9.2 O sistema bélico planetário dos Estados Unidos da América
Na «geografia do Pentágono», o mundo está dividido em «áreas de responsabilidade», cada uma confiada a um dos seis Comandos Combatentes Unificados dos Estados Unidos: O Comando Norte, cobre a América do Norte; o Comando Sul, o Centro e a América do Sul; o Comando Europeu, a região que compreende a Europa e toda a Rússia; o Comando África, o continente africano (salvo o Egipto, que se agrupa no Comando Central); o Comando Central, o Mediterrâneo e a Ásia Central; o Comando Pacífico, a região da Ásia/Pacífico.
Cada um dos Comandos Combatentes Unificados é composto por comandos de diversos componentes das Forças Armadas USA, naquela área. Por exemplo, o Comando Europeu dos Estados Unidos é formado por: Exército USA na Europa, Forças Aéreas USA na Europa, Forças Navais USA na Europa, Forças Marines USA na Europa, Comando de Operações Especiais USA na Europa. O comando de cada força está articulado, por sua vez, numa série de sub-comandos e unidades. Por exemplo, o Exército USA, na Europa, tem 22.
Aos seis comandos geográficos juntam-se-lhes comandos três operativos à escala global: o Comando Estratégico, responsável pelas forças nucleares terrestres, aéreas e navais, das operações militares no espaço e espaço cibernético, do ataque global, da guerra electrónica e da defesa dos mísseis; o Comando para as Operações Especiais, com um comando específico em cada uma das seis áreas mais um na Coreia, responsável pela guerra não-convencional, pelas operações contra revoluções, pela operações psicológicas e por quaisquer outras missões ordenadas pelo Presidente ou pelo Secretário da Defesa; o Comando para o Transporte, responsável pela mobilidade dos soldados e armamentos por terra, ar e mar, a nível mundial. Os Estados Unidos da América são o único país a ter uma presença militar à escala global, em cada continente e região do mundo. O Pentágono é directamente proprietário de 4.800 bases e outras instalações militares, quer nos USA, quer no estrangeiro, compreendendo 560.000 edifícios e estruturas (tipo estruturas ferroviárias, oleodutos e pistas de aeroportos). Segundo os dados oficiais do Pentágono, os Estados Unidos têm cerca de 800 bases e outras instalações militares em mais de 70 países, sobretudo em volta da Rússia e da China, muitas mais em uso ou secretas. Essas bases servem para uma rotação contínua de forças, que são aumentadas rapidamente com as transferidas das bases dos Estados Unidos, para concentrá-las em determinados teatros bélicos. Os países em que são distribuídas tropas americanas, compreendendo aqueles que não têm bases militares, são mais de 170. Entre militares, empregados civis e familiares, o Pentágono mantém permanentemente no estrangeiro cerca de meio milhão de cidadãos americanos.
Como termos de comparação, a Rússia tem apenas 9 bases militares no estrangeiro, nas suas antigas repúblicas soviéticas; a China tem uma em Djibouti, onde fazem escala os seus navios militares e civis. Compreendendo 13 bases britânicas e francesas e algumas mais, todos os outros países do mundo têm na totalidade 30 bases no estrangeiro em comparação com as 800 bases americanas
Como número de militares em serviços activo (1,3 milhões, sempre a aumentar) os Estados Unidos são o terceiro lugar mundial depois da China (2,2 milhões) e da Índia (1,4 milhões). Mas, tendo os USA uma população equivalente a cerca de um quarto da China ou da Índia, o número dos seus militares em relação ao dos habitantes é superior. Comparado com a Rússia, que tem pouco mais de 800 mil militares em serviço activo, os Estados Unidos têm uma nítida superioridade numérica.
Comparado com outras grandes potências, os Estados Unidos são superiores não só como forças nucleares, mas, em geral, como tipo de armamentos e forças de deslocação e ataque rápido. Têm cerca de 2.200 caça-bombardeiros, entre os quais 1.400 da U.S. Air Force, todos da quarta e quinta geração. Em relação aos 850 da Rússia e 500 da China (quase todos da quarta geração). Têm também cerca de 160 bombardeiros pesados, 700 drones e 800 helicópteros de ataque.
Os USA têm em 2017, 275 navios de superfície e submarinos – mais do que qualquer outro país e que a Administração Trump quer aumentar para 350. Sobretudo, têm unidades navais adaptadas para projecções de forças militares em teatros bélicos distantes, para ataque de objectivos terrestres e para desembarque em território inimigo. Mais de 68 submarinos armados de mísseis, têm 10 porta-aviões enormes, que a Administração Trump quer aumentar para 12. Para ter uma ideia da relação de forças, basta pensar que, no mundo, em 2017, há 18 porta-aviões, dos quais 10 pertencem aos Estados Unidos, 2 à Itália e 1 respectivamente à China, Rússia, França, Índia, Espanha e Tailândia. Cada um dos porta-aviões americanos de propulsão nuclear, com 330 metros de comprimento, têm a bordo 75 caça-bombardeiros e uma equipagem de 5.000 homens.
Os Estados Unidos têm também 31 navios anfíbios de assalto poderosos, num total de 45 existentes à escala mundial, dos quais 6 pertencem à Grã-Bretanha, 4 à China, 1 à Índia. Os navios americanos de assalto anfíbio têm uma ponte de voo, com 250 metros de comprimento e 30 de largura, do qual partem 30 helicópteros de ataque e caças de descolagem vertical; têm embarcações de desembarque enormes sobre almofadas de ar, cada um capaz de transportar à velocidade superior a 30 nós, acima da costa, tropas e cargas de 60 toneladas. Uma única nave de assalto anfíbio pode desembarcar 2 mil marines, dotados de helicóptero e aviões de descolagem vertical, artilharia de grande calibre e tanques.
Esta máquina bélica, a mais potente jamais vista na História, requer uma despesa militar de longe superior ao gasto de todos os outros países. O orçamento do Pentágono para o ano fiscal de 2018 sobe a 700 biliões de dólares, mais de quanto gastam os outros nove países que figuram na lista dos dez com as maiores despesas militares do mundo: China, Arábia Saudita, Rússia, Grã-Bretanha, Índia, França, Japão, Alemanha e Coreia do Sul.
Para a aprovação do orçamento do Pentágono é decisivo o voto por unanimidade, da Comissão dos Serviços Armados, formada por 14 senadores republicanos e 13 democratas. A Comissão sublinha que «os Estados Unidos devem reforçar a dissuasão da agressão russa: a Rússia continua a ocupar a Crimeia, a criar instabilidade na Ucrânia, a minar os nossos aliados NATO, a violar o Tratado INF de 1987 sobre as forças nucleares de raio intermédio e a apoiar o regime de Assad na Síria». Acusa, também a Rússia de conduzir «um ataque sem precedentes aos nossos interesses e valores fundamentais», em particular, através de «uma campanha decidida a minar a democracia americana». Com tais motivações a coligação dos dois partidos justifica o reforço de toda a máquina bélica americana.
Para o orçamento do Pentágono referente a 2018, o Congresso autoriza 60 biliões a mais do que o que foi pedido pela Administração Trump. Adicionando outros orçamentos de carácter militar, entre os quais o do Departamento para os Assuntos dos Veteranos (que se ocupa dos militares na reserva) e o das armas nucleares, inscrito no Departamento da Energia – as despesas militares totais dos Estados Unidos montam a cerca de 1 trilião de dólares, ou seja, um quarto do orçamento federal.
Estes são alguns dos elementos das despesas abrangidas pelo orçamento do Pentágono no ano fiscal de 2018: 10.6 biliões de dólares para comprar 94 caças F-35, 24 mais do que a quantidade requisitada pela Administração Trump; 17 biliões de dólares para o «escudo anti-míssil» e para as actividades militares espaciais, 1,5 a mais do que a verba requerida pela mesma Administração; 25 biliões para construir 13 navios de guerra, mais 5 do que os propostos pela Administração Trump.
Dos 700 biliões do orçamento de 2018, 640 são destinados, principalmente, à manutenção e às actividades das Forças Armadas, à compra de novos armamentos e aos salários do pessoal militar, que são aumentados, elevando o custo anual a mais de 145 biliões; 60 biliões são designados para as operações bélicas na Síria, Iraque, Afeganistão e noutras regiões. Também são disponibilizados 1,8 biliões de dólares para treino e equipamento de formações armadas sob comando USA, na Síria e no Iraque, e 4,9 biliões de dólares para o «Fundo das Forças de Segurança Afegãs». Para a «Iniciativa de Segurança da Europa», lançada em 2014, pela Administração Obama depois da «agressão de vingança russa na Ucrânia», são concedidos em 2018, 4,6 biliões: eles servem para aumentar a presença das forças couraçadas americanas e o «pré-posicionamento estratégico» de armamentos USA na Europa.Também são fornecidos 500 milhões de dólares para fornecer «assistência letal» (ou seja, armamentos) à Ucrânia.
O orçamento do Pentágono, dispondo de 125 biliões de dólares por ano (a verba de 2018 em aumento contínuo)para a compra de armamentos e 85 biliões (esta quantia também sempre em aumento continuado) para a pesquisa e desenvolvimento de novos armamentos, alimenta a indústria bélica mais poderosa do mundo. Entre os dez maioresprodutores mundiais de armamentos (com base na facturação de 2016), seis são americanos: Lockheed Martin, Boeing, Raytheon Company, Northrop Grumman, General Dynamics, L3 Tecnologies. Os outros são a firma britânica BAE Systems, a franco-holandesa Airbus, a francesa Thales e a italiana Leonardo (antes Finmeccanica), na nona posição.
Em primeiro lugar no mundo, está a firma americana Lockheed Martin, produtora de armamentos aeroespaciais e missilísticos, robótica militar e armas de energia dirigida: tem um quadro de pessoal de 97.000 indivíduos, entre eles 49.000 engenheiros, cientistas e profissionais de tecnologias de informação; uma rede de mais de 16.000 fornecedores nos USA e 1.500 em 65 países; uma facturação em aumento contínuo (em 2016 mais de 47 biliões de dólares, dos quais 73% de vendas nos USA e 27% de vendas ao estrangeiro; uma cotação na bolsa em forte crescimento, com um rendimento que aumentou 84% no período 2014-2016).
Um dos programas de ponta da Lockheed Martin é o do F-35 Lightening II, definido como «o caça mais avançado multifunções do mundo, que fornece às forças armadas capacidades incomparáveis». Produzem-se três modelos: de descolagem e aterragem convencional (A), de descolagem e aterragem vertical (B) e uma variante para porta-aviões (C). Para a sua produção e aquisição participam oito ‘partner = parceiros’ estrangeiros: Austrália, Canadá, Dinamarca, Grã-Bretanha, Itália, Noruega, Holanda e Turquia. Outros compradores, em 2017, são: Israel, Japão e Coreia do Sul. Nos Estados Unidos a rede produtora compreende mais de 1.400 empresas em 46 estados e em Puerto Rico, que produzem milhares de componentes dos caças. O custo doprograma está em crescimento contínuo: em 2017 estima-se que para produzir 2.456 caças F-35 nas três versões, são precisos 400 biliões de dólares, a que se adicionam 1.100 biliões de custos operacionais em 20 anos, elevando o total a 1,5 triliões de dólares. Haverá também compras, ainda não quantificáveis, para as actualizações contínuas a realizar no decorrer dos anos, aos caças e aos seus armamentos. Isso torna o F-35 no mais custoso sistema de armas da História.
A Lockheed Martin e outras indústria bélicas de vanguarda, em competição azeda umas com as outras para agarrar os contratos chorudos do Pentágono (em 2016 mais de 2.400, abrangendo 230 biliões de dólares), não são apenas empresas produtoras de armamentos. Elas estão intimamente integradas no Pentágono, e com diversos sectores das Forças Armadas e nos Serviços Secretos, na classe política republicana e democrática, quer em Washington, quer em cada um dos 50 Estados. O Pentágono tem, em geral, um departamento com pessoal próprio, no interior das indústrias bélicas mais importantes. Estes, por sua vez, fornecem executivos para o Pentágono, para posições de responsabilidade no sector de Defesa. Ao mesmo tempo, muitas altas patentes das Forças Armadas, logo que vão para a reserva, entram nos conselhos das administrações das indústrias bélicas. As indústrias bélicas mais importantes, tendo instalações próprias e milhares de empresas subcontratadas em todo o território nacional, também podem influenciar a escolha dos parlamentares e dos governadores em qualquer Estado e a escolha dos representantes no Congresso e no Senado. Também é fortíssima a influência das indústria bélicas nos sectores da ciência e da tecnologia: estima-se que cerca de 30 % dos pesquisadores e dos engenheiros estejam, de várias maneiras, ligados ao sector militar.
Esta trama extensa e profunda de interesses forma o complexo militar-industrial americano, cujos lucros e poderes aumentam na medida em que aumentam as tensões e as guerras. Confirma-o o facto de que, enquanto os seus lucros eram diminutos, depois do fim da Guerra Fria, cresceram fortemente após o 11 de Setembro. O complexo militar-industrial influi em todos os níveis, desde a Casa Branca aos simples Estados, sobre as escolhas políticas que conduzem à guerra, escolhas que, na realidade, são feitas por grupos restritos representativos dos poderes máximos (económico-financeiros, políticos, militares), verdadeiras cúpulas acima das instituições, que se reúnem informal e secretamente para discutir e decidir a estratégia. Através das suas ligações estreitas com a Comunidade dos Serviços Secretos (Inteligência), o complexo militar-industrial tem na mão todos os instrumentos para provocar tensões internacionais e consequentes intervenções militares, com o apoio das grandes cadeias de comunicação social mediática e da consequente maioria da opinião pública interna e internacional. Em poucas palavras, o complexo militar-industrial é um organismo tentacular que, para viver e desenvolver-se, tem necessidade de usar como oxigénio, a guerra. E visto que a força militar é necessária aos grandes grupos financeiros e às multinacionais para manter a sua supremacia no mundo, não é só o complexo militar-industrial, mas todo o sistema económico e financeiro dominante, no qual se baseiam os Estados Unidos da América, a ter necessidade da guerra e, em última análise, também da guerra nuclear.
Os Cientistas Atómicos Americanos confirmam qual é o resultado: O ponteiro do «Relógio do Apocalipse», o relógio simbólico que, no seu Boletim, indica a quantos minutos estamos da Meia Noite da Guerra nuclear, avançou um pouco mais: de 3 minutos para a meia noite, em 2015 foi para 2,5 minutos da meia noite em 2017: Um nível de alarme mais alto do que o da metade dos anos Oitenta, no cúmulo da tensão entre os USA e a URSS.
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