Dmitry Orlov – 09 de julho de 2023
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Aqui está um exercício que você pode executar facilmente. Acesse translate.google.com. No painel esquerdo, selecione “Inglês” e no painel direito, “Chinês (simplificado)” (ou “Tradicional” se você gosta de toques extras). Agora, no painel esquerdo, digite BRICS. O que você verá no painel direito é o seguinte:
金砖国家
(Jīn zhuān guójiā)
Aproveite esta oportunidade para praticar sua caligrafia: pegue um papel de arroz, um pincel de caligrafia e um bloco de tinta e continue desenhando esses quatro caracteres até que todos os seus traços estejam perfeitos. Vá para strokeorder.com se não tiver certeza sobre a ordem dos traços; copie e cole cada personagem e veja como é feito. Em seguida, clique no pequeno ícone do alto-falante sob o chinês e pratique cantar “Jīn zhuān guójiā” até que seus tons atinjam uma qualidade perfeitamente clara e semelhante a um sino.
Agora você está pronto para meditar sobre o significado de cada personagem.
金 (jīn) = gold (ouro)
砖 (zhuān) = brick (tijolo)
国 (guó) = country (país)
家 (jiā) = home (casa)
Um pouco mais de pesquisa permitirá que você estabeleça que 国家 (guó jiā) se traduz simplesmente como “countries” (“países”).
E aí está: BRICS = “Gold Brick Countries” (países do tijolo de ouro). Isso não é bonito?
Isso tudo foi um aquecimento para discutir a potencial futura “moeda BRICS”, da qual, em preparação para a próxima cúpula dos BRICS, a ser realizada em Joanesburgo, África do Sul (o “S” dos BRICS) em agosto, muito de especulação infundada e espúria pode ser observada na selva da internet.
Parafraseando o personagem Sherlock de Doyle, “Quando você eliminou completamente o estúpido e o impraticável, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser o plano.”
Ideia estúpida nº 1: uma moeda do BRICS lastreada em ouro. Essa ideia sofre de várias deficiências fatais ao mesmo tempo:
1.1 – Não é possível imprimir ouro. Você tem que primeiro minerá-lo, refiná-lo e cunhá-lo. No final deste processo, você tem uma substância geralmente inútil. É verdade que é muito útil para dourar as cúpulas em forma de cebola de igrejas e catedrais e o interior da sede executiva de Trump. É também o metal preferido para alianças de casamento, dentes de adivinhos ciganos e fios de ligação de microchips. Não vamos deixar de fora a folha de ouro usada para embrulhar satélites, o revestimento de ouro em conectores eletrônicos e a deposição de vapor em janelas de bloqueio de infravermelho. Mas todas essas são aplicações de nicho e, além dessas, não são úteis para muita coisa.
1.2 – O ouro pode ser alvo de um ataque especulativo onde qualquer número ridículo de pedaços de papel impressos (euros, dólares) pode ser oferecido por alguma quantidade finita de ouro, colocando uma moeda lastreada em ouro em um estrangulamento. Se algum recurso-chave (petróleo no caso dos EUA) começar a acabar, uma corrida a uma moeda lastreada em ouro torna-se inevitável; foi isso que forçou Nixon a fechar a “janela de ouro” por volta de 1970. O termo “padrão ouro” pode soar bem, mas apenas até você ler as letras miúdas que dizem “primeiro a chegar, primeiro a ser servido” e “enquanto durarem os estoques” .
1.3 – A finitude do ouro como recurso limita o crescimento econômico. Algumas pessoas acreditam que isso é bom, mas elas devem estar falando sobre si mesmas. No que diz respeito aos russos, o crescimento econômico infinito é muito possível (por enquanto) em seu país quase infinitamente grande e em rápido aquecimento. A finitude do ouro, juntamente com seu uso como lastro para a moeda nacional, prejudicou o desenvolvimento econômico tanto nos Estados Unidos quanto no Império Russo durante a segunda metade do século XIX. Esta lição não deve ser esquecida.
Ideia estúpida nº 2: formular uma nova moeda com base em uma “cesta de moedas”. Isso exigirá amarrar uma moeda forte (yuan) a moedas relativamente fracas (rublo, rupia, rial), para não falar dos próximos candidatos do BRICS (Argentina, Turquia, etc…). Isso seria como calcular a média entre um elefante e depois alguns ratos. Claro, você pode fazer ajustes com base no tamanho de uma economia, no tamanho da população, na base de recursos, blá-blá, mas todas essas são questões politicamente controversas que devem ser evitadas.
Ideia estúpida nº 3: formular um modelo de moeda lastreado em recursos. Assim, a Rússia possui enormes recursos naturais, enquanto a China possui enormes recursos produtivos. O Brasil tem bastante de cada um. Como você os compara é, novamente, politicamente controverso e, novamente, um assunto que é melhor evitar. Claro, a única razão pela qual as nações do BRICS acharam adequado formar o BRICS é que todos eles têm muito a oferecer aos outros, mas tudo é baseado nos interesses nacionais de membros individuais e a formulação de um conjunto comum de padrões seria tanto desnecessário e impossível.
Agora vamos considerar o que é realmente necessário em uma “moeda” comum do BRICS (se você insiste em chamá-la assim):
1. Uma forma comum de avaliar transações de importação e exportação sem referência a moedas tóxicas como o dólar americano ou o euro. A forma como esse cálculo é feito pode ser decidida bilateralmente por quaisquer dois países, mas, como isso pode causar distorções de mercado e fornecer aberturas para especuladores de arbitragem comercial, seria melhor se algum mecanismo do BRICS fosse desenvolvido. Arranjos bilaterais podem ser um começo, e então outras medidas de harmonização podem ser tomadas para congelar os especuladores. O resultado final disso seria uma Unidade Nocional (NU), não uma moeda, mas uma técnica de contabilidade, representada pela letra grega nu, ν, talvez com o símbolo
atribuído a ele, para torná-lo parecido com um símbolo de moeda.
2. Uma forma de liquidar pagamentos no comércio internacional sem ter que emitir moedas nacionais para cobri-los ou ter que manter as moedas nacionais uns dos outros (como a Rússia, por exemplo, é atualmente forçada a fazer com as rúpias que ganha exportando petróleo para a Índia, que a UE importa após ter sido refinado em diesel e gasolina dolorosamente caros porque as sanções da UE são estúpidas e porque ser estúpido dói). O método preferido para evitar moedas tóxicas no momento são os swaps cambiais bilaterais, mas isso requer a emissão de moeda extra para financiá-los e, em seguida, manter as moedas uns dos outros em reserva. Um sistema melhor seria um sistema baseado em chit, em que cada transação comercial internacional entre os membros do BRICS é registrada na forma de um chit (essencialmente, um empréstimo de curto prazo com juros zero).
3. … liquidado por meio de uma troca de espécie, ou seja, ouro. Afinal, o 金 (jīn) dos BRICS existe para alguma coisa! Certos tipos de pessoas, ao ouvir a palavra “ouro”, tendem a se levantar nas patas traseiras e pendurar a língua para fora, choramingando, ofegando e salivando profusamente, mas não é disso que se trata. Cada membro do BRICS promete uma quantidade de ouro proporcional ao seu volume de comércio com outros membros do BRICS. Este ouro não pode ser negociado, alugado ou penhorado para qualquer outro fim que não seja o de regularizar os desequilíbrios comerciais que possam surgir de tempos em tempos. E, é claro, o ouro prometido passaria a ser avaliado em Unidades Nocionais (ν), como um inseto preso em âmbar e totalmente desvinculado do mercado tóxico de papel-ouro. Para acumular uma quantidade inicial suficiente de ouro, os países do BRICS seriam bem-vindos para liquidar suas participações em USTs e outros instrumentos financeiros tóxicos e usar os rendimentos da moeda tóxica da liquidação para comprar ouro físico e transportá-lo para fora de jurisdições tóxicas. E se, apesar de tais esforços, os suprimentos de ouro se mostrarem insuficientes para cobrir os desequilíbrios comerciais, então outros tipos de ativos poderiam ser prometidos (se todos os lados concordarem).
O que estou descrevendo aqui não é um blockchain IA do Inferno; ao contrário, essa forma de estabelecer o comércio internacional é distintamente do século XVIII e bastante conservadora. O sistema foi chamado de “chits and specie” e funcionou muito bem. A espécie naquela época eram dólares de prata mexicanos, não ouro, mas poderia ser qualquer coisa, na verdade, com a qual todos os lados concordassem. O ouro simplesmente é um bom candidato.
Isso também pode responder à pergunta estúpida de “Qual será a nova moeda de reserva?” A resposta seria: “Não vai haver uma”. O mundo já pisou nesse rastelo vezes suficientes para aprender a lição. Nenhum país são deveria estar disposto a se tornar a próxima cobaia no experimento da moeda de reserva, que falhou todas as vezes que foi tentado. As únicas pessoas que se beneficiam com a existência de uma moeda de reserva são os banqueiros sugadores de sangue, advogados e especuladores. Eu acredito que a abordagem certa é matar o dólar americano (o euro então murchará na videira por si só e o iene está morto como uma cerca de qualquer maneira) e então acabar com essa questão cansativa.
Fonte: https://boosty.to/cluborlov/posts/b1ed19b0-12a7-4679-abeb-b696cfea6374?share=post_link
Caracas!!! Uma pessoa que pensa traz o problema de forma clara e o põe em cima da mesa. E ainda deixa pistas para a solução.