Con todo agradeciemiento, tomado de http://blogdoalok.blogspot.ch/2016/09/the-saker-por-que-eventos-recentes-na.html
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Os mais recentes desenvolvimentos na Síria não são, creio eu, resultado de algum plano deliberado pelos EUA para ajudar seus “terroristas moderados” aliados em campo, mas sintoma de algo talvez pior: os EUA parecem ter perdido completamente o controle sobre a situação na Síria e, possivelmente, também em outros pontos. Permitam recapitular o que acaba de acontecer:
Primeiro, depois de dias e dias de intensas negociações, o secretário Kerry dos EUA e o ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia finalmente chegaram a um acordo sobre um cessar-fogo na Síria que teria potencial para pelo menos “congelar” a situação em campo, até as eleições presidenciais nos EUA e a troca de governo (esse é agora o evento mais importante no futuro próximo; assim sendo, nenhum plano de nenhum tipo estende-se além daquela data.
[o golpe no Brasil que derrubou a presidenta Dilma em golpe de ‘mudança de regime’ típico e instalou na presidência um vampiro fantoche dos EUA É UM DOS PLANOS QUE DEPENDE, PARA PROSSEGUIR, DO RESULTADO DAS ELEIÇÕES NOS EUA… (NTs) GO TRUMP!].
Foi quando a Força Aérea dos EUA, com mais alguns ‘parceiros’, bombardeou uma unidade do Exército Árabe Sírio, que não estava nem em movimento nem engajada em operações intensas, que simplesmente cobria um setor chave do front. O ataque norte-americano foi seguido por ofensiva massiva dos “terroristas moderados” que acabou por ser contida, com dificuldade, por militares sírios e as Forças Aeroespaciais Russas. Desnecessário dizer que, depois de tal provocação, o cessar-fogo morreu.
Os russos manifestaram total desagrado e indignação contra o ataque e começaram a dizer abertamente que os norte-americanos são “недоговороспособны”. A palavra significa literalmente “[gente, pessoa] incapaz para acordos” ou sem as competências mínimas para firmar um acordo e, na sequência, honrar o que assinou. É expressão polida, mas mesmo assim extremamente forte, porque implica, mais do que fingimento deliberado, a ausência da capacidade, dos meios morais necessários para respeitar a própria assinatura. Por exemplo, os russos têm dito com frequência que o governo de Kiev é “incapaz para acordos”, o que faz sentido, considerando-se que a Ucrânia ocupada pelos nazistas é, na essência, estado fracassado.
Mas dizer que uma superpotência nuclear mundial é “incapaz para acordos” é diagnóstico extremo e terrível. Significa basicamente que os norte-americanos enlouqueceram e perderam os meios morais mínimos necessários para firmar acordos, qualquer tipo de acordo. Afinal, governo que descumpra o que prometa ou tente burlar, mas o qual, pelo menos em teoria, conserve a capacidade para respeitar a própria assinatura em acordos não seria descrito como “incapaz para acordos”. É expressão que só é usada para descrever entidade que sequer tem condições mínimas indispensáveis para merecer a confiança necessária para que alguém possa iniciar negociações, porque não cumprirá o que for acordado. É diagnóstico absolutamente devastador.
Na sequência, vem a cena antiprofissional, patética, da embaixadora Samantha Powers embaixadora dos EUA na ONU que simplesmente levantou-se e saiu de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU quando o representante russo estava falando. Mais uma vez, os russos enfureceram-se, não pela tentativa infantiloide de ofender, mas pela absoluta falta de profissionalismo que Powers manifestou, como diplomata. Do ponto de vista dos russos, se uma superpotência levanta-se e sai da sala quando outra superpotência está falando sobre assunto crucialmente importante é, para começar, atitude irresponsável; mais uma vez, sinal de falta das competências mínimas indispensáveis para ser parte de qualquer negociação ou acordo.
Por fim, a coroação: o ataque ao comboio de ajuda humanitária na Síria, que os EUA, claro, atribuíram à Rússia. Mais uma vez, os russos mal acreditaram nos próprios olhos. Primeiro, porque foi flagrante (e sinceramente, de nível de jardim de infância) tentativa para ‘mostrar’ que “os russos também erram” e que “os russos mataram o cessar-fogo”. Segundo, apareceu aquela declaração cômica, dos norte-americanos, de que só duas forças aéreas poderiam ser autoras do ataque – ou os russos ou os sírios (como os norte-americanos supuseram que enganariam alguém, naquele espaço aéreo super controlado pelos radares russos, é questão que ultrapassa a minha capacidade de análise!). Sabe-se lá como, os norte-americanos “esqueceram” de mencionar a que força aérea dos EUA também está ativa na região, além de forças aéreas de vários aliados dos EUA. Mais importante: esqueceram de mencionar que, naquela noite, drones Predator norte-americanos armados voavam diretamente sobre aquele comboio.
O que aconteceu na Síria é dolorosamente óbvio: o Pentágono sabotou o acordo firmado entre Kerry e Lavrov; e quando o Pentágono foi acusado de ser responsável pelo ataque, rapidamente montaram (mal montado) um ataque sob falsa bandeira, e tentaram culpar os russos.
Tudo isso mostra que o governo Obama está em estado terminal de confusa agonia. A Casa Branca aparentemente está em tal estado de pânico ante a provável vitória de Trump em novembro, que perdeu, basicamente, o controle de toda sua política exterior em geral, e especialmente, na Síria. Os russos estão literalmente cobertos de razão: o governo Obama é realmente “incapaz para acordos”.
Claro: o fato de os norte-americanos estarem agindo como crianças malcriadas frustradas não implica que a Rússia tenha de se rebaixar. Já vimos Lavrov voltar sempre e sempre tentar negociar com Kerry. Não porque os russos sejam ingênuos, mas precisamente porque, diferente dos colegas norte-americanos, os diplomatas russos são profissionais que sabem que negociação e linhas de comunicação mantidas abertas sempre são, e por definição, preferíveis a dar as costas e sair da sala, sobretudo quando se negociar com uma superpotência. Os observadores que criticam a Rússia por ser “fraca” ou “ingênua” só fazem projetar sobre a Rússia o seu próprio modo de ser e agir, quase todo modelado pelos norte-americanos. E nem percebem que russos não são norte-americanos: pensam de modo diferente e agem de modo diferente.
Para começar, os russos não se incomodam com ser vistos como “fracos” ou “ingênuos”. De fato, preferem ser vistos desse modo, se essa percepção faz avançar seus objetivos e confundem o oponente sobre suas reais intenções e capacidades. Os russos sabem que não construíram o maior país do planeta por serem “fracos” ou “ingênuos” e não têm interesse em ‘lições’ que lhe venham de países mais jovens que muitos dos prédios russos.
O paradigma ocidental quase sempre é o seguinte: crise sempre leva a rompimento de negociações; em seguida vem o conflito. O paradigma russo é completamente diferente: crise leva a mais negociações que são mantidas até o último segundo, tentando impedir que irrompa o conflito.
Há duas razões para isso: primeiro, insistir em negociar até o último segundo possibilita procurar o mais possível por uma via pela qual sair do confronto; e, segundo, negociações nas quais se insista até o último momento possibilitam que o negociador aproxime-se o mais possível de pôr a seu favor a surpresa estratégica, no caso de ter de atacar. Assim, exatamente, a Rússia agiu na Crimeia e na Síria – sem absolutamente nenhum sinal ou, ainda menos, sem exibições propagandeadas de poder como meio para intimidar alguém (intimidação também é estratégia política ocidental, que os russos nunca usam).
Assim sendo, Lavrov continuará a negociar, não importa o quão ridículas ou inúteis pareçam essas negociações. O próprio Lavrov provavelmente jamais pronunciará publicamente a palavra “недоговороспособны”, mas a mensagem ao povo russo e aos aliados sírios, iranianos e chineses da Rússia sempre será clara: os russos, hoje, já perderam qualquer esperança de obter negociações proveitosas ou confiáveis com o atual governo dos EUA.
Obama & Co. estão assoberbados de trabalho, tentando esconder as reais condições de saúde e os problemas de caráter de Hillary e, no momento, provavelmente só conseguem pensar numa coisa: como sobreviver ao debate Hillary-Trump [2ª-feira, 26/9, na Hofstra University em Hempstead, N.Y.]. O Pentágono e o Departamento de Estado estão ocupados, sobretudo, em combater um contra o outro por causa da Síria, Turquia, curdos e Rússia. A CIA parece estar em guerra contra ela mesma, mas não se pode afirmar com certeza.
O mais provável é que algum tipo de acordo continuará a ser anunciado, por Kerry e Lavrov, se não hoje, então amanhã ou depois. Mas, francamente, concordo integralmente com os russos: norte-americanos são realmente “incapazes para acordos”, e nesse momento, os dois conflitos, na Síria e o da Ucrânia, estão congelados. Não digo “congelados”, isso sim, no sentido de “situação em que não há grandes desdobramentos possíveis”. Ainda haverá combates, especialmente agora que os aliados wahhabistas e nazistas dos EUA sentem que o chefe não está muito atento no comando, ocupado com eleições e conflagração racial quase generalizada nos EUA, mas dado que não há solução militar possível para nenhuma dessas guerras, os confrontos e ofensivas táticos não levarão a resultado estratégico.
Com exceção de algum ataque sob falsa bandeira dentro dos EUA, como o assassinato ou de Hillary ou de Trump por um “pistoleiro solitário”, as guerras na Ucrânia e Síria prosseguirão sem possibilidade de qualquer tipo de negociação significativa. E com Trump ou Hillary na Casa Branca, um grande “reset” acontecerá no início de 2017. Trump provavelmente quererá encontrar Putin para uma grande sessão de negociações que envolva todos os temas chaves entre EUA e Rússia. Se Hillary e seus neoconservadores chegarem à Casa Branca, nesse caso será quase impossível impedir algum tipo de guerra entre Rússia e EUA.
The Saker
PS: Alguns especialistas militares russos estão dizendo que o tipo de dano que se vê nas fotos e vídeos do ataque ao comboio humanitário não é consistente com ataque aéreo, sequer com ataque por artilharia; o que se vê parece ser resultado da explosão de vários IEDs [Dispositivos Explosivos Improvisados]. Se isso se confirmar, também não implica a Rússia, mas aponta para forças de “terroristas moderados” que controlam aquela locação. Ainda assim poderia ser ataque sob falsa bandeira ordenado pelos EUA ou, se não for isso, será prova de que os EUA perderam o controle sobre seus aliados wahhabistas em campo.
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