Alejandro Acosta e Ricardo Guerra – 25 de junho de 2022 – Publicado com a permissão dos autores
O Brasil e a América Latina estão completamente dominados pelas forças que agem a serviço dos interesses do imperialismo:
- Impondo uma agenda de saque aos nossos recursos naturais e aos nossos patrimônios públicos, financeiros e estatais;
- E investindo pesadamente na retirada dos direitos duramente conquistados pelos trabalhadores, através da instituição da famigerada ideologia neoliberal (ver aqui e aqui);
- Uma agenda sistematizada e expressa por diversificados meios e estratégias de expropriação e dominação (cujo enfrentamento não é fácil) e envolve, entre outras coisas, o criminoso sistema da dívida pública (ver aqui e aqui), a agenda ambiental seletiva e a colonização cultural.
Tudo isso acontece com o explícito apoio de uma burguesia local, culturalmente cooptada e sem qualquer senso de pertencimento, encastelada num comportamento de vira-latismo que nos condena à condição permanente de dependência econômica (ver aqui e aqui e aqui).
Nos últimos anos escrevemos matérias sobre as estratégias de dominação imperialistas e a voracidade como estes se apropriam do imaginário coletivo das pessoas, subtraem descaradamente nossas riquezas, e submetem o Brasil e a América Latina à condição de meros fornecedores de matérias primas, determinando a eterna primarização das nossas economias.
Escrevemos também sobre cultura de massas e sobre consciência de classe, sobre a necessidade dos partidos de origem trabalhista resgatarem suas origens, sobre como lutar contra o massacre do Brasil e fortalecer o polo verdadeiramente revolucionário e anti-imperialista na esquerda nacional, e sobre a importância da organização de um projeto de desenvolvimento e integração nacional orientado para as reais necessidades do povo brasileiro e os interesses soberanos do Brasil.
Abordamos ainda, a importância do trabalho de base e da educação política dos trabalhadores, e até, com a amplamente veiculada possibilidade de Lula voltar ao poder, discutimos a necessidade de que tenha aprendido a lição e rompa de imediato com a tal política de conciliação, enfrentando o imperialismo de forma contundente – fortalecendo o Estado, opondo-se aos ditames impostos pela ideologia neoliberal e promovendo um projeto de desenvolvimento nacional popular soberano.
Agora é hora de enfatizar a importância da comunicação de massas e destacar a necessidade da configuração de uma aliança solidária para o enfrentamento ao massacre imposto pelo imperialismo e dar significação ao trabalho de educação política das massas, a partir das bases.
A esquerda revolucionária e anti-imperialista precisa se desvencilhar das amarras impostas pela atual conjuntura política, que apresenta um cenário muito difícil e complicado de atuação, no qual:
- Os movimentos de massas encontram-se extremamente fragilizados;
- E suas lideranças esqueceram a luta de classes, reduzindo o espírito de luta ao campo dos interesses individuais e de grupos.
Os mecanismos de contenção social (próprios do sistema capitalista e expressos pela ditadura do capital nas empresas) estão se fortalecendo tanto pelo medo do desemprego quanto pela atuação das lideranças oportunistas e reacionárias ditas de “esquerda”, que funcionam como colchão de controle das massas – claramente agindo no sentido da desmobilização de qualquer forma mais contundente de reação popular, contra a fome, o desemprego e a retirada dos direitos trabalhistas.
Sem o domínio da narrativa dos fatos e dos acontecimentos políticos que realmente interessam, a esquerda trocou a combatividade de outrora pela preocupação com a formalidade institucional, pensando exclusivamente nas eleições e limitando a sua atuação simplesmente a denúncias não muito contundentes.
Assim, enquanto as direções das principais organizações de massas foram sendo tomadas por arrivistas pequeno burgueses, agindo a serviço do massacre do povo brasileiro:
- Sob o controle da burguesia nacional, completamente submissa ao imperialismo;
- A esquerda foi “se deixando inebriar” pelo canto da sereia da ideologia neoliberal;
- Cujo objetivo é descarregar o peso da crise do capitalismo mundial (que é a mais profunda da história) sobre os trabalhadores, e passa pela imposição de estados de sítios de maneira generalizada – como nunca visto.
A imprensa, a educação, a família e a religião estão cada vez mais hiperdireitizados e, além da máfia sindical das direções dos movimentos sociais – que estão em farrapos.
A situação torna-se ainda mais complicada, com a entrada em cena dos mecanismos de força bruta impulsionados com o apoio do judiciário, da polícia e do exército, estabelecendo a configuração de um Estado policialesco:
- Estruturado através de mecanismos de repressão de forma aberta, cujas bases se encontram nas forças armadas e nos grupos fascistas locais;
- E organizando aparatos institucionais que possam dar aos governos uma “perspectiva de legalidade” para monitorar, perseguir e punir qualquer um que seja contra seus interesses e ideologia, ou seja, contra os interesses e a ideologia do império (ver aqui, aqui, aqui e aqui).
Dessa forma, enquanto o cerco contra os interesses dos trabalhadores e a voracidade da investida imperialista contra os países da periferia do sistema capitalista estão sendo aprofundados:
- Os agentes locais que atuam fazendo o serviço sujo para beneficiar o imperialismo, continuarão a fazer de tudo para suprimir qualquer possibilidade de formação do pensamento crítico no seio da sociedade;
- Valendo-se da desinformação e do medo como forma de governar.
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O governo Bolsonaro foi alçado ao poder exatamente para isso:
- E representa o ápice da subserviência e o controle total do imperialismo estadunidense sobre o Brasil;
- Um verdadeiro vale tudo para fazer do Brasil uma terra arrasada;
- E o pior, sem nenhuma resistência da denominada “esquerda” oficial, que passou a atuar a serviço deste governo entreguista e descaradamente favorável a agenda imperialista de massacre do país e eliminação dos direitos duramente conquistados pelos trabalhadores e pelo povo brasileiro.
Já passou da hora de empreendermos todos os nossos esforços para a construção da consciência histórica e de classes e investirmos (com contundência) na educação política dos trabalhadores, estabelecendo mecanismos para a superação de um ambiente social marcado pela omissão de informações, promoção de distorções e propagação de manipulações de informações, dados e fatos econômicos, políticos e sociais.
O momento é de luta e precisamos enfrentar o uso (massivo e massificador) que a burguesia sempre fez do pensamento superficial e acrítico, impulsionado por uma mídia que age a serviço de interesses contrários à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico, humano e social do nosso povo.
As nossas demandas só serão contempladas com o povo organizado e a consciente mobilização para a luta depende da superação desse processo de alienação intelectual e cultural impostos à nossa população.
Portanto, para enfrentar o imperialismo, a esquerda verdadeiramente revolucionária precisa:
- Trabalhar incansavelmente pela e para a elevação do conhecimento da população para a luta política;
- Dialogando com os trabalhadores nos locais de trabalho, de convivência e de moradia;
- Articulando suas experiências adquiridas, em busca da construção de um processo de organização e mobilização para a luta, que necessariamente precisa passar pela democratização do acesso aos meios de comunicação de massa.
A promoção da consciência de classe e a organização e mobilização popular para a luta anti-imperialista só poderá ser realmente viabilizada se forem priorizadas a caracterização clara e objetiva da conjuntura política atual – e estabelecida uma linha de atuação prática, para:
- Lutar contra o desmonte da nossa já limitada legislação trabalhista e contra o desemprego imposto pelo golpismo;
- Lutar contra a terceirização, o subemprego e a crise econômica geral;
- E lutar contra a vergonhosa entrega do patrimônio nacional promovida pelas privatizações.
Ou seja, a bandeira de luta deve ser a contraposição à ideologia colonizadora imperialista e o enfrentamento à imposição da agenda neoliberal.
Informar os trabalhadores massivamente e expressar-se frente às mentiras e golpes que a burguesia imperialista (aliada a burguesia local) dispara contra os interesses do país e do povo brasileiro, implica no investimento na abertura de novos meios oficiais e não oficiais de formação e educação política do povo:
- Estimulando os trabalhadores a criarem seus meios de comunicação;
- Apoiando jornalistas identificados com as causas populares a criar meios de comunicação orientados para a luta anti-imperialista e os reais interesses das massas;
- Organizando mídias tradicionais, eletrônicas e digitais, e incentivando e reativando TVs e rádios convencionais, comunitárias e populares com conteúdo anti-imperialista e orientado para a causa do trabalhador;
- Enfim, se comunicando com os trabalhadores dos diversos cantões do país e enfrentando de forma objetiva os meios burgueses de comunicação.
Inclusive, essa é uma das principais críticas que se faz à gestão Petista, quando esteve à frente do poder central do país por 13 anos e destinou bilhões para publicidade oficial nos meios de comunicação burgueses – fortalecendo-os, enquanto, por exemplo, rádios comunitárias eram fechadas, e também por:
- Não envidar os devidos esforços para a regulação da mídia, no sentido de promover a prestação de serviços de comunicação com base no interesse público e baseados em regras para o funcionamento democraticamente equilibrado de informações;
- Não fortalecer a participação dos trabalhadores (nem dos movimentos populares, dos povos indígenas, etc.) nas Tv’s comunitárias e convencionais;
- Não abrir jornais ou canais estatais de comunicação para levar a narrativa de seu governo às ruas;
- E ainda permitir que canais de comunicação estatais mantivessem a mesma linha política da mídia golpista, como aconteceu com a TV Brasil na época do golpe que retirou a presidente Dilma do poder.
Cabe a nós, Revolucionários anti-imperialistas, impulsionar esse movimento, fazer a nossa parte, e não ficar jogando apenas no colo dos partidos, do PT e dos governos a cobrança por essa responsabilidade.
O Estado burguês pode e precisa ser superado, seja através de sua transformação por meio de reformas sociais profundas ou pela sua eliminação por meio de uma revolução:
- Precisamos resistir e avançar nesse sentido;
- E a educação política é imprescindível para a construção desse processo do qual uma nova sociedade pode emergir, orientada para a satisfação das necessidades essenciais de todos os cidadãos, aportada em critérios justos de distribuição de riqueza e poder.
É conversando com outros trabalhadores, moradores e lideranças que serão construídas as estratégias a serem adotadas no sentido de estabelecer a criação de espaços mais eficientes de comunicação e formação política para a luta de classes.
Além disso, pensando no grande desafio que é a continuidade no processo de construção de um cenário permanente de participação e mobilização popular, é muito importante construir estratégias para que todos sejam envolvidos e estejam realmente engajados nas ações e encaminhamentos realizados, de forma que a consciência de classe possa realmente aflorar (e a educação política acontecer) em um ambiente repleto de significação na vida das pessoas.
É preciso compreender que o processo de construção de uma sociedade, organizada a partir de uma nova base material, passa necessariamente pela formação do homem novo:
- Para isso, as formas de organização coletiva precisam ser distintas das que atualmente vigoram no capitalismo;
- E a prática da solidariedade é o elo que deve dar liga a todo esse processo, caracterizando-se como a condição principal para que o trabalho de base perdure, frutifique e possa ter continuidade.
Ações para resolver problemas comuns (coletivos e/ou individuais) como bater uma laje em conjunto, organizar uma horta coletiva e lutar por saneamento ou por ponto de ônibus na comunidade, significam dar vida aos debates políticos através da prática, e é justamente na prática da ação conjunta e solidária que o encaminhamento e a continuidade de todo o trabalho de formação nas bases deve acontecer.
Isso não significa que as rodas de conversas e a divulgação das ações dos grupos de mobilização nos locais de moradia, convivência e trabalho, através de murais, jornais, rádios, criação de blogs, sites e afins, devam perder a importância:
- Esses espaços, além de possibilitar a divulgação das atividades;
- Oferecem a oportunidade de registrar as realizações e de mobilizar mais gente no processo de educação política.
Mas não podemos esquecer que vivemos num mundo permeado pela tecnologia digital e, no meio de todo esse processo, é preciso saber se beneficiar da alta visibilidade que a web dá, oferecendo um elemento a mais a ser utilizado no ambiente da educação e formação política no ambiente dos movimentos populares.
Em síntese, a ideia de libertação do processo de expropriação capitalista não pode ser pautada por uma perspectiva de promessa para o futuro:
- Essa é uma ideia que precisa ser vivenciada no dia-a-dia;
- Em cada luta concreta, para as quais se exige a construção dos laços da solidariedade;
- Leituras, debates e grupos de estudos ajudam muito, mas é a prática solidária que vai dar significação ao trabalho de base.
A nossa militância, antes de qualquer coisa, precisa representar um modo de viver e de conviver em comunidade: é a luta diária e concreta da vida das pessoas o ambiente onde a configuração de uma aliança solidária para a construção de uma nova sociedade pode e deve avançar!
Fonte : https://plramericalatina.com/index.php/2022/06/25/comunicacao-de-massas/
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