25/4/2021, The Saker (para Unz Review), The Vineyard Of The Saker (excerto)
“Só muito raramente Putin faz ameaças, mas quando ameaça o pessoal presta atenção, porque todos compreendem que os alertas que Putin dispara jamais são blefe; e que quando diz que fará alguma coisa, realmente está preparado para fazer, porque não ameaça em vão. Nesse caso, Putin disse que, se a Rússia for agredida, usará Armas Combinadas de dois Exércitos e três Divisões Aeroembarcadas, tudo isso apoiado por armas hipersônicas russas de longo alcance e, se tudo o mais falhar, pela mais moderna e robusta tríade nuclear que há hoje no planeta.
Quanto a o que seria uma “linha vermelha” russa, Putin deliberadamente optou por nada precisar. Disse apenas – e ambiguamente – que “temos muita paciência, toda a responsabilidade e todo o profissionalismo, autoconfiança, e plena segurança da correção de nossa posição; e bom-senso, quando se trata de tomar decisões. Mas espero que ninguém cogite de cruzar as chamadas ‘linhas vermelhas’ da Rússia. E nós determinamos, caso a caso, onde as traçamos” (íntegra do discurso, em português, aqui).
O ponto dessa ambiguidade estratégica é deixar que o ‘ocidente’ permaneça mergulhado em dúvidas sobre quando seria seguro fazer algum movimento e quando seria excessivamente arriscado. Simples cuidado que maximiza o efeito de contenção do restante do discurso.
E hoje os russos “esclareceram” que o Estreito de Kerch não foi fechado ao tráfego, sequer ao tráfego ucraniano. A Rússia ‘só’ declarou algumas zonas de exclusão para exercícios militares [a questão é comentada por analista italiano, aqui, em port.], mas o tráfego sob a ponte da Crimeia permanece aberto. OK. E quanto tempo é necessário para que a Rússia novamente feche (de verdade) esse estreito? Minutos. Essa ameaça não dita é, antes de tudo, ameaça aos ucranianos, para que não esqueçam que seria muito fácil, para a Rússia, cortar suas linhas de comunicação, no caso de ameaçarem a Rússia.
Sim, Putin venceu essa rodada muito elegantemente, sem perder sequer um soldado russo. Mas o problema é que esse inegável sucesso russo de fato nada resolve. Todas as causas que levaram o regime ucro-nazista a arrastar toda a região até a beira do abismo continuam presentes. Dentro da Ucrânia, nada mudou. De fato, as coisas até pioraram: há censura total dos canais de TV da oposição, há perseguições políticas (incluindo tortura e sequestros), a retórica de guerra continua. A economia está em cacos, e os ucranianos estão emigrando aos milhões (para a Rússia e para a União Europeia). Os esquadrões da morte de grupos nazistas continuam a gozar de total impunidade; a catástrofe da pandemia de COVID é total (o ‘ocidente’ fornece armas letais aos ukies para usar contra russos, mas não fornece vacinas, e muito mais pessoas estão morrendo de COVID, do que nas linhas de contato armado! Aí está! (Eis os ‘valores’ ‘ocidentais’ e ‘europeus’ em ação…)
Claro, parece, sim, que uma combinação de cautela europeia, ‘mais’ a probabilidade de membros da elite governante em Kiev virem a ser fisicamente eliminados por ataques russos, e ‘mais’, possivelmente, a constatação, pelo governo “Biden”, de que explosão total na Ucrânia tensionaria as relações EUA-Europa (com muitas culpas e responsabilidades jogadas de um lado para o outro) resultaram na situação que se tem hoje, de desescalada aparentemente viável.
Infelizmente, apesar da atual retomada, algum tipo de guerra entre Rússia e Ucrânia permanece provavelmente inevitável. Nesse momento, o núcleo mais duro das forças russas estão retornando às suas áreas normais de atividade, e apenas algumas permanecerão onde estiveram. Pode-se também ter certeza de que os russos farão importante revisão-análise de tudo que houve, para identificar o que não tenha funcionado e tenha de ser modificado. Resultado disso, na próxima vez os russos movimentarão suas forças ainda mais rapidamente.
Mas e quanto aos EUA, seus ‘procuradores’ e ‘agentes autorizados’ na OTAN, e o regime ucro-nazista?
Os EUA ainda pedalam para tentar retomar o controle de uma situação internacional que escapou completamente do controle do suposto hegemon mundial. Ainda mais importante, a situação interna dos EUA é realmente crítica, com várias crises muito graves acontecendo simultaneamente. Sim, também há muita cortina descendo na mídia-comercial norte-americana, mas a maior parte da população vê e sabe o que está realmente acontecendo.
Isso significa que os EUA estão tão fracos quanto instáveis. Por fim, a julgar pelas baixas competências intelectuais dos decisores dentro do governo dos EUA, todos temos sempre de esperar por movimentos imbecis, até mesmo perigosos, ou as duas coisas, desse governo de e para ‘minorias piradas autodeclaradas politicamente-corretas’ [ing. Woke-freaks] (especialmente dado que “diversidade” já substituiu completamente qualquer ideia de “competência”).
OTAN e EU estão em dificuldades. Ao mesmo tempo em que alguns países estão “totalmente alucinados” [a República Tcheca, os 3B (Bálcãs, Black Sea (Mar Negro) e Bálticos+PU?] outros tentam desesperadamente manter as coisas unidas [Alemanha]. Quanto ao regime em Kiev, mal se segura no poder e não tem alternativa, condenado a subir as apostas sempre e sempre e sempre e mais uma vez. Crucialmente, a junta em Kiev continuará a culpar a Rússia por absolutamente tudo e mais um pouco (cerca de 99% de tudo que a classe política ukie faz atualmente é odiar a Rússia e ameaçar derrotar militarmente os russos).
Nada disso se qualifica como “paz” em alguma acepção significativa da palavra (todos os dias morre gente, praticamente só civis). Pior de tudo, as mesmas causas só podem levar aos mesmos resultados, e bem pouco que alguém possa fazer para mudar isso.
Assim sendo, o que vemos é só um adiamento. E enquanto o poder em Kiev estiver em mãos de uma gangue de neonazistas, a guerra continuará a ser uma quase inevitabilidade. Só virá paz verdadeira quando os ucro-nazistas estiverem ou mortos, ou na prisão, ou mandados de volta para o Canadá. Até lá não haverá paz, só diferentes graus de guerra.*******
[assina] The Saker
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