MK Bhadrakumar- 25 de agosto de 2023
Nota do Saker Latinoamérica: Quantum Bird falando. Antes de tudo, relembremos as palavras sábias de Carlo Maria Cipolla, sobre a estupidez humana:
“ A Primeira Lei Fundamental da estupidez humana afirma sem ambiguidade que Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação¹.À primeira vista esta afirmação pode parecer trivial, ou óbvia, ou até mesquinha, ou mesmo todas as três coisas juntas. No entanto, um exame mais atento revela plenamente a sua realista veracidade. Considere-se o que segue. Por mais alta que seja a estimativa quantitativa que alguém faça da estupidez humana, resta-se repetidamente e recorrentemente espantado pelo fato de que:
(a) pessoas que julgávamos no passado como racionais e inteligentes revelam-se depois, subitamente, inequívoca e irremediavelmente, estúpidas;
(b) dia após dia, com uma incessante monotonia, vêmo-nos dificultados e obstruídos em nossas próprias atividades por indivíduos teimosamente estúpidos, que aparecem repentina e inesperadamente nos lugares e nos momentos menos oportunos.
A Primeira Lei Fundamental nos impede de atribuir um valor numérico à fração de pessoas estúpidas em relação ao total da população: qualquer estimativa numérica resultaria em uma subestimação. Por isto, nas páginas seguintes denotar-se-á a quota de pessoas estúpidas no conjunto de uma população com o símbolo s.”
Seria Prigozhin um caso explícito da Primeira Lei da Estupidez Humana?
Depois de colaborar ativamente para a expulsão de fato da França da África, o PMC Wagner lutou ativamente na Ucrânia, o que lhe garantiu um lugar de alta prioridade na lista negra de inimigos do Ocidente Coletivo. Não satisfeito com estas honrarias, Prigozhin se envolveu em escaramuças politicas com o alto comando das forças militares russas e em uma suposta tentativa de golpe de estado na Russia, que foi descrita por Putin como uma “facada nas costas”. Em seguida, desprezando o destino do General Soleimani, Prigozhin embarcou para a África com os principais comandantes do PMC Wagner para provavelmente envolver-se nos desenvolvimentos no Niger, onde os EUA têm uma base de controle de drones e etc. Ou seja, ele desafiou a rede de inteligência ocidental naquilo que eles fazem melhor: assassinar pessoas covardemente. Em tempo: por favor, caros leitores, não se enquadrem também na axiomatização de Carlo Maria Cipolla comprando a narrativa da vingança fria de Putin contra Prigozhin… mesmo porque Jake Sullivan já ligou para Patruchev para negar o envolvimento ianque. Vocês sabem o que isso significa não é? Enfim, boa leitura.
Yevgeny Prigozhin fala para a câmera em uma imagem tirada de um vídeo divulgado nos canais do Telegram vinculados a Wagner em 21 de agosto de 2023
Houve uma avalanche de reportagens nos meios de comunicação ocidentais minutos ou horas após a horrível morte, na quarta-feira, do chefe da organização Wagner de empreiteiros militares russos, Yevgeny Prigozhin, apontando o dedo acusador ao Presidente Vladimir Putin como o autor do crime.
É quase como se um botão tivesse sido pressionado em algum centro de comando desconhecido para lançar uma nova narrativa para demonizar Putin por servir o prato frio da vingança a Prigozhin, tomando emprestadas as palavras recentes do diretor da CIA, William Burns, por encenar um golpe fracassado na Rússia. Ninguém se preocupou em produzir evidências empíricas.
“Repita uma mentira com bastante frequência e ela se tornará verdade” – a lei da propaganda é frequentemente atribuída ao líder nazista Joseph Goebbels, que compreendeu o poder de repetir falsidades. A bússola do Ocidente é agora a de “apagar” a Rússia.
É verdade que Putin tinha todos os motivos para estar irritado com Prigozhin – uma “facada nas costas”, como ele disse – quando a nação travava uma guerra existencial contra inimigos jurados que procuravam o desmembramento da Rússia. Mas três considerações desacreditam a hipótese do envolvimento de Putin.
Em primeiro lugar, porquê um método tão grosseiro, que lembra o assassinato do carismático general iraniano Qasem Suleimani, a ponta de lança do “Eixo de Resistência” de Teerão contra a América, pelo antigo presidente dos EUA, Donald Trump?
Em seu célebre ensaio de 1827 intitulado On Murder Considered as Fine Arts, Thomas De Quincey escreveu: “Tudo neste mundo tem duas alças. O assassinato, por exemplo, pode ser controlado pelo seu aspecto moral… e esse, confesso, é o seu lado fraco; ou também pode ser tratado esteticamente, como os alemães dizem, isto é, em relação ao bom gosto.” A estética do assassinato de Prigozhin é, simplesmente, a menos atraente pelo princípio do conhecimento do assassinato se a motivação fosse a vingança.
Em segundo lugar, Prigozhin era um homem morto andando por encenar um ato tão idiota, depois de a sua cobertura de segurança ter sido retirada pelo Estado. Imagine o ex-presidente Barack Obama sem proteção do serviço secreto após o assassinato de Osama bin Laden – ou Mike Pompeo e Trump andando sem segurança depois de assassinar Soleimani.
Mas Putin deixou claro que Wagner ainda teria um futuro e que a nação se lembrará do seu papel na guerra da Ucrânia. Putin até convidou Prigozhin para uma reunião no Kremlin. Indiscutivelmente, as primeiras observações de Putin sobre a morte de Prigozhin revelam um traço de piedade. (aquie aqui)
Putin disse: “Conheço Prigozhin há muito tempo, desde o início dos anos 1990. Ele era um homem de destino nada fácil. Ele cometeu alguns erros graves na sua vida, mas também alcançou os resultados necessários – tanto para si mesmo como, quando lhe perguntei, para a causa comum. Do jeito que foi nos últimos meses.”
“Até onde eu sei, ele voltou da África ontem. Ele se encontrou com alguns funcionários aqui. Ele trabalhou não só no nosso país – e trabalhou com sucesso, mas também no estrangeiro, especialmente em África. Lá ele lidava com petróleo, gás, metais preciosos e pedras”, acrescentou Putin.
No zelo excessivo em focar no assassinato de Prigozhin para demonizar Putin, o que se esquece é que quem quer que tenha coreografado o crime também garantiu que toda a estrutura de comando de Wagner fosse eliminada. Tchau, tchau, África!
Não haverá ninguém num futuro próximo que possa desafiar a hegemonia da Legião Francesa no Sahel ou igualar a vasta rede de 29 bases sob o Comando Africano do Pentágono, espalhadas por todo o continente, desde Djibuti, no norte, até Botsuana, no sul. Dito de outra forma, o longo braço do “poder suave” da Rússia foi cortado com um único movimento de lâmina. Quem tem a ganhar?
Terceiro, o assassinato de Prigozhin foi encenado num dia especial que, numa perspectiva histórica, deve ser considerado o melhor momento da diplomacia russa desde a desintegração da antiga União Soviética. A realidade de “um novo ponto de partida para os BRICS” – como afirmou o Presidente Chinês Xi Jinping – ainda não foi totalmente compreendida, mas o que não há dúvida é que a Rússia está saindo vencedora.
Não se engane que a unidade dos BRICS se manteve firme e destruiu todos os prognósticos ocidentais; A expansão dos BRICS significa que a questão de uma moeda única de liquidação está em cima da mesa e que o sistema financeiro internacional não voltará a ser o mesmo; a desdolarização está batendo às portas; está tomando forma um novo sistema comercial global que torna obsoleto o regime ocidental explorador de quatro séculos, orientado para transferir riqueza para os países ricos; O BRICS passou, finalmente, de um clube informal para uma instituição que eclipsará o G7.
O país anfitrião, a África do Sul, contribuiu muito para a agenda de multipolaridade russa e chinesa. O declaração conjunta emitida pela África do Sul e pela China e a entrada da Etiópia (onde o Ocidente tentou encenar uma mudança de regime) como membro do BRICS sublinham a alinhamento emergente em África. Tudo isso não resulta em alguma coisa?
E, acima de tudo, a grande mensagem que sai de Joanesburgo é que, com todos os cavalos e todos os homens do rei, a administração Biden falhou miseravelmente em “isolar” a Rússia – está lá em grande escala no brilho do sorriso radiante e resplandecente do Ministro dos Assuntos Estrangeiros, Sergey Lavrov. A Rússia está coroando os seus ganhos nos campos de batalha da Ucrânia com uma notável vitória diplomática, ao estar do lado certo da história, ao lado da maioria global.
Não é de bom senso que, entre todos os dias, Putin nunca teria escolhido a quarta-feira para agir como spoiler quando o prestígio da Rússia estava em alta na comunidade internacional? Novamente surge a pergunta: quem tem a ganhar?
A verdade é que poderia haver inúmeras pessoas que quisessem eliminar fisicamente Prigozhin. Dentro da própria Rússia, Prigozhin recrutou criminosos empedernidos que cumpriam penas de prisão para lutar na Ucrânia e, assim, obter a comutação da sua pena. Ele os implantou sem treinamento militar adequado e mais de 10 mil deles teriam sido mortos. Há um profundo sentimento de repulsa na Rússia em relação a esta questão.
Depois, há os inimigos externos, a começar pela França, que foi praticamente expulsa da região do Sahel, o seu cercadinho onde teve um dia de campo como ex-potência colonial até que Prigozhin chegou e estragou a festa. A França mal conseguiu esconder o seu rancor contra a Rússia desde então.
Entretanto, a crise crescente no Níger alertou os EUA de que Prigozhin estava à espreita. A temível secretária de Estado interina, Victoria Nuland, que planejou o golpe de 2014 na Ucrânia, viajou para Niamey para implorar aos líderes do golpe que não tivessem qualquer ligação com Wagner.
No entanto, Prigozhin teria entrado furtivamente no país vizinho, Mali, onde Wagner está bem estabelecido, com o objectivo de estabelecer contacto com os novos governantes do Níger e oferecer os serviços de Wagner. Basta dizer que Prigozhin estava ameaçando fazer ao Pentágono o que fez anteriormente à Legião Francesa no Sahel.
É inteiramente concebível que a administração Biden tenha decidido que já bastava e que Wagner devia ser decapitado. É claro que a partida de Prigozhin, juntamente com o seu grupo central de comandantes seniores, enfraquecerá incalculavelmente Wagner.
Entretanto, dentro da Rússia, a implacável inteligência uraniana opera a diferentes níveis. Os ataques de drones a Moscovo estão sendo encenados por sabotadores dentro da Rússia. E a Ucrânia também tem contas a acertar com o Wagner, que está se estabelecendo na Bielorrússia.
Sem dúvida, existe uma congruência de interesses entre a inteligência ucraniana e os seus mentores ocidentais para destruir Wagner e eliminá-lo completamente do tabuleiro de xadrez geopolítico.
Fonte: https://www.indianpunchline.com/whos-afraid-of-prigozhin-and-wagner/
Há que começar a /MODERAÇÃO SAKERLATAM/ toda a gente das embaixadas e ONG da França e dos ianques. Sem piedade por esses terroristas.