PT — GUERRA NUCLEAR: 8.2 A preparação para o ‘first strike’ nuclear

MANLIO DINUCCI

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GUERRA NUCLEAR
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De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe

8.2  A preparação para o ‘first strike’ nuclear

A doutrina nuclear USA para o séc. XXI, é enunciada em 2001, no relatório do Pentágono Nuclear Posture Review. O texto do relatório não é publicado oficialmente, ao ser submetido ao Congresso e, desse documento, são filtradas cópias das quais são extraídos e publicados alguns excertosDesses mesmos extractos, compreende-se como está articulada a nova doutrina nuclear: enquanto a precedente não deixava outra opção se não a de desencadear ou provocar a guerra mundial, a nova doutrina prevê uma gama de opções que permite escolher, de vez em quando, se usar uma arma não nuclear ou uma nuclear. Por conseguinte, a probabilidade do uso de armas nucleares, não diminui, mas aumenta.

Confirma-o a publicação, em Dezembro de 2002, de um documento de 6 páginas, extraído de uma directiva secreta assinada pelo Presidente Bush, em Maio de 2002. Afirma que «Perante o emprego de armas de destruição em massa contra os USA, contra as nossas forças no estrangeiro, contra os nossos amigos e aliados, os Estados Unidos reservam-se o direito de responder de uma maneira avassaladora, compreendendo o recurso a todas as nossas opções», entre as quais, precisa um funcionário da Administração, «está incluída  a opção nuclear». Por outras palavras, «Os Estados Unidos estão prontos a responder com armas nucleares a um ataque químico ou biológico, contra o seu próprio solo ou contra as suas próprias tropas no exterior».

Além da publicada, há uma parte classificada em que –  revela o Washington Post – «se autorizam ataques preventivos contra Estados que estejam preparados para comprar armas de destruição em massa». Vem assim confirmada a estratégia do «ataque preventivo», enunciada na National Security Strategy of the United States, publicada pela Casa Branca, em 20 de Setembro de 2001: «A América agirá contra estas ameaças emergentes antes que elas estejam completamente formadas. Para antecipar ou prevenir actos hostis da parte dos nossos adversários, os Estados Unidos irão agir, se necessário, de maneira preventiva».

Com base nessa doutrina, os EUA apontam para dotar as suas forças nucleares de capacidades crescentes de ‘first strike’, ou seja, de primeiro disparo nuclear. O programa de modernização das Forças Nucleares USA – escreve em 2017, Hans Kristensen, Director do Nuclear Information Project da Federação dos Cientistas Americanos (FAS) – permitiu realizar novas tecnologias revolucionárias que triplicam, aproximadamente, a capacidade destrutiva dos mísseis balísticos USA. É como se estivesse a planificar, ter a capacidade de combater e vencer uma guerra nuclear, desarmando o inimigo com um primeiro golpe de surpresa».

A tecnologia que mais contribui para aumentar a capacidade destrutiva dos mísseis balísticos USA é a «super-espoleta», um dispositivo que faz detonar a ogiva nuclear no momento mais oportuno para conseguir o efeito máximo sobre o objectivo. Antes da introdução desta tecnologia, mesmo as ogivas nucleares mais precisas não eram capazes de assegurar a destruição de objectivos reforçados, como silos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), explodindo sobre eles ou na vizinhança. A probabilidade de destruir esses objectivos com ogivas nucleares de mísseis balísticos lançados de submarinos, era de cerca de 50%. Agora, dotados da nova espoleta, as mesmas ogivas nucleares são capazes de explodir, na maior parte, sobre ou nas proximidades dos objectivos reforçados. A probabilidade de destruí-los é superior a 85 %.

«Como consequência, a força dos submarinos dos EUA é muito mais capaz do que era antes contra alvos reforçados como os silos dos ICBM russos. Há dez anos, só cerca de 20% das ogivas nucleares dos submarinos USA tinha capacidade de destruir objectivos reforçados; hoje, todas as ogivas têm essa capacidade» – escreve Kristensen em 2017  Graças à potência destrutiva acrescida dos seus mísseis balísticos, os submarinos americanos navegam agora, com um número de ogivas três vezes superior ao necessário para destruir a totalidade da força russa de mísseis balísticos nos seus silos, instalados em terra.»

Da estratégia da «destruição mútua assegurada» (cuja sigla é MAD, equivale à palavra inglesa ‘louco’) – adoptada durante a guerra fria quando, cada uma das duas super-potências sabia que, se tivesse de atacar a outra com armas nucleares, seria destruída, por sua vez – o Pentágono passa à estratégia do ‘first strike’, procurando adquirir a capacidade de desarmar a Rússia com um ataque de surpresa.

Seria efectuado, principalmente, por submarinos USA de ataque que, avizinhando-se da costa do inimigo, poderia destruir com as suas ogivas nucleares dotadas de ‘super-espoletas’ os silos de mísseis balísticos intercontinentais russos com base em terra. Cada submarino da classe Ohio tem capacidade para lançar, em menos de um minuto, 24 mísseis balísticos Trident armados com 120-190 ogivas nucleares, cuja potência explosiva é mais do dobro do que a de todos os explosivos não-nucleares usados na Segunda Guerra Mundial. O tempo empregado pelas ogivas nucleares para atingir os objectivos seria tal, que não deixaria à Rússia tempo de reagir. Neste ponto, se a Rússia decidisse efectuar a represália com as forças nucleares que restassem, os USA incendiariam as suas cidades com os seus mísseis balísticos intercontinentais e, com os seus mísseis anti-mísseis, reduziriam os efeitos do contra ataque russo. Isto não é um cenário teórico simulado num ‘war game’ (jogo de guerra), mas o plano estratégico no qual o Pentágono está a trabalhar.

Como contra medida, a Rússia está a transferir parte dos seus mísseis balísticos intercontinentais dos silos, vulneráveis em caso de ‘first strike’, instalando-os em plataformas lançadoras móveis, mantidas em constante movimento para fugir aos satélites militares e a um eventual ataco surpresa de mísseis nucleares. Por exemplo o Topol-M (SS-27, no nome de código da NATO) – míssil balístico intercontinental de propulsor sólido, com o comprimento de 22 metros, 2 metros de diâmetro e alcance de 11.000 quilómetros, existe na versão de silo,e na versão de lançador móvel. Dos 78 Topol-M prontos a ser lançados, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, em 2017, 60 estão instalados em silos e 18 em lançadores em movimento contínuo, no vasto território russo. A plataforma móvel do Topol-M e do míssil Yars – um autocarro especial de 16 rodas que têm em cima um tubo contendo os mísseis (que no momento do lançamento é colocado em posição vertical) – pode lançar de qualquer lugar, em qualquer momento.

Ainda mais potente é o novo míssil balístico intercontinental russo Sarmat (RS-28) de 100 toneladas, com um alcance de 18.000 km, capaz de transportar 10-16 ogivas nucleares que, ao tornar a entrar na atmosfera a velocidade hipersónica (mais de 10 vezes a velocidade do som), manobram para fugir aos mísseis interceptores, furando o «escudo».

Como plataforma de lançamento do Sarmat, informa a Pravda, em 2017, estão previstos comboios especiais Barguzin que, camuflados como comboios de passageiros ou de mercadorias, irão circular continuamente em cerca de 90.000 km da rede ferroviária russa para fugir aos satélites militares e a um eventual ataque surpresa de mísseis. Recebida a ordem, cada comboio será capaz de lanças seis mísseis balísticos intercontinentais com 60-96 ogivas nucleares.

A seguir:

8.3 Armas electromagnéticas, armas laser e ‘robots’ aéreos espaciais para a guerra nuclear

 

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

 

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