Para empreender qualquer iniciativa real, em Itália, contra a ameaça crescente da guerra nuclear, é necessário, em primeiro lugar, ser conhecedor do que o Primeiro Ministro Gentiloni define (quando, em 2017 é recebido pelo Presidente Trump) como «o atracamento histórico» da Itália aos Estados Unidos, «pilar da nossa política extena». A atracagem da Itália aos Estados Unidos, fundamentalmente através da NATO, sob comando USA, implica não só a a concessão do nosso território nacional como base avançada das armas nucleares americanas e da projecção de forças americanas para o Sul e para Leste, mas também uma remodelação contínua da política militar e das Forças Armadas Italianas, de acordo com as exigências da estratégia americana.
Desde o «Novo Modelo de Defesa», adoptado em 1991 de acordo com a nova orientação estratégica USA depois da primeira Guerra do Golfo, chega-se ao «Livro Branco para a Segurança Internacional e Defesa» elaborado pela Ministra da Defesa, Roberta Pinotti e institucionalizado em 2017, com um desenho especial da lei, que adequa mais a política militar e a estrutura das Forças Armadas Italianas à estratégia atavés da qual os Estados Unidos procuram manter o seu predomínio num mundo em mudança.
O Livro Branco atribui às Forças Armadas Italianas, quatro missões, que deturpam completamente a Constituição. A defesa da Pátria, estabelecida no Artº 52, é reformulada, na primeira missão, como defesa dos «interesses vitais do País». Daí a segunda missão: baseando-se no «contributo para a defesa colectiva da Aliança Atlântica e para a manutenção da estabilidade nas áreas incidentes no mar Mediterrâneo, a fim de proteger os interesses vitais ou estratégicos do país». O repúdio da guerra como instrumento de ofensa à liberdade dos outros povos e como meio de resolução das controvérsias internacionais, estabelecido no Artigo 11, é substituído na terceira missão pela «gestão das crises fora das áreas de intervenção prioritária», com o fim proclamado de «garantir a paz e a legalidade internacionais».
Deste modo, o Livro Branco vem demolir os pilares constitucionais da República Italiana, que é reconfigurada como uma potência que se arroga o direito de intervir militarmente nas áreas que contornam o Mediterrâneo – Norte da África, Médio Oriente e Balcãs – para apoio dos seus interesses económicos e estratégicos, e em qualquer parte do mundo onde estejam em jogo os interesses do Ocidente, representados pela NATO sob comando USA. Prático e cómodo para tudo isto, é a Lei do Enquadramento, que entrou em vigor em 2016, que institucionaliza as missões militares no estrangeiro (em 2017, foram realizadas 30 missões em 20 países), constituindo, para o seu funcionamento, um fundo específico no Ministério da Economia e das Finanças.
Finalmente, como quarta missão, confiam-se às Forças Armadas, a «salvaguarda das instituições livres», com «deveres específicos em casos de necessidade e urgência extraordinárias». As mesmas são compostas por profissionais da guerra, capazes de usar as novas tecnologias e de combater em países longínquos nas condições ambientais mais diversas. «Temos necessidade de soldados jovens – explica a Ministra Pinotti – a chave está em alistar indivíduos de 19-20 anos, oferecer-lhes um pacote informativo importante para sete anos das suas vidas, ensinando-lhes línguas e profissionalidade. Se se encontrarem no mercado de trabalho aos 26-27 anos não será difícil encontrar outra ocupação, porque também nos empenhamos em construir novas oportunidades de trabalho nas actividades legislativas». Numa situação de desocupação e precariedade, oferece-se assim aos jovens, o modo de ganhar e ter uma colocação segura: a guerra. E aos profissionais da guerra, às ordens do Pentágono italiano,também é assegurada a «salvaguarda das instituições livres» com «tarefas específicas em caso de necessidade e urgência extraordinária», fórmula vaga que se presta a medidas autoritárias e a estratégias subversivas.
No âmbito da «revisão do modelo operacional das Forças Armadas», institucionalizada pelo Livro Branco, está inserida a decisão de reunir as cúpulas de todas a Forças Armadas numa única estrutura, segundo o modelo operacional do Pentágono americano. O «Pentágono italiano», anuncia a Ministra Pinotti, em 2017, irá surgir na zona do aeroporto de Centocelle, em Roma, onde há espaço para construir outros edifícios e infraestruturas (sem se preocupar com o impaco ambiental no parque arqueológico e na sua área verde). Para a sua construção foi efectuada uma primeira atribuição de 2,6 biliões de euro, desviados da Lei da Estabilidade, sob o título “Habitação pública, incluindo educação”. Em Centocelle, donde foi transferida a Direcção Geral dos Armamentos com o pessoal, totalizando 1.500 pessoas, onde já está o comando operacional das cúpulas de todas as forças, em 2017, através do qual o Chefe do Estado Maior da Defesa, comanda todas as operações das Forças Armadas.
O Livro Branco aumenta imenso os poderes do Chefe do Estado Maior da Defesa, também do ponto de vista técnico-administrativo e, ao mesmo tempo, abre as portas das Forças Armadas aos «dirigentes provenientes do sector privado» que possam exercer as funções de Secretário Geral, responsável pela área tecnico-administrativa da Defesa, e do Director nacional dos armamentos. Tarefas-chave que permitem aos grupos poderosos da indústria bélica de entrar com funções dirigentes no Ministério da Defesa e de conduzir as escolhas segundo os seus interesses ligados à guerra. A centralização da Direcção Geral dos armamentos e das cúpulas das Forças Armadas numa única citadela, o «Pentágono Italiano» facilita, por trás dos altos muros do sigilo militar, o entrelaçamento subterrâneo de interesses e poderes segundo o modelo do complexo militar-industrial dos EUA.
A indústria militar é definida no Livro Branco como sendo o «pilar do Sistema do País», visto que «contribui, através da exportação, para o equilíbrio da balança comercial e para a promoção dos produtos da indústria nacional nos sectores de alta remuneração». Não faltam resultados: a Leonardo (antes Finmeccanica) – a maior indústria militar italiana, de quem o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista com uma quota de 30% – coloca-se no nono lugar do ranking mundial, na classificação de 2017 das cem maiores indústrias bélicas, com vendas anuais de cerca de 9 biliões de dólares de armamentos, em 2016. Sobretudo, graças à venda ao Kuwait, em 2016, de 28 caças Eurofighter Typhoon de nova geração, construídos pelo consórcio de quem faz parte a Leonardo, juntamente com indústrias da Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha. Um contrato de 8 biliões de euros, o maior jamais assinado pela Finmeccanica, em cujos cofres entra cerca de metade dessa quantia. Os Eurofighter Typhoon, que o Kuwait usa para matar civis no Yemen, na guerra conduzida pela coligação com orientação saudita, também podem ser armados com bombas nucleares que, provavelmente, já estão na posse da Arábia Saudita. O treino da equipagem é fornecido pela Aeronáutica Italiana.
Prosperam assim, os negócios da Leonardo que, em 2016, obtêm 84% da sua facturação através da venda de armas. Para apoiar cada vez mais a produção militar, foram vendidas por cerca de 900 milhões de euro aos japoneses da Hitachi duas fábricas da Finmeccanica, a Ansaldo Sts e a Ansaldo Breda, empresas lideres mundiais na produção ferroviária.
A Leonardo – que se autodefine «empresa global de alta tecnologia nos sectores Aeroespacial, Defesa e Segurança, com mais de 45.600 funcionários, presente com escritórios e instalações industriais em 180 locais em todo o mundo» – tem uma presença industrial particularmente relevante, além da Itália, nos Estados Unidos, na Grã Bretanmha e na Polónia. Deste modo, está integrada estreitamente no complexo militar-industrial americano e com as suas principais fortalezas na Europa. Nos Estados Unidos, a Leonardo fornece produtos e serviços não só às Forças Armadas e às empresas da Defesa, mas também às agências de serviços secretos.
Ao mesmo tempo, en Itália, a Leonardo gere as instaslaçõs FACO di Cameri (Novara), na qual são montados os caças F-35 da empresa americana Lockheed Martin destinados à Força Aérea e à Marinha Italiana e partes dos mesmos encomendadas pela Holanda. As empresas em Foggia e Nola, fabricam as partes complexas e metálicas da caixa da asa, da qual a Leonardo é a segunda produtora também para as Forças Armadas americanas. Numa segunda fase, Cameri tornar-se-á o centro de apoio para os F-35, instalados em toda a área europeia e mediterrânica.
A adesão da Itália ao programa F-35, como um parceiro de segunda categoria, fortalece a atracagem aos Estados Unidos, integrando ainda mais o complexo industrial militar italiano no gigantesco complexo militar industrial americano. Portanto, a decisão de participar no programa F-35 é uma escolha política, feita com base no bipartidarismo. Depois da assinatura do primeiro memorando do acordo, por parte do Governo D’Alema, em 1998, é o Governo Berlusconi a assinar, em 2002, o acordo que faz entrar a Itália no programa, como parceira de segunda categoria. Em 2007, o Governo Prodi aperfeiçoa o acordo e sugere a compra de 131 caças. Em 2009, o Governo Berlusconi delibera sobre a aquisição. Em 2012, o Governo Monti «reajusta» o número de caças, de 131 para 90, para demonstar que, perante uma crise, todos devem ‘apertar o cinto’. Em 2013, o Governo Letta e, em 2014, o Governo Renzi confirmam o empenho da Itália no programa F-35.
O custo real dos 90 caças F-35 é, em 2017, ainda mais inquantificável. É certo que, pelo menos, supera os 10 biliões de euro, a que se juntam os custos (também inquantificáves) das actualizações contínuas, acrescidas das operacionais. Como termo de comparação, cada um dos 96 caças Eurofighter Typhoon das Forças Aéreas Italianas custa mais de 100 milhões de euro e, cada hora de voo custa cerca de 40.000 euro, o equivalente ao salário anual de um trabalhador. Custos que saem dos cofres públicos, aumentando uma despesa militar que, no ano de 2017, sob para cerca de 70 milhões de euro por dia, destinadas a chegar aos 100 milhões de euro/dia, como foi requerido pela NATO.
Como reconhecimento da sua função, a Itália é o primeiro país a receber, depois dos USA, o novo caça da quinta geração: o primeiro F-35 chega à base de Amendola (Foggia), em 12 de Dezembro de 2016. Dá início à instalação em Itália, dos novos caças americanos projectados para usar a nova bomba nuclear americana B61-12. Os pilotos italianos e europeus são treinados para pilotar os caças F-35 em três centros nos EUA:na base da U.S. Air Force de Eglin, na Florida e Luke no Arizona, e na dos Marines em Beaufort, na Carolina do Sul. O orçamento do Pentágono para 2018, traz rumores de despesas menores, mas não menos importantes; estabelece 27 milhões de dólares para a base de Aviano, para obras de ampliação, devido à instalação dos F-35 e das bombas nucleares B61-12.
No orçamento do Pentágono para 2018, estão também atribuídos 65 milhões de dólares para o programa de pesquisa e desenvolvimento de um «novo míssil com base em terra, de raio intermédio, para começar a reduzir a lacuna de capacidade provocada pela violação russa do Tratado INF». Por outras palavras, os Estados Unidos têm um programa para instalar na Europa, mísseis nucleares análogos aos Pershing II e aos mísseis de cruzeiro dos anos oitenta, estes últimos também instalados em Itália, em Comiso.
de guerra USA/NATO, para uma Itália soberana e neutra, liberta de armas
nucleares
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