (em medicina) … E devemos aproveitar esta oportunidade para agradecer a todos os estudantes das universidades libanesas, seja em medicina ou em outras disciplinas, que abraçaram iniciativas voluntárias para ajudar na luta contra covid-19).
Todos os estudantes de Medicina, Enfermagem ou todas as profissões da área da saúde etc. devem ser mobilizados como precaução, como reservistas, para ajudar e suprir a equipe médica, se a situação piorar. É necessário preparar os locais de recepção (dos pacientes), os equipamentos (médicos e da vida cotidiana), os recursos humanos, para o cenário mais pessimista. Não devemos sentar à toa e cruzar os braços.
Obviamente, as ações já estão em andamento, mas eu queria destacar essa ideia e pedir que ela fosse implantada o máximo possível.
A esse respeito, devo dizer que o Hezbollah, e estou anunciando agora, disponibilizamos ao Estado todas as nossas possibilidades e toda a nossa mão-de-obra médica, de saúde e outras, absolutamente todos, sejam nossos combatentes, nossos homens, nossas mulheres, tudo o que temos em termos de capacidade humana, associações e equipamentos. Tudo isso está inteiramente à disposição do governo e do Ministério da Saúde para a batalha que estão travando.
São eles que lideram esta batalha, o governo está na vanguarda e na posição de comando, e não aspiramos a nada a esse respeito, arregaçamos as mangas e nos pomos a seu serviço.
É a atitude certa a ter, porque essa batalha é diferente (da militar), e todos os seus instrumentos não estão conosco, mas nas mãos do Estado. Nós e os outros só podemos ser uma força de reserva.
[Para combater a epidemia, o Hezbollah mobilizou mais de 20.000 pessoas, dedicou um hospital já operacional ao covid-19, bem como outros quatro hospitais fora de uso atualmente renovados e equipados, criaram 32 centros médicos e 3 hospitais de campanha e alugaram hotéis inteiros para quarentena. Comparem-se essas ações e os 30 leitos do hospital de campanha promovido por Macron …E o Líbano tem população 14 vezes menor e 100 vezes menos casos de covid-19 do que a França, apesar da triagem sistemática!]
Oitavo, devemos tirar proveito das experiências (e boas práticas) de outros países: China, Itália, Coréia, Japão, Irã e agora França, Alemanha, Bélgica e até (por que não) os Estados Unidos, desde que não visem a criar mais problemas. Devemos aproveitar a experiência de outros países para economizar tempo e economizar energia. Não devemos cometer os mesmos erros, porque o tempo é muito precioso. Nesta batalha, o tempo é fator decisivo: cada hora, cada dia é precioso e crucial.
Nono ponto, devemos dar prioridade absoluta a essa batalha, seja o governo, o Estado ou o povo libanês, qualquer pessoa no Líbano, a mídia, qualquer pessoa que tenha influência e possa oferecer o próprio esforço e recursos seus, deve dar prioridade absoluta à batalha contra o coronavírus.
A pobreza é tão perigosa quanto o coronavírus, a solidariedade social e o atendimento aos necessitados são indispensáveis
Décimo, a solidariedade social é necessária. Falo rapidamente, porque os pontos que levanto são claros em si mesmos (e consensuais), e apenas os enfatizo como pontos (importantes). É necessária solidariedade social (real e eficaz). Hoje, naturalmente, o governo mede o fechamento de restaurantes, turismo, etc., etc., etc., tudo isso implica que muitas pessoas podem não ter o suficiente para viver, não terão mais salário ou renda.
Talvez criaremos outro problema: ao querer escapar do coronavírus, cairemos na fome e colocaremos em risco a segurança da sociedade. Antes de chegar às soluções (para resolver os problemas de segurança que possam surgir), é preciso que o Exército, as forças policiais e a Justiça assumam todas as suas responsabilidades para evitar qualquer rachadura na paz e na segurança. É necessário, antes de tudo, tomar medidas preventivas. As capacidades do Estado são bem conhecidas, e antes mencionarei as responsabilidades do próprio povo em relação à solidariedade social. Em cada vila e nas cidades de cada distrito, em cada família, em cada lugar, há pessoas que vivem com mais recursos que outras. Há pessoas que têm muito dinheiro, há pessoas que cobram impostos religiosos (zakat, khums, que são redistribuídos para os pobres), etc. Mas, mesmo independentemente dos impostos religiosos, indivíduos comuns que se sentem à vontade, que são ricos, todos os que somos capazes devem ajudar, todos devemos nos proteger. As famílias devem ajudar-se, os residentes da mesma vila devem ajudar-se, os moradores do mesmo bairro devem ajudar-se, etc. Tudo começou há alguns meses, mas a necessidade hoje se tornou muito premente.
Quero apelar para os ricos em todas as aldeias, em todas as cidades, esperando que eles me ouçam. Onde há funcionários ou clérigos do Hezbollah, não preciso apelar, porque nossas instruções são claras e serão aplicadas de forma imperativa, mas todos devem considerar parte do seu trabalho garantir o bem-estar de todas as famílias próximas de seu campo de responsabilidade, porque, com o tempo, alguns podem não ter sequer um pedaço de pão, não encontrarão o suficiente para se alimentar ou obter os produtos essenciais de uma vida decente. Devemos fazer tudo ao nosso alcance, devemos ajudar-nos e estar unidos, fazer doações (adiar pagamentos de aluguéis ou dívidas), etc. Isso deve ser visto como responsabilidade de todos.
Da mesma forma, o governo deve fazer a coisa certa a esse respeito. Não basta impor fechamento após fechamento. Alguns estão com pressa de ver um estado de emergência declarado. Estou anunciando claramente que a qualquer momento em que o governo libanês considerar que seja de interesse nacional declarar um estado de emergência, ninguém suponha que o Hezbollah se oporá.
O Estado é livre para fazê-lo a qualquer momento, e nós o respeitaremos.
São vocês, o governo libanês, que lideram a batalha, através dos Presidentes (da República, do Conselho de Ministros e do Parlamento) e dos ministros, sob a tutela de Sua Excelência o Presidente da República, do Presidente do Parlamento e de todas as instituições do Estado. Quando entenderem que seja hora de declarar estado de emergência no Líbano, a decisão é de sua responsabilidade (exclusiva) e deve fazê-lo (sem hesitação), sem prestar atenção a ninguém.
Mas até que chegue esse momento, e mesmo que chegue, quando o governo decreta o fechamento de tal e tal ramo (educação, restaurantes, etc.), também é necessário procurar uma alternativa, porque há pessoas que se encontrarão sem salário, sem meios de subsistência.
Estamos cientes de que no Líbano há muitas pessoas que, se não trabalham em um determinado dia, não têm o suficiente para comprar comida para esse dia. Este problema faz parte da batalha. Não se trata apenas de hospitais, drogas, etc. Esta questão faz parte da batalha. Se remediarmos o primeiro aspecto (médico e saúde), mas ignorarmos o outro (social, salário, etc.), não apenas perderemos a segurança de nossa sociedade (violência, delinquência, tumultos etc.), mas também o primeiro aspecto, a batalha contra a propagação do vírus, será perdido.
“Digo ajuda aos cidadãos e a instituições da sociedade, para enfrentarem a pandemia, não digo empréstimos com altas taxas de juros” [ Risos]
A esse respeito, acompanho de perto a questão nos últimos dias e vi que em muitos países do mundo, bancos e finanças (privadas) anunciaram a seus governos que estão prontos para ajudar, porque possuem enormes somas de dinheiro à sua disposição, depósitos, etc., e se declararam prontos para ajudar. Digo ajuda, não digo empréstimos com altas taxas de juros [ Risos], mas para ajudar os governos, o setor da saúde, a dar-lhes os meios para lidar com essa epidemia meteórica e insaciável. Exorto as instituições financeiras libanesas a agirem com o mesmo senso de responsabilidade. Todos sabemos que o orçamento do Estado está em uma situação difícil.
Os interesses privados no Líbano têm somas absolutamente colossais de dinheiro e, desde 1993, acumulam ganhos astronômicos, nas dezenas de bilhões de dólares, e agora têm o dever de assumir essa responsabilidade, de forma voluntária. Se houver uma requisição, uma apreensão forçada de fundos por decreto, é assunto do governo e do Parlamento (votá-lo e promulgar).
Mas, como cidadão libanês, abordo os interesses privados libaneses, em particular o setor financeiro e bancário, e digo-lhes que eles são os primeiros que têm o dever de estender a mão ao governo libanês, às finanças do Estado libanês, ao setor da saúde e à solidariedade social, para que o povo possa suportar, perseverar e o país pode sair vitorioso dessa batalha.
Fé e paciência são nossas melhores armas contra o coronavírus
Meu último argumento em relação ao coronavírus – não tenho muitos outros pontos a mencionar, apenas dois, antes da conclusão e o segundo será breve. Meu ponto final sobre o coronavírus, e o mais importante para mim, é que, ao iniciar esta batalha (contra a doença), ó povo, ó meus amados, devemos nos armar com fé, fé em Deus, o Altíssimo e o Exaltado. Deus o Benevolente, Deus o Misericordioso, Deus o Capaz, Deus que possui em suas mãos o Reino dos Céus e da Terra, Deus Todo-Poderoso. Essa fé deve estar presente com força em nossa mente, em nossos coração, em nossa alma ao longo desta batalha, como deve ser o caso em todas as batalhas. E devemos nos refugiar em Deus, o Altíssimo e Exaltado. Chamem-no para ajudar, peçam proteção a Ele e busquem ardentemente a Sua presença. Devemos invocá-Lo para nos ajudar, nos dar os meios e nos guiar.
Essa batalha requer paciência, determinação, Resistência, esperança. Não nos desesperemos. É preciso persistência, força de vontade, resolução. E é Deus quem nos dá tudo isso. Essa batalha precisa de orientação, incluindo a orientação de estudiosos das ciências islâmicas, de cientistas, médicos, centros internacionais de especialização e pesquisa. É possível que, mesmo após 1 ou 2 meses, ou mesmo 1 ou 2 anos, ainda não tenham alcançado qualquer resultado (encontrando uma vacina ou medicamento). E é Deus quem pode guiá-los e ensinar-lhes o que eles ignoram. É Deus quem pode abrir as portas fechadas para eles. Você precisa apelar a Deus, o Todo-Poderoso e o Altíssimo, e ter fé Nele, e essa deve ser a nossa arma mais poderosa e constante nessa batalha.
Ouçam-me, meus irmãos e irmãs, meu povo: o maior perigo em qualquer batalha, seja política, militar, e mesmo na arena da saúde e medicina, é quando um dos beligerantes na frente de batalha é afetado pelo medo, terror, sensação de desamparo, fraqueza, quando se sente num beco sem saída e desespera-se. Quando a mentalidade derrotista toma conta de nós, tudo é arruinado, mesmo quando falamos de um exército poderoso, mesmo que possua armas nucleares, mesmo que suas capacidades sejam colossais. Porque a base está aqui, no coração, no eu interior.
Hoje, há muitos dedicados a assustar as pessoas, inspirar-lhes terror, dar-lhes a impressão de que estaríamos diante de uma pandemia insuperável, para a qual nenhum remédio pode ser encontrado e nenhum sucesso pode ser obtido, e diante do qual devemos admitir a derrota, desistir e lamentar. Isso seria verdadeiro desastre, e é até um crime. Esse crime é talvez tão sério quanto o de semear corrupção na Terra (um dos maiores pecados do Islã). Quem fala, comenta ou escreve nas mídias sociais deve estar particularmente atento ao fato de que assustar as pessoas, aterrorizá-las, espalhar mentiras, espalhar espírito derrotista, desespero, desânimo, fraqueza etc., isso leva à derrota e à nossa perda. Temos que superar essa crise.
Cada um de vocês tem de se considerar em guerra. Mesmo diante da morte … Suponha que essa doença seja isolada só nos hospitais e ali persista por algum tempo, e, como dizem os médicos, porque esse tipo de coisa tem tais e tais comorbidades, se o doente for idoso ou não, suponha que o covid-19 realmente cause uma morte. Que Deus tire dessa morte um bem, nesse mundo ou no além! “Certamente vocês são chamados a morrer, como também os outros são chamados a morrer.” (Alcorão, 39, 30). “Toda alma provará a morte.” (Alcorão, 3, 185). Todos vamos morrer um dia, e se o decreto chegou, de um modo ou de outros, fim de história!
Quando resistimos, avançamos, ganhamos a vantagem e a vitória. Mas se a morte, o ferimento, a destruição só nos ensinam a derrota, então perdemos tudo.
Temos o dever de fazer tudo que esteja ao nosso alcance para nos autopreservar. Não podemos render-nos sem luta! Nunca! Nosso dever religioso é fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para proteger a nossa vida e a vida dos demais. Mas suponhamos que a morte nos atinja desse ou de outro modo. Que Deus faça com que algum bem resulte de nossa morte! Estamos satisfeitos com a vontade de Deus, o Altíssimo e o Exaltado, e temos de continuar a viver. É como na guerra: na guerra, as nossas casas são destruídas, assim como os nossos bens e recursos; os nossos entes queridos são mortos, feridos, convertidos em refugiados, atingidos por todos os tipos de mal. Mesmo assim, resistimos. Quando resistimos, avançamos, ganhamos a vantagem e a vitória. Mas se a morte, o ferimento, a destruição só nos ensinam a derrota, então perdemos tudo.
O mesmo vale para esta batalha (contra o coronavírus). É a fé que nos dá essa força. (Podemos resistir e vencer graças) às invocações, com o pedido de intercessão (dos Profetas e dos Imams), com o chamado a Deus, o Altíssimo e o Exaltado. Todos podem fazê-lo à sua maneira, de acordo com suas crenças, porque o relacionamento com Deus é aberto (e pode ser expresso de diferentes maneiras). Todos podem invocar Deus na linguagem que desejam, da maneira que desejam, da maneira que entenderem. Falem com Ele como falam com uma pessoa. Deus ouve, sabe e entende o que vocês digam, conhece até seus pensamentos e seu coração. Deus conhece a sinceridade e o ardor. É por isso que precisamos dessa fé, dessas invocações e dessa alma forte. Não temos o direito de deixar que nossa coragem e nossa firmeza sejam abaladas. Devemos ser fortes diante desse desafio, mesmo que as verdades sejam difíceis, devemos manter a confiança em Deus.
Durante as várias guerras (travadas pelo Hezbollah), disseram que havia 100 mártires, 200 mártires, 1.000 mártires, 5.000 mártires, 10.000 feridos, 100.000 casas destruídas … Nada jamais nos abalou. E por isso sempre fomos vitoriosos. Hoje é a mesma coisa. Quaisquer que sejam as perdas infligidas por essa epidemia, devemos enfrentá-la com força e determinação. Os fortes são aqueles que sobreviverão e serão vitoriosos.
Peço a Deus, o Altíssimo e o Exaltado, saúde e salvação para todos, e que nos conceda vitória nesta batalha, com Sua graça. […]
[Fim da seção dedicada ao coronavírus. Nasrallah evocou a situação econômica do Líbano (inadimplência no pagamento de dívidas) e as vias de recuperação aceitáveis (exploração de petróleo e gás, a via chinesa etc.) e as inaceitáveis (tributação das classes trabalhadoras, rendição ao FMI ou aos ditames americanos, etc.). E concluiu com os eventos no Iraque.]
No Iraque, os Estados Unidos assinaram sua certidão de óbito
Quero concluir rapidamente, porque não tenho muito tempo, pois o Coronavírus monopolizou todo o meu discurso. Não tenho mais tempo para discutir a situação regional, os desenvolvimentos na Síria, no Iêmen e no resto da nossa região, mas quero dizer duas palavras sobre um assunto que não posso deixar de mencionar, a saber, o dever de condenar a agressão americana da noite passada no Iraque, contra quartéis (do exército nacional), posições (da Resistência iraquiana) e instalações civis. O exército iraquiano, a polícia iraquiana e os Comitês de Mobilização Popular (Hachd al Sha’bi), que são uma entidade oficial (integrada às forças armadas nacionais), foram alvo, bem como instalações civis, como o novo aeroporto de Karbala: é instalação da infraestrutura civil e, em nenhum caso, uma instalação militar.
O que os norte-americanos perpetraram ontem à noite foi uma violação (flagrante) da soberania iraquiana, além de qualquer acordo: mesmo que invoquem a existência de acordos (americano-iraquiano), nenhum acordo permite que EUA bombardeiem e destruam seja o que for, no Iraque. Basicamente, até para usar temporariamente o espaço aéreo iraquiano, os norte-americanos têm de pedir permissão, todas as vezes. Os norte-americanos violaram todas as linhas vermelhas e agiram com húbris, arrogância e despotismo, e também levados pela raiva, estupidamente e cegamente. E, em geral, a estupidez e a cegueira levam ao abismo.
O crime perpetrado pelas forças de ocupação americanas ontem no Iraque certamente começou a ser punido pelas respostas apropriadas – repetidos disparos de foguetes contra as bases americanas. E continuará recebendo as respostas apropriadas dos iraquianos, sejam eles governo, parlamento, pessoas, partidos políticos ou combatentes da Resistência iraquiana, desse querido povo nobre e digno que se recusa a viver sob a humilhação da ocupação e a arrogância desses demônios norte-americanos tiranos despóticos.
Pedimos a Deus que acolha e abrace em Sua Misericórdia os mártires iraquianos. Esperamos que, com a Graça de Deus, o povo iraquiano, por sua fé, sua força e sua Resistência, supere com sucesso esse novo e perigoso desafio.
Que Deus lhe conceda toda a saúde e toda a salvação. Com invocações, esforços, ação incansável, sinceridade, honestidade e ajuda mútua, atravessaremos esta etapa difícil e sairemos vitoriosos dessa guerra (mundial) (contra o Coronavírus), vitoriosos, de cabeça erguida, com a ajuda e a bênção de Deus, o Mais Alto.
Que a paz de e a misericórdia de Deus estejam com vocês.
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