Além das guerras propriamente ditas, Washington provoca cada vez mais «guerras não convencionais» através de «operações cobertas», ou seja, secretas. Ocupam-se delas a Comunidade dos Serviços Secretos, formada por 17 organizações federais. Além da CIA (Agência Central de Inteligência), há a DIA (Agência de Inteligência da Defesa), mas cada sector das Forças Armadas – Exército, Aeronáutica, Marinha, Corpo de Fuzileiros Navais (Marines) – têm o seu próprio serviço secreto. Como também têm o Departamento de Estado e o da Segurança da pátria. Entre estes serviços, em competição azeda, uns com os outros, para agarrar apoios políticos e fundos federais, está a NSA, a Agência de Segurança Nacional.
A NSA é especializada em escutas telefónicas e informáticas, através das quais são espiados não só os inimigos, mas também os amigos dos Estados Unidos, como confirma o «datagate» suscitado pelas revelações do antigo funcionário Edward Snowden. Durante a Administração Obama, a NSA aumentou mais um terço do seu pessoal civil e militar elevando-o para 30.000 funcionários, duplicou o seu orçamento e mais do que triplicou os seus contratantes privados, aumentando-os de 150 para 500. O seu quartel general, em Fort Meade (Maryland), é muito maior do que o Pentágono.
A NSA dispõe de diversos centros, cada um com uma tarefa específica. O centro do Texas, espia a América Central e Meridional; o da Georgia, o Médio Oriente; o do Hawaii, os países na zona do Pacífico, compreendendo a Rússia e a China; o da Austrália, toda a Ásia. O centro em Inglaterra, espia a Europa, o Médio Oriente e o Norte de África. E no Utah opera um centro para a guerra cibernética, ou seja, para os ataques às redes informáticas dos outros países.
Neste quadro entram as «Psyops» (Operações psicológicas), em que estão envolvidas unidades especiais das Forças Armadas e dos Serviços Secretos USA. As mesmas são definidas pelo Pentágono como «operações planificadas para influenciar, através de determinadas informações, as emoções e as motivações e, portanto, o comportamento da opinião pública, das organizações e dos governos estrangeiros, e assim, induzir ou reforçar atitudes favoráveis aos objectivos prefixados.»
Esse é, exactamente, o objectivo da colossal psyop política e mediática lançada sobre a Síria. Pois que durante cinco anos (o livro foi escrito em 2017) se almeja destruir o Estado sírio, fragmentando-o a partir de dentro, com grupos terroristas armados e infiltrados a partir do exterior e provocando mais de 250 mil mortos. No momento em que a operação militar está a falhar, a seguir à intervenção russa de apoio a Damasco, em 2015, lança-se a operação psicológica para fazer parecer como agressores, o governo e todos os sírios que resistem às agressões. A ponta de lança da psyop é a demonização do Presidente Assad (como foi feito com Milosevic e Gaddafi) apresentado-o como um ditador sádico que gosta de bombardear hospitais e exterminar crianças, com a ajuda do amigo Putin (retratado como o neo-czar do império russo renascido).
No grande âmbito das Psyops coloca-se a criação, em 2011, da obra do Presidente Obama, a Atrocities Prevention Board, uma comissão especial da Casa Branca para a «prevenção das atrocidades». Preside a esta comissão a sua inspiradora,Samantha Power, assistente especial do Presidente e Directora dos Direitos Humanos do National Security Council, formado pelos conselheiros mais importantes da política estrangeira. A Power é especializada em denunciar presumíveis atrocidades, atribuídas aos que, de vez em quando, os USA marcam como o inimigo número um. Sob as asas do seu patrono, o poderoso financeiro George Soros,contribui para elaborar a doutrina «Responsabilidade de Proteger», que atribui aos Estados Unidos e aos mais tensos aliados o direito de intervir militarmente nos casos em que, de acordo com o seu juízo inquestionável, se estão a cometer «atrocidades em massa».
Psyop gigantesca que, invertendo a realidade, oculta as atrocidades em massa de que está constelada a História dos Estados Unidos, a iniciar com o genocídio da população autóctone norte-americana. Basta recordar, limitando-nos aos últimos cinquenta anos, as guerras contra o Vietnam, Camboja, Líbano, Somália, Iraque, Jugoslávia, Afeganistão, Líbia; os golpes de Estado orquestrados pelos USA na Indonésia, Chile, Argentina, Salvador – milhões de pessoas presas, torturadas e mortas.
Outra tarefa das agências de inteligência (serviços secretos), em particular da NSA, é indicar as pessoas perigosas para os Estados Unidos, de eliminá-las com ataques de drones e acções de comandos. Através de uma rede informática criptografada, a Real Time Regional Gateway, a NSA fornece a lista dos «alvos» e todas as informações necessárias para encontrá-los e eliminá-los com drones ou comandos. Para tal fim dispõe da tecnologia mais avançada, que permite localizar uma pessoa através do telefone móvel/celular, mesmo quando está desligado.
Como documenta o New York Times durante a Administração Obama, é o próprio Presidente que efectua a «nominação top secret» dos presumíveis terroristas a matar, com ataques de forças especiais ou com drones, A «kill list» – que compreende pessoas de todo o mundo que, julgadas como nocivas para os Estados Unidos e para os seus interesses, são condenadas secretamente à morte sob a acusação de terrorismo – é actualizada todas as semanas através do «mais estranho dos rituais burocráticos»: a teleconferência, gerida pelo Pentágono, por mais de cem responsáveis da «Segurança Nacional», os quais removem os dados dos mortos e adicionam outros, numa espécie de jogo macabroque um funcionário compara às estatuetas dos campeões de baseball. Assim, a lista é submetida ao Presidente para aprovação. Sobretudo, quando «junto ao terrorista, que será atingido pelo drone, está a família», pertence ao Presidente «a avaliação moral final». Junto à autorização do Presidente, o operador, sentado na consola de comando do drone, nos Estados Unidos, lança os mísseis contra o alvo, por exemplo, uma casa no Paquistão, indicada como refugio do presumível terrorista.
As acções de campo são efectuadas pelo USSOCOM, o Comando das forças especiais, que dispõe de dezenas de milhares de comandos dos quatro sectores das forças armadas.Nascidas como Boinas Verdes, oficializadas pelo Presidente democrata, Kennedy, em 1961 e empregadas na guerra do Vietnam, as forças especiais são promovidas pelo Republicano Reagan, que, em 1987, constitui o comando apropriado das operações especiais, o USSOCOM. Depois de terem sido usadas pelo republicano Bush na «guerra global contra o terrorismo», sobretudo no Afeganistão e no Iraque, com o democrata Obama assumem uma importância adicional. Como surge de um inquérito do Washington Post, as forças das operações especiais estão distribuídas em 75 países.
A sua missão oficial compreende: acção directa para destruir objectivos, eliminar ou capturar inimigos; guerra não convencional conduzida por forças do exterior, treinadas e organizadas pelo USSOCOM; anti-insurreição para ajudar os governos aliados a reprimir uma rebelião.
O uso das forças especiais oferece a vantagem de não necessitar da aprovação do Congresso e de permanecerem secretas, não suscitando reacções da opinião pública. Em geral, os comandos das operações especiais não usam nenhum uniforme, mas usam como camuflagem, as roupas locais. Os assassinatos e as torturas que levam a cabo, ficam, assim, no anonimato. O «Team Six», a elite da elite dos Fuzileiros Navais/Navy Seals, é tão secreta que, oficialmente, não se admite a sua existência. Segundo um relatório oficial, é esta unidade de forças especiais que, em 2011, mata Osama bin Laden, cujo presumível cadáver é sepultado no mar. Ou é encenada a morte de um Bin Laden já morto e capturado, para reforçar a reeleição do Presidente Obama.
Para a guerra «não convencional», o USSOCOM emprega mesmo companhias militares privadas, às quais é acrescentado um número cada vez maior de funções, antes realizadas pelos exércitos oficiais. Na área do Comando Central USA, que compreende o Iraque e o Afeganistão, os contratados pelo Pentágono são 150 mil. Acrescido daqueles assumidos por outros departamentos e exércitos aliados, cujo número é desconhecido, mas certamente elevado. Esses contratados são fornecidos por um oligopólio de grandes companhias, estruturadas como verdadeiras multinacionais.
Entre as mais qualificadas, a Xe Services Llc (conhecida anteriormente como Blackwater) que fornece «soluções inovadoras» ao governo USA e a outros. A DynCorp International, que se auto define «empresa global multiforme», especializada em «imposição da lei, peacekeeping e operações de estabilidade». Com um pessoal de dezenas de milhares de especialistas, esta sociedade anónima da guerra acumula uma vasta experiência em operações secretas, de quando, nos anos oitenta, ajudava por conta da CIA, Oliver North a fornecer armas aos contras de Nicarágua e, nos anos noventa, sempre por conta da CIA, a treinar e a armar o UCK, no Kosovo. Esta e outras companhias, entre as quais emerge a L-3 Communications, ocupam-se também das comunicações militares, construção de bases, «fornecimento de segurança» e «interrogatórios a prisioneiros». Muitos contractors provêm das forças especiais e dos serviços secretos; outros cumprem funções de bodyguards, intérpretes e equipas de serviços logísticos. Todos pertencem ao exército sombra privado, que apoia o exército oficial.
A estes junta-se o «exército humanitário» formado por todas as «organizações não-governativas» que, dotadas de avultados meios, são usadas pela CIA e pelo Departamento do Estado, para acções de destabilização interna em nome da «defesa dos direitos dos cidadãos». Neste mesmo quadro insere-se a acção do grupo Bilderberg – que o Magistrado italiano, Ferdinando Imposimato, denuncia como «um dos responsáveis pela estratégia de tensão e de massacres» em Itália – e a da Open Society do “investidor e filantropo, George Soros», artífice das «revoluções coloridas».
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