Por Enlil para o Saker Latinoamérica — 16 de Maio de 2022
Imagem de capa: Foto do encontro divulgada pelo Gabinete da Presidência da Síria.
Síntese de alguns dos principais acontecimentos no teatro de operações sírio entre 1º e 16 de maio de 2022.
Confrontos entre Turcos e Curdos
Em 1º de maio, três militantes proxies [1] turcos foram mortos quando combatentes curdos invadiram uma posição que ocupavam perto da cidade de Kimar, na de área Afrin ocupada pelos turcos no norte da Província de Aleppo. Segundo o OSHR [2], unidades da ALF [3], grupo armado curdo ligado a YPG [4], filiada da SDF [5], foram responsáveis pelo ataque.
Cidade de Kimar, Província de Aleppo.
Os militantes mortos, identificados como Ahmed Badawy, Mohamed Jamlo e Jema’ah Hajj-Kaddour, eram supostamente membros da Divisão Hamza [6], componente do SNA [7] e uma das maiores facções armadas apoiadas pela Turquia no norte e nordeste da Síria.
Numa aparente resposta ao ataque, os militares turcos e seus proxies atacaram com morteiros e artilharia as cidades de Tell Rifaat, Meng, Ain Digna, Zunait, Uqiba, Burj al-Qas, Mayassa e Mara’naz, no norte da Província de Aleppo.
O ataque de Kimar foi provavelmente uma resposta aos recentes ataques de artilharia e UCAVs [8] turcos em áreas controladas pelas SDF no norte e nordeste da Síria.
A ALF tem sido bastante ativa em Afrin e outras áreas ocupadas pelos turcos na zona rural do norte da Província de Aleppo nas últimas semanas. Em 3 de maio o grupo curdo divulgou um vídeo documentando um dos vários ataques que realizou contra militantes apoiados pela Turquia entre 23 e 30 de abril. O grupo afirmou que 14 militantes foram mortos e outros dois ficaram feridos como resultado dos ataques:
Em 4 de maio, o Ministério da Defesa da Turquia anunciou que o Tenente Talha Bahadır das Forças Armadas turcas foi morto em um ataque na área de Afrin, sem mais detalhes sobre o ataque.
Fontes da oposição síria relataram dois ataques de forças curdas contra militares turcos em Afrin nos dias 3 e 4 de maio. Um ataque com fogo indireto teve como alvo uma posição turca nos arredores da cidade de Kaljibrin.
Cidade de Kaljibrin, Província de Aleppo.
No dia 3 de maio, um ataque com ATGM [9] teve como alvo um veículo militar turco perto da cidade de Kimar. O oficial turco foi morto nesse ataque.
Cidade de Kimar, Província de Aleppo.
Em 5 de maio a ALF divulgou o vídeo do ataque que matou o oficial:
Em uma declaração, a ALF também divulgou que suas células realizaram dois outros ataques em 3 de maio; um contra militante proxie turco perto da cidade de al-Bab, o principal reduto das Forças Turcas na zona rural do norte da Província de Aleppo, e uma posição militar turca perto da cidade de Azaz, também na Província de Aleppo. O grupo curdo afirmou que seus três ataques recentes mataram quatro militares turcos, feriram outros quatro, e também mataram um militante apoiado pela Turquia.
Os militares turcos responderam aos ataques com uma série de ataques de artilharia que atingiram áreas controladas pela SDF no norte da Província de Aleppo.
Em 12 de maio, o Ministério da Defesa da Turquia anunciou que um soldado foi morto, três soldados e um civil foram feridos em território turco como resultado de um ataque de morteiro a partir da cidade de Kobane, no nordeste da Província de Aleppo. No comunicado, o ministério divulgou que a YPG e o PKK [10] estavam por trás do ataque que atingiu o Posto de Patrulha de Fronteira de Kiribati, na Província turca de Gaziantep:
Antes do ataque com morteiros, uma série de ataques com foguetes teve como alvo duas bases militares turcas localizadas perto das cidades sírias de al-Bab e Marea, no norte da Província de Aleppo. A sede do Conselho Local de al-Bab também foi atingida:
Os foguetes teriam sido lançados de área do norte da Província de Aleppo controlada em conjunto pelo Exército Árabe Sírio [11] e pela SDF; os militares turcos e seus proxies responderam atacando várias cidades e vilarejos controladas pelo Exército Árabe Sírio e pela SDF. Dois civis, uma mulher e uma criança, teriam sido feridos como resultado do ataque turco:
Os ataques a Kiribati, al-Bab e Marea provavelmente foram realizados em resposta aos recentes ataques turcos ao Exército Árabe Sírio e a SDF na região, incluindo um ataque de UCAV em 11 de maio em Kobane, que matou um membro turco da SDF.
As Forças Armadas turcas realizaram uma série de ataques a Kobane e seus arredores em resposta ao ataque de morteiros:
Segundo o Ministério da Defesa turco 21 combatentes da YPG e do PKK foram “neutralizados” (mortos ou feridos) como resultado dos ataques.
Dez Combatentes Iraquianos Mortos ou Feridos em Emboscada do ISIS
Em 1º de maio, militantes do ISIS [12] emboscaram uma unidade do Kata’ib Sayyid al-Shuhada [13], grupo iraquiano apoiado pelo Irã, perto da aldeia de Arak, Província de Homs, no centro da Síria, de acordo com o OSHR.
Arak está localizada perto de uma rodovia que liga a antiga cidade de Palmyra com a cidade de al-Sukhnah, na zona rural oriental da Província Homs. Um grande campo de gás está localizado perto da aldeia. As células do ISIS são conhecidas por sua presença e atividade nessa área.
Aldeia de Arak, Província de Homs.
O Kata’ib Sayyid al-Shuhada é um dos vários grupos iraquianos apoiados pelo Irã que apoiam o Exército Árabe Sírio contra as células do ISIS na região central do país há alguns anos.
Este seria o terceiro ataque do ISIS no centro da Síria em menos de uma semana. Nas últimas semanas suas células tem sido ativas na região central do país, nas Províncias de Homs, Raqqa, Deir Ezzor; a Força Aérea Russa tem respondido com campanhas de ataques aéreos e o Exército Árabe Sírio com o envio de reforços para a região. Esses novos ataques provavelmente também estão relacionados com a campanha militar do ISIS no Levante para vingar seu ex-líder e porta-voz morto durante um ataque dos EUA na região noroeste da Síria em fevereiro. Segundo divulgação de sua agência de notícias, Amaq, a campanha se chama “A Batalha da Vingança pela Morte dos Dois Sheikhs”.
Ataques do ISIS Contra o Exército Arábe Sírio Perto de al-Tanf
Em 6 de maio, membros do ISIS atacaram uma posição do Exército Árabe Sírio localizada na linha de frente com a área ocupada pelos EUA de al-Tanf [14], na Província de Homs.
Guarnição de al-Tanf. Província de Homs.
O ataque ocorreu enquanto as tropas do Exército Árabe Sírio preparavam emboscadas contra as células do ISIS que costumam se mover na zona de exclusão aérea de 55 quilômetros imposta pela coalizão liderada pelos EUA em torno de sua guarnição principal em al-Tanf. Os militantes pegaram a tropa de surpresa e, segundo o OSHR, 8 membros do Exército Árabe Sírio ficaram feridos.
Antes do ataque, aviões de guerra da Força Aérea Russa realizaram uma série de ataques aéreos contra esconderijos de células do ISIS perto da cidade de al-Resafa, no sul da Província de Raqqa, e no deserto ocidental da Província de Deir Ezzor, em continuidade a sua campnha de apoio ao Exército Árabe Sírio e aliados contra as células do ISIS que atuam na região central da Síria.
Em 14 de maio, um subtenente do Exército Árabe Sírio foi morto e um soldado foi ferido quando seu veículo também foi emboscado perto da junção de al-Shahmi; tudo indica que por militantes do ISIS. Antes do ataque, segundo o OSHR, aviões de combate dos EUA realizaram uma série de missões sobre a guarnição de al-Tanf e a zona de exclusão de 55 quilômetros.
Em 16 de maio a Força Aérea Russa novamente fez uma série de ataques aéreos na região central da Síria contra esconderijos de células do ISIS perto da cidade de al-Sukhnah, no leste da Província de Homs, e nos arredores da cidade de al-Resafa, no sul da Província de Raqqa.
Cidade de al-Sukhnah, Província de Homs.
Cidade de al-Resafa, Província de Raqqa.
Tendo em vista as prioridades em múltiplas frentes, a insurgência do ISIS no centro da Síria provavelmente não terminará tão cedo. No entanto, o Exército Árabe Sírio, forças terrestres aliadas e a Força Aérea Russa continuarão sua campanha de conteção até que uma operação em larga escala faça a limpeza definitiva das células remasncentes do ISIS na região central do país.
Por sua vez, cerca de 200 soldados estadunidenses e 300 combatentes do MaT [15], proxies da coalizão liderada pelos EUA, geralmente estão presentes na guarnição de al-Tanf, que foi supostamente estabelecida para combater o ISIS; no entanto, até hoje, as células do ISIS permanecem ativas na zona de 55 quilômetros de al-Tanf. Tudo indica que o ISIS adquiri suprimentos, incluindo armas, de combatentes apoiados pelos EUA em al-Tanf. Esses suprimentos têm mantido viva a insurgência do grupo na Síria central contra o Exército Árabe Sírio e aliados; essa tática tem sido utilizada pelos EUA desde o começo da guerra na Síria; contém o ISIS nas áreas de seus aliados e faz jogo duplo quando o grupo visa as Forças do Governo Sírio e aliados. Está claro também que o objetivo real da presença da coalizão liderada pelos EUA em al-Tanf é bloquear a estrada estratégica que liga a capital síria, Damasco, à capital iraquiana, Bagdá.
Ataques de Artilharia Turca Matam 2 Soldados do Exército Árabe Sírio em Aleppo
No início de 7 de maio, dois soldados do Exército Árabe Sírio foram mortos e outros dois ficaram feridos quando os militares turcos atacaram sua posição perto da cidade de al-Zijara, localizada ao sul de Afrin, dentro de uma faixa controlada conjuntamente pelo Exército Árabe Sírio e pela SDF no norte da Província de Aleppo. Poucas horas depois a artilharia turca e seus proxies atacaram as cidades de Nayrabia, Ziwan, Tell Jigan e Tell Madiq, na mesma região:
Os ataques foram os mais recentes de uma série [16] contra posições do Exército Árabe Sírio em áreas controladas pela SDF no norte e nordeste da Síria.
É provável que a Turquia aparentemente esteja tentando pressionar o Governo Sírio a retirar suas forças das áreas controladas pela SDF no norte e nordeste da Síria, no planejamento de uma nova operação em larga escala contra a SDF nessas regiões.
Ataques Aéreos Simulados da Força Aérea Russa de Alerta ao Ahrar al-Sham em Idlib
Em 7 de maio, a Força Aérea Russa realizou uma nova série de “ataques aéreos simulados” de alerta ao Ahrar al-Sham [17] na Grande Idlib [22]; os aviões de combate lançaram bombas FOTAB 100-80 [23], projetada para produzir um flash intenso e instantâneo, na capital Idlib, nas cidades de Binnish, no leste da Província de Idlib, e nas cidades de Ma’arrat Misrin e al-Bara, no sul da província. A FOTAB 100-80 geralmente é usada em ataques aéreos simulados.
O alerta russo foi provavelmente uma resposta a um ataque em 6 de maio, quando militantes do Ahrar al-Sham alvejaram um carro de combate do Exército Árabe Sírio perto da cidade de Hantoteen, no sul da Província de Idlib, com um ATGM.
Vídeo divulgado pelo Ahrar al-Sham, via Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir [21], do ataque de ATGM contra o carro de combate do Exército Árabe Sírio:
No dia 22 de abril [16], aviões de guerra da Força Aérea Russa já haviam realizado uma série de ataques aéreos simulados do mesmo tipo alertando o HTS [24] sobre violações do cessar-fogo na Província de Idlib; no dia seguinte posições do grupo foram atingidas pela Força Aérea Russa.
Presidente Bashar al-Assad se Encontra com Líder Supremo Ali Khamenei e o Presidente Ebrahim Raisi em Viagem Surpresa ao Irã
O Presidente sírio Bashar al-Assad se encontrou com Líder Supremo Ali Khamenei e o Presidente Ebrahim Raisi em viagem Surpresa ao Irã, dia 8 de maio.
Vídeo do encontro divulgado pela agência SANA [25]:
Esta foi a segunda visita oficial de Assad ao Irã desde que a guerra na Síria eclodiu em 2011 (a primeira visita do presidente sírio foi em fevereiro de 2019). Durante a reunião com Assad, Khamenei pediu mais melhorias nas já fortes relações entre o Irã e a Síria. A visita, além da cortesia, reafirma as fortes relações estratégicas entre o Irã e a Síria; além de ressaltar o apoio militar o encontro visa incrementar acordos econômicos e comerciais entre os dois países. Além do apoio financeiro o Irã é aliado fundamental na resistência e luta para reestabelecer a soberania da Síria contra as facções armadas na guerra de procuração dos EUA, países da Europa Ocidental, Israel, países árabes e Turquia contra o país.
Ataques Israelenses Contra o Exército Árabe Sírio na Província de Quneitra
Em 11 de maio, a IDF [26] atacou postos de observação e posições do Exército Árabe Sírio nas áreas de Hadar e Jabatha al-Khashab na Província de Quneitra.
Por volta das 3h, horário local, o Exército Israelense disparou vários mísseis contra um posto de observação próximo à cidade de Hadar, causando danos materiais; horas depois, após o nascer do sol, as Forças Israelenses lançaram um segundo ataque, de artilharia, contra território sírio, visando as 90ª Brigada do Exército Árabe Sírio nos arredores de Jabhat al-Khashab, perto das Colinas de Golã ocupadas, mas nenhuma vítima foi relatada.
As posições atacadas estão localizadas dentro ou ao longo da zona tampão (buffer zone) de 235 quilômetros quadrados das Colinas de Golã, estabelecida sob o acordo de separação de forças de 1974. A Força de Observação de Desengajamento da ONU [27] está presente na zona. Uma semana atrás, dia 3 de maio, a IDF ameaçou o Exército Árabe Sírio por suposta implantação de forças dentro da zona tampão das Colinas de Golã. A 210ª Divisão “Bashan” lançou panfletos de UAVs [28] sobre a zona tampão, prometendo responder com um “festival de ferro” a qualquer violação do acordo de 1974.
A 210ª Divisão “Bashan” da IDF é uma divisão territorial do Comando Norte da IDF responsável pela frente com a Síria. A IDF lançou panfletos sobre a parte de Golã controlada pela Síria em várias ocasiões nos últimos anos, sobretudo com advertências contra a colaboração síria com o Hezbollah; esta é a primeira vez nos últimos anos com uma advertência a respeito de operações do Exército Árabe Sírio na zona tampão. Israel anexou parte das Colinas de Golã sírias, com apoio direto dos EUA; desde o começo da guerra na Síria planejou ocupar o que resta da região sob controle da Síria apoiando diretamente grupos jihadistas e terroristas que atuavam na área de fronteira das Colinas de Golã ocupadas e no sudoeste da Síria. Israel pode estar usando supostas violações do acordo de 1974 para justificar ataques à Síria, dentro de uma nova estratégia, quiçá de operações limitadas dentro da zona tampão, tendo em vista que o seu plano de novas anexões na região falhou com a reconquista pelo Exército Árabe Sírio dos territórios das Províncias de Quneitra e Daraa ocupados pelos jihadistas/terroristas apoiados pelos israelenses nos primeiros anos da guerra no país.
Ataques Aéreos da Força Aérea Russa Contra Militantes em Idlib
Em 11 de maio, a Força Aérea Russa realizou pelo menos dois ataques ataques aéreos contra posições de militantes nos arredores da cidade de Benin, na Grande Idlib.
Os ataques foram novamente uma resposta a violação do cessar-fogo na Província de Idlib; em 10 de maio um soldado do Exército Árabe Sírio foi morto como resultado de um ataque de fogo indireto originado na região. O HTS [24] e o Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir [21] são os principais grupos armados que atuam na na província.
Em 12 de maio, uma nova onda de ataques aéreos russos atingiu a região, nos arredores das cidades de Marzaf, Moataf e Kfar Ata, na zona rural no sul da Província de Idlib:
Os ataques aéreos coincidiram com ataques de artilharia do Exército Árabe Sírio nos arredores da cidade de Kabani, no norte da Província de de Latakia. Novamente respostas a ataques a forças do Governo Sírio e violações do cessar-fogo.
Ataque do Ahrar al-Sham Contra a NDF Deixa 10 Mortos
10 combatentes da NDF [29] foram mortos e outros nove ficaram feridos em um ataque de ATGM do grupo Ahrar al-Sham [17] contra um ônibus perto da cidade de Anjarah, no oeste de Aleppo, dia 13 de maio.
Vídeo divulgado pelo Ahrar al-Sham, via Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir [21], do ataque de ATGM contra o ônibus que transportava forças da NDF:
Esse foi o ataque mais mortal a atingir forças aliadas do Governo Sírio nesta parte da Síria nos últimos dois anos. As vítimas do ataque eram todas da cidades de Nubl e al-Zahraa, no norte da Província de Aleppo. As unidades da NDF nas duas cidades xiitas tem laços estreitos com o Hezbollah e com o Exército de Guardiães do Irã [30].
O ataque foi aparentemente uma resposta ao ataque de ATGM que teve como alvo um ônibus do Jaysh al-Nasr [31], outro grupo componente do Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir [21], nas planícies de al-Ghab, no noroeste da Província de Hama. O ataque, que ocorreu em 8 de maio, aparentemente uma resposta ao ATGM que atingiu um carro de combate do Exército Árabe Sírio em Hantoteen, no sul da Província de Idlib, em 6 de maio (vide Ataques Aéreos Simulados da Força Aérea Russa de Alerta ao Ahrar al-Sham em Idlib), deixou seis militantes mortos e quatro feridos.
Durante o funeral, realizado em um cemitério perto das cidades xiitas de Nubl e al-Zahraa, houve novo ataque de militantes que deixou uma criança morta e outra ferida.
Em resposta ao ataque contra a NDF, no mesmo dia o Exército Árabe Sírio atingiu posições militares turcas na cidade de Sheikh Suleiman, no oeste da Província de Aleppo, e a Força Aérea Russa realizou quatro ataques aéreos contra alvos nos arredores da cidade de Kafr Janneh, no norte, incluindo um quartel-general da Divisão Sultão Murad [32]; dois militantes ficaram feridos como resultado dos ataques aéreos russos. No início do dia 14 de maio houve uma segunda onda de ataques aéreos russos nos arredores ocidentais da base do 111º Regimento do Exército Árabe Sírio, no oeste da Província de Aleppo, na área de onde partiu o ataque contra a NDF.
Ataques Aéreos Israelenses
Imagens satelitais confirmaram que o ataque do dia 27 de abril [15] da Força Aérea Israelense atingiram uma base da 4ª Divisão de elite do Exército Árabe Sírio:
E o Aeroporto Internacional de Damasco:
6 militares morreram no ataque israelense, incluindo um oficial de alto escalão do Exército Árabe Sírio, o coronel Rifaat Ali Saleh. As outras cinco vítimas foram identificadas como os soldados Osama Hamdan, Ramah Hammoud, Jafar al-Hajj, Mohamad al-Alloush e Hani al-Ali.
Na noite de 13 de maio, uma nova onda de ataques aéreos israelenses atingiu a região central da Síria. Três militares e dois civis foram mortos e outras sete pessoas ficaram feridas no ataque (dois militares e cinco civis, incluindo uma menina).
Os ataques aéreos atingiram alvos nos arredores da cidade de Masyaf, na Província de Hama, onde está localizado o Centro de Pesquisa e Estudos Científicos da Síria (SSRC [33]). O SSRC é a principal instituição militar de pesquisa e desenvolvimento da Síria. A instalação de pesquisa foi alvo de Israel em várias ocasiões no passado. A mais recente ataque ocorreu em 9 de abril.
Vídeos da Força de Defesa Aérea da Síria [34] engajando os mísseis israelenses:
Várias interceptações de mísseis de cruzeiro israelenses foram bem-sucedidas pelos sistemas defesa aérea sírios. Os caças israelenses [35] lançaram 22 mísseis durante o ataque, 16 foram interceptados, além de um UAV, revelou Oleg Zhuravlev, vice-chefe do Centro de Reconciliação Russo na Síria, em 14 de maio:
“Em 13 de maio, entre 20h25 e 20h32, seis caças F-16 da Força Aérea de Israel lançaram 22 mísseis guiados nas instalações do Centro de Pesquisa e Estudos Científicos da Síria (SSRC) na [cidade de] Masyaf e Banias, sem entrar no espaço aéreo sírio”, disse Zhuravlev à RIA Novosti.
Em um comunicado à agência SANA, uma fonte militar síria disse que os ataques aéreos foram lançados do espaço aéreo internacional no Mar Mediterrâneo.
Em 15 de maio, a ImageSat International de Israel divulgou imagens das consequências do ataque israelense:
As imagens de satélite revelaram que o principal alvo dos ataques era um complexo localizado na periferia sudoeste da cidade de Masyaf. O complexo, que foi construído no sopé de uma colina rochosa, está ligado a dois túneis. De acordo com as imagens, os ataques aéreos destruíram completamente o complexo fortificado. O mesmo complexo foi alvo de uma série de ataques aéreos israelenses em 5 de setembro de 2018. Naquela época, sofreu grandes danos. No entanto, foi reconstruído.
O ataque faz parte da campanha israelense “Guerra-Entre-Guerras”, que visa enfraquecer o apoio iraniano a Síria e impedir a transferência de armas avançadas de fabricação iraniana para o Hezbollah no Líbano.
General de Brigada do Exército Árabe Sírio é Morto em Ataque do HTS em Idlib
Em 15 de maio, fontes pró-governo sírias anunciaram que o oficial sênior, General de Brigada Haidara Nawras Othman do Exército Árabe Sírio havia morrido de ferimentos sofridos durante um recente ataque de militantes baseados na região da Grande Idlib; o oficial foi gravemente ferido ao deixar um posto militar na cidade de Milaja, no sul de Idlib, no início de 13 de maio, quando seu veículo foi atingido por um ATGM. O HTS reivindicou a responsabilidade e divulgou o vídeo do ataque:
Esse ataque foi no mesmo dia do ataque de ATGM que deixou dez combatentes da NDF mortos no oeste da Província de Aleppo, que também partiu de posições militantes na Grande Idlib. O Exército Árabe Sírio e a Força Aérea Russa responderam a com uma série de ataques de artilharia e aéreos na Grande Idlib e nas áreas ocupadas pelos turcos e seus proxies no norte da Província de Aleppo.
Enlil: Editor do canal público Frente Oriental no Telegram (https://t.me/frenteoriental), dedicado a História, Geopolítica e Defesa, com foco em China, Irã, Rússia e conflitos no Oriente Médio (sobretudo envolvendo as forças do “Eixo da Resistência” do Irã-Iraque-Síria-Líbano e Iêmen), na África e outras regiões da Ásia (sobretudo Central).
Notas:
[1]. Proxie: Combatentes de “Guerra por Procuração”, ou seja, locais ou estrangeiros que lutam no lugar do Exército nacional do país estrangeiro intervencionista.
[2]. OSHR: Syrian Observatory for Human Rights (Observatório Sírio para os Direitos Humanos), com sede em Londres, Inglaterra.
[3]. ALF: Afrin Liberation Forces (Forças de Libertação de Afrin); milícia curda ligada a YPG, ambas componentes da SDF.
[4]. YPG: Yekîneyên Parastina Gel (Unidades de Defesa Popular); mílicia curda, principal componente da SDF.
[5]. SDF: Syrian Democratic Forces (Forças Democráticas Sírias); milícias curdas e aliados apoiadas pelos EUA.
[6]. Divisão Hamza: grupo armado formado em 2013, treinado e equipado pelos EUA e pela Turquia como parte do Syrian Train and Equip Program (Programa Treinar e Equipar Sírio). O grupo coopera com as Forças Armadas turcas na ocupação do norte da Síria e é componente da Segunda Legião do SNA.
[7]. SNA: Syrian National Army (Exército Nacional Sírio); coalizão de grupos armados/facções apoiados pelos turcos, estabelecido oficialmente a partir de 2017.
[8]. UCAV: Unmanned Combat Aerial Vehicle (Veículo Aéreo de Combate Não Tripulado).
[9]. ATGM: Anti-Tank Guided Missile (Míssil Anticarro Guiado).
[10]. PKK: Partiya Karkerên Kurdistan (Partido dos Trabalhadores do Curdistão); organização política e movimento armado curdo que atua principalmente no sudeste da Turquia e norte do Iraque; com início da guerra na Síria em 2011 também começam atuar no país como base da SDF.
[11]. Exército Árabe Sírio: Forças Terrestres das Forças Armadas Sírias.
[12]. ISIS: Islamic State in Iraq and Syria (Estado Islâmico no Iraque e na Síria); também chamado ISIL (Islamic State in Iraq and the Levant: Estado Islâmico do Iraque e do Levante); localmente, Iraque e Síria, é conhecido pela abreviação de seu nome em árabe Dāʿish ou Daesh, de al-Dawlah al-Islāmiyyah fī al-ʿIrāq wa al-Shām.
[13]: Kata’ib Sayyid al-Shuhada (ou KSS): Batalhão de Mestres dos Mártires; milícia xiita iraquiana formada em 2013, cuja missão declarada é proteger “santuários xiitas em todo o mundo”, preservar a “unidade iraquiana” e “pôr fim ao conflito sectário” na região. É engajada tanto nas frentes no Iraque quanto na Síria contra o ISIS.
[14]. al-Tanf: Uma das 3 passagens de fronteira oficiais entre a Síria e o Iraque, no “centro-sul” do país; é designada al-Waleed, no entanto os sírios a chamam de al-Tanf; a passagem está localizada no distrito de Ar-Rutba, na Província de al-Anbar, oeste do Iraque, perto do ponto mais a nordeste da Jordânia, e Província de Homs, na Síria. É o principal posto de fronteira na estrada entre Damasco e Bagdá. Obviamente os EUA, com apoio do seu governo títere na Jordânia, mantém a ocupação da área para impedir o livre fluxo entre as capitais da Síria e do Iraque e outras regiões dos 2 países.
[15]. MaT: Maghaweir al-Thowra (Revolutionary Commando Army: Exército de Comando Revolucionário); grupo armado apoiado pelos EUA que ocupa a área de entorno de al-Tanf.
[16]. Vide Sitrep: Síria de 22 e 30 de abril de 2022: https://sakerlatam.xyz/mundo-arabe-y-musulman/siria/sitrep-siria-2/
[17]. Ahrar al-Sham: Ḥarakat Aḥrāru š-Šām al-Islāmiyah (Movimento Islâmico dos Homens Livres do Levante); coalizão de várias unidades islamistas/salafistas que se uniram em uma única brigada e depois em uma divisão para lutar contra o Governo Sírio; em 2013 o Ahrar al-Sham tinha entre 10.000-20.000 combatentes, o que na época o tornava a segunda unidade mais poderosa lutando contra o Exército Árabe Sírio e aliados, depois do FSA; era a principal organização que operava sob a égide da Frente Islâmica Síria e um dos principais componentes da Frente Islâmica, que substituiu a Frente Islâmica Síria em novembro de 2013; a Frente Islâmica foi virtualmente extinta no começo de 2015, com os grupos maiores como Ahrar al-Sham atuando como unidades independentes e as facções menores sendo absorvidas pelo Ahrar al-Sham; nessa época o Ahrar al-Sham se juntou a outros grupos jihadistas sob a égide do Jaish al-Fatah (Exército da Conquista), fazendo campanha contra o Exército Árabe Sírio nos distritos do norte da cidade de Aleppo. O Ahrar al-Sham tinha cerca de 20.000 combatentes em 2015 e se tornou o maior grupo armado na Síria depois que o FSA se enfraquece com divisões e lutas fraticidas. Em fevereiro de 2018 o Ahrar al-Sham se junta ao Nour al-Din al-Zenki para criar a Jabhat Tahrir Suriya (Frente de Libertação da Síria), que por sua vez se junta a Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir (Frente Nacional de Libertação) em agosto de 2018; finalmente o Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir se une ao SNA em outubro de 2019. Junto com o Jaysh al-Islam o Ahrar al-Sham é o principal grupo apoiado pela Turquia na Síria.
[18]. FSA: Free Syrian Army (Exército Sírio Livre); “coalizão” de grupos armados/facções apoiados pelos EUA, países da Europa Ocidental, Árabes e Turquia formada em 2011; ao longa da guerra vários grupos e facções armadas fizeram parte do FSA, várias deles islamitas/salafistas; o FSA se propôs a ser o “principal” grupo “moderado” de mudança de regime na Síria; no entanto, diferentes interesses, financiamentos, ideologias e agentes externos nunca fizeram do FSA uma força coesa e disciplinada; lutas fraticidas frequentemente emergiam no ceio do FSA; após a intervenção militar turca na Síria em 2016, e à medida que outros países começaram a reduzir seu envolvimento, o FSA tornou-se cada vez mais dependente da ajuda turca. Em meados do segundo semestre de 2016 os turcos passaram a organizar uma nova coalizão de grupos armados, de acordo com os seus interesses específicos, chamada SNA (Syrian National Army: Exército Nacional Sírio), estabelecido oficialmente a partir de 2017. Vários dos principais grupos do FSA passaram desde então a fazer parte do SNA. Os grupos restantes passaram por várias divisões internas e uma disputa fraticida pelo próprio uso do “selo” FSA. Atualmente remanescentes do FSA (ou que se autointitulam), ou ex-integrantes, tem agido em algumas áreas ocupadas no norte da Síria ou liberadas pelo Exército Árabe Sírio como as Províncias de Daara, Damasco e Rif Dimashq.
[19]. Frente Islâmica Síria: al-Jabhah al-Islāmiyya as-Sūriyyah; foi uma organização surgida em novembro de 2012 em torno de uma aliança de várias facções armadas islamistas/salafistas sunitas insurgentes contra o Governo Sírio, cujo objetivo era a transformação da Síria em um Estado islâmico sob a lei da Sharia; seus principais componentes eram o Ahrar al-Sham, Ansar al-Sham, Liwa al-Haqq e Jaysh at-Tawheed; foi dissolvida em novembro de 2013 com a criação da Frente Islâmica.
[20]. Frente Islâmica: al-Jabhat al-Islāmiyyah; organização armada islamita/salafista sunita que foi formada pela união de sete grupos armados em novembro de 2013, sendo os 3 principais o Ahrar al-Sham, Liwa al-Tawhid e Jaysh al-Islam. A aliança foi organizada tendo como base a expansão da Frente Islâmica Síria, dissolvida após a criação da Frente Islâmica; a Frente Islâmica começou a se fragmentar ao longo de 2014, com várias de suas facções formando alianças com outros grupos; no início de 2015, a Frente Islâmica estava virtualmente extinta, com os grupos maiores como Ahrar al-Sham e o Jaysh al-Islam atuando como unidades independentes e as facções menores sendo absorvidas pelo Ahrar al-Sham.
[21]. Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir: Frente Nacional de Libertação; coalizão de grupos armados componente do SNA, desde outubro de 2019. O grupo foi formado por 11 facções armadas no noroeste da Síria em maio de 2018.
[22]. Grande Idlib: Idlib, capital da Província de Idlib, no noroeste da Província, e entorno, onde há grande concentração da oposição armada ao Governo Sírio no oeste do país, principalmente do HTS e aliados. Na teoria há um cessar-fogo nas áreas ocupadas da Província; no entanto sempre é desrespeitado pela oposição armada.
[23]. FOTAB 100-80: bomba aeronáutica projetada para produzir um flash intenso e instantâneo para iluminar o terreno à noite para fotografia aérea, iluminação de alvos para operações de bombardeio noturno ou ataques simulados. Seu pirotécnico têm um tempo de queima de 2,2 a 3,5 minutos e uma intensidade de luz de 22.000 a 700.000 velas.
[24]. HTS: Hay’at Tahrir al-Sham (Organização para a Libertação do Levante); grupo militante salafista, com ligações históricas e conflitantes com a al-Qaeda; é um dos principais grupos armados da guerra na Síria; foi formado a partir de uma coligação da Jabhat Fateh al-Sham (antiga Frente al-Nusra) com outros grupos militantes menores; é o principal grupo armado não estatal em áreas conflagradas das Províncias de Idlib e Aleppo.
[25]. SANA: Syrian Arab News Agency (Agência de Notícias Árabe Síria); agência de notícias oficial do Governo Sírio.
[26]. IDF: Israel Defense Forces (Forças de Defesa de Israel); designação do conjunto de Forças Armadas de Israel (Exército, Força Aérea e Marinha Israelense).
[27]. UNDOF: United Nations Disengagement Observer Force (Força de Observação de Desengajamento das Nações Unidas).
[28]. UAV: Unmanned Aerial Vehicle (VANT: Veículo Aéreo Não Tripulado).
[29]. NDF: National Defense Forces (Forças de Defesa Nacional); milícia aliada do Exército Árabe Sírio no combate aos grupos jihadistas e terroristas no país; foi formada no fim de 2012 e é composta por voluntários em unidades em várias Províncias sírias.
[30]. Exército de Guardiães da Revolução Islâmica do Irã: Sepâh-e Pâsdârân-e Enghelâb-e Eslâmi; no Irã o Exército de Guardiães é chamado simplesmente de “Sepâh”; em inglês é designado IRGC (Islamic Revolutionary Guard Corps: Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica).
[31]. Jaysh al-Nasr: Exército da Vitória; grupo formado inicialmente pela aliança de 16 grupos menores em agosto de 2015; em seu anúncio de formação pretendia ser um primeiro passo para unificar o FSA nas Províncias de Idlib e Hama em uma única unidade de operações. O Jaysh al-Nasr foi um dos principais grupos que recebeu apoio financeiro e armas dos EUA, notoriamente ATGMs BGM-71 TOW; com o fim do suporte ocidental em outubro de 2017 algumas facções armadas deixaram o grupo em fevereiro de 2018; no entanto, a Turquia continua a fornecer apoio financeiro e militar ao Jaysh al-Nasr; em troca desse apoio o grupo passou a integrar o Al-Jabhat al-Wataniya lil-Tahrir em maio de 2018, que por sua vez se tornou parte do SNA.
[32]. Divisão Sultão Murad: Sultan Murat Tümeni; grupo armado apoiado pela Turquia criado em torno de uma identidade turcomana síria (sírios de origem turca). É o grupo mais notável das Brigadas Turcomanas Sírias (Suriye Türkmen Tugayları; estrutura informal de oposição armada composta por turcomenos, turcos sírios e turcos que formam a ala militar da Assembleia Turcomena Síria; os grupos dessas brigadas defendem desde nacionalismo turco secular a ideologias islâmicas fundamentalistas). A Divisão Sultão Murad é componente da Segunda Legião do SNA.
[33]: O Centro de Pesquisa e Estudos Científicos da Síria é conhecido por sua sigla em inglês, SSRC (Scientific Studies and Research Center).
[34]. A Força de Defesa Aérea da Síria é um ramo independente das Forças Armadas Sírias; no ocidente geralmente sistemas antiaéreos de médio e longo alcance pertence ao Exército ou Força Aérea.
[35]. Os caças isralenses, normalmente Lockheed Martin F-16I Sufa e/ou Boeing F-15I Ra’am, geralmente lançam seus mísseis do Mar Mediterrâneo, do espaço aéreo das Colinas de Golã sírias ocupadas ou do Líbano, fora do envelope de engajamento dos sistemas de defesa antiaéreos sírios.
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