Pare a Guerra do Império no Mundo: de Tom Lehrer a Robert Frost

Batiushka para o Blog Saker – 03 de dezembro de 2022.

Sempre houve e sempre haverá confrontos e tensões entre diferentes civilizações. Nas palavras de uma velha canção de Tom Lehrer, National Brotherhood Week:

Os protestantes odeiam os católicos,

Os católicos odeiam os protestantes,

Os muçulmanos odeiam os hindus,

Os hindus odeiam os muçulmanos,

E todo mundo odeia os judeus.

Assim cantou um cantor judeu, alguns de cujos ancestrais, creio eu, fugiram para os EUA após o pogrom de 1905 em Odessa, uma cidade que no momento ainda está na Ucrânia [1].

Isso nos leva a examinar o velho ditado de que: ‘A religião é a causa de todas as guerras’. Como padre, posso de certa forma concordar com isso, como também com a afirmação de Marx de que “a religião é o ópio do povo”. Posso concordar com ambos porque, como padre, não me prendo à religião e não sou religioso. Graças a Deus!

Talvez eu devesse explicar aos confusos.

A religião sempre foi uma manipulação do Estado, usada para controlar as populações. Se você já visitou uma igreja protestante, você saberá disso. Lá, para nosso espanto, as pessoas têm que entrar em fila e são orientadas a se sentar em fileiras organizadas em determinados assentos, e então são instruídas a se levantar e se sentar, enquanto são bombardeadas com discursos moralizadores para fazê-las se sentir culpadas e atirar dinheiro. Um caso mais claro de manipulação de massa organizada certamente não pode ser encontrado. No entanto, para ser justo, deve-se dizer que os Estados são capazes de fazer o mesmo com qualquer ‘religião’ absoluta.

Os Estados usam a religião para dividir e criar guerras. (Assim, a religião não é a causa de todas as guerras, mas é usada como disfarce para a causa de todas as guerras). Por quê? Porque se você disser abertamente, ‘vamos invadir você porque somos um grupo étnico diferente e somos extremamente gananciosos e cruéis e queremos roubar e saquear seu território e recursos naturais’, as pessoas podem não seguir você. Mas se, como George Bush, você disser ‘Deus me disse para invadir o Iraque’ ou ‘o papel da OTAN é trazer liberdade e democracia’ (e se esquecer de acrescentar, ‘mesmo que isso signifique varrer você da face da terra’), você sempre encontrará alguns jornalistas venais, idiotas úteis e zumbis propagandeados para acreditar em você e segui-lo. Em outras palavras, os Estados sempre usaram a religião como camuflagem para justificar seus motivos fundamentais e mais básicos. Portanto, a religião é de fato o ópio do povo.

Por que eu, um padre, estou dizendo isso? Principalmente porque é verdade. Mas também porque não tenho nenhum interesse em religião, meu único interesse é a fé. A fé vem da experiência espiritual, ou você a tem, ou não. Mas é bem diferente da ‘religião’ inventada pelo Estado, que é usada para manipular as massas.

Agora todas as civilizações são baseadas na fé, em uma intuição e experiência espiritual original. É um fato histórico. Não importa se você é judeu, animista, hindu, zoroastriano, budista, confucionista, cristão ortodoxo, maia, muçulmano, xintoísta, católico, inca, asteca, sikh ou, mais recentemente, protestante, sua civilização e, portanto, sua cultura, depende da sua fé. Uma Civilização que não tem base espiritual, fé, não é uma Civilização, é uma Anti-Civilização. E disso falaremos mais adiante.

Por milênios, as civilizações viveram lado a lado. Como dissemos, de vez em quando elas se chocam espontaneamente e se chocam violentamente sobre identidade étnica, território e recursos. No entanto, a Civilização Ocidental é bastante singular.

A Civilização Ocidental, que existe basicamente há mil anos (o que significa que é bastante recente em termos históricos comparativos) é a única que afirma ser única e que consistentemente implementou sua suposta infalibilidade e consequente intolerância de forma sistemática e institucionalizada via violência organizada ao longo de sua existência milenar.

Assim, tivemos a Primeira Cruzada (1096-1099), que começou massacrando e roubando judeus na Renânia e depois massacrou cristãos ortodoxos e muçulmanos, derramando sangue, que lhes corria até os joelhos no que diziam ser a cidade “santa” de Jerusalém. Devemos mencionar a Inquisição ou as atrocidades espanholas e portuguesas no que hoje chamamos de América Latina?

Claro, para ser justo, não podemos deixar de mencionar as ‘Guerras de Religião’ (sic) protestantes-católicas europeias, nas quais milhões morreram. As seitas protestantes também lutaram entre si, sem dúvida para provar qual era a mais maldosa e a mais fanática. Os protestantes, não os católicos, tinham caça às bruxas, nas quais queimavam até à morte milhares de mulheres pobres, velhas e jovens. Esta foi uma forma de bullying social daqueles que eram de alguma forma diferentes. Os protestantes massacraram os nativos da América do Norte e estacionaram os sobreviventes em campos de concentração, que elegantemente mascararam sob o nome de ‘reservas’ e escravizaram milhões de africanos para trabalhar em seus campos de trabalhos forçados, que chamaram de ‘plantações/plantations’. Afinal, ‘Arbeit macht frei’, ‘O trabalho liberta’. Embora não se você for branco, é por isso que gentilmente permite que não-brancos trabalhem para você.

Grande parte da caça às bruxas remonta ao ódio protestante e ao medo das mulheres e, portanto, sua obsessão por sexo (“o único pecado”), que herdou diretamente do celibato clerical obrigatório imposto pelo papado na Europa Ocidental dos séculos XI e XII. Hoje, o velho puritanismo de perseguir as mulheres se transformou no movimento ‘verde’. Aqui, em vez da abstenção da impureza sexual, temos agora a igualmente fanática abstenção da impureza material, a pureza sexual é substituída pela pureza ambiental – ‘verde é limpo’, o único pecado é não reciclar. Este é apenas o novo puritanismo de Greta ‘Funberg’ claramente clinicamente deprimida e neurótica. (Que corolário de gargalhadas ela é; devem ser as escuras noites suecas). No entanto, o desvio final é a legitimação da homossexualidade: o que poderia ser mais odioso para as mulheres do que a sodomia?

A grande diferença entre o Ocidente e todas as outras civilizações é a sua intolerância única porque está convencida de que é infalível. (A infalibilidade papal pode ter sido dogmatizada apenas no século XIX, mas já havia sido proclamada por Hildebrand/Gregory VII no século XI). O Ocidente tem que impor.

Por outro lado, o presidente Putin aceita tudo, assim como a URSS, assim como os czares russos. Ouça novamente duas partes de seu discurso em 30 de setembro deste ano:

‘O que, senão o racismo, é a convicção dogmática do Ocidente de que sua civilização e cultura neoliberal é um modelo indiscutível para o mundo inteiro seguir? Você está conosco ou contra nós’… Uma das razões para a secular russofobia, a animosidade aberta das elites ocidentais em relação à Rússia, é precisamente o fato de que não permitimos que eles nos roubassem durante a era das conquistas coloniais e forçamos os europeus a negociar conosco em termos de benefício mútuo. Isso foi alcançado com a criação de um forte Estado centralizado na Rússia, que cresceu e se fortaleceu com base nos grandes valores morais do cristianismo ortodoxo, islamismo, judaísmo e budismo, bem como na cultura russa e no mundo russo, abertos a todos.

Que outras civilizações tenham outros valores. Mas se acharmos a homossexualidade antinatural e anormal, deixe-nos em paz. Esses são os nossos valores. Nós permitimos que você faça o que quiser em seus países, portanto, pare de impor isso a nós. A Ucrânia, com exceção do extremo oeste recém-habsburgizado e polonizado, não faz parte do mundo ocidental. Pare de tratá-lo como se fosse parte do seu mundo. Se países católicos como a Polônia e a Eslováquia quiserem se juntar a você na promoção da sodomia, não os impediremos. Se países católicos como a Hungria não concordam com você, deixe-os se juntar a nós. Não temos nada contra os católicos tradicionais. Nós não nos intrometemos – ao contrário de você.

Essa intolerância única da ‘Civilização’ Ocidental – se é que é isso – nos lembra um poema escrito antes da nova grande queda do Ocidente em 1914, por um poeta americano, talvez o maior poeta americano, Robert Frost. Em ‘Mending Wall’ [2] vem aquela frase famosa: ‘Boas cercas fazem bons vizinhos’.

O fato é que uma linha de falha atravessa a Europa. Essa linha de falha tomou uma forma mais ou menos definitiva no século XI. Tem mil anos. É a linha divisória que separa o mundo católico (e, portanto, também o mundo protestante – essas duas coisas são os dois lados da mesma moeda) do mundo cristão ortodoxo. Ela separa a Finlândia, a maior parte dos Bálticos, a maior parte da Polônia, o extremo oeste da Ucrânia, a maior parte da Eslováquia, talvez a Hungria e certamente a Croácia do restante da Eurásia. Além do leste e do sul dessa linha está o resto do mundo, o mundo não-ocidental, cujas crenças, apesar de sua diversidade, em muitos aspectos têm muito mais em comum entre si do que com a anticivilização LGBT do mundo ocidental. Agora, o poeta da Nova Inglaterra, Robert Frost, continua a escrever em seu poema:

Antes de construir uma parede eu perguntaria para saber

O que eu estava bloqueando ou eliminando.

Bem, em resposta a Robert Frost, uma vez que toda a Ucrânia for libertada, vocês serão cercados, de modo a permanecerem bons vizinhos, vocês serão emparedados atrás de sua Anti-Civilização Woke [Identitária]. Como dissemos acima, uma Civilização que não tem uma base espiritual, fé, não é uma Civilização, é uma Anti-Civilização, e é nisso que a ‘Civilização Ocidental’ se tornou passo a passo. Você pode ficar com ela. Não temos o menor prazer em ver sua degeneração, ficamos chocados e angustiados com ela e sentimos compaixão por todas as suas vítimas. Pare a Guerra do Império contra a Rússia, diz o Saker, mas diríamos: Pare a Guerra do Império contra o Mundo.

Notas:

[1]. Talvez devêssemos mencionar aqui que nenhum pogrom jamais ocorreu na Rússia, mas apenas no que hoje é a Lituânia, Polônia, Moldávia e a Ucrânia ocidental. (Antes de 1942, Odessa era essencialmente uma cidade judaica). Os pogroms foram importados do vizinho Ocidente, onde também ocorreram pogroms violentos no século XIX, especialmente em países de língua alemã. O número total de vítimas ao longo de cerca de vinte anos no que foram basicamente distúrbios raciais entre pobres e judeus ricos (com muitos pobres de todas as nacionalidades sendo pegos no meio), às vezes iniciados por judeus, às vezes pelo outro lado, totalizaram aproximadamente o mesmo número que os alemães assassivam em um dia normal durante a Segunda Guerra Mundial. No geral, mais não-judeus morreram do que judeus durante os motins raciais pogrom no Império Russo. Claro, isso nunca é mencionado no Ocidente. Por quê? Talvez porque foi o Ocidente, e não a Rússia, que produziu o nazismo assassino de judeus. E por que havia tantos judeus vivendo no Império Russo? Porque eles foram expulsos na Idade Média da Europa Ocidental racista. Apenas um ponto de fato.

[2]. https://www.poetryfoundation.org/poems/44266/mending-wall


Fonte: http://thesaker.is/stop-the-empires-war-on-the-world-from-bob-dylan-to-robert-frost


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