Ucrânia: apenas os fatos

Dmitry Orlov — 8 de abril de 2022 — [Traduzido com permissão do autor por @QuantumBird e @LadyBharani]


Alguns dos comentários e perguntas que recebi nas últimas semanas deixaram claro para mim que muitos dos meus leitores, esclarecidos e, em geral, bem informados, não têm certeza sobre o que acreditar a respeito da ação na Ucrânia, pois foram apanhados em um turbilhão de mentiras oferecidas como cobertura jornalística no Ocidente. Meu objetivo aqui não é converter ou convencer, mas simplesmente enumerar uma série de aspectos da situação ucraniana para que você possa guiar sua mente. Deixe-me pedir desculpas antecipadamente por qualquer dissonância cognitiva que isso possa criar; estou apenas tentando ser útil. A exposição vai parecer um pouco seca em alguns pontos, mas isso é porque estou me esforçando muito para me ater aos fatos conhecidos e bem estabelecidos. Deixarei a vocês a decisão de quão bem o que os “narradores” ocidentais estão lhes dizendo se encaixa.

1. O que é a Ucrânia em termos geográficos?

Dinâmica histórica da agregação de territórios ucranianos (Imagem adicionada pelo tradutor).

A palavra russa “ukraina” é uma variante de “okraina” e está relacionada à palavra “krai” que significa borda, margem, periferia, fronteira, etc., desde a borda de uma xícara de chá até a uma província distante do centro (Moscou). Não está totalmente claro de onde veio o termo “Ukraina”, como um topônimo específico; há algumas evidências de que se tratava de um termo depreciativo usado pela primeira vez pelos poloneses numa época em que a Polônia ocupava cerca da metade desse território (na época em que a fronteira entre a Polônia e a Rússia cortava ao longo do rio Dniepre, cortando-o pela metade).

A “Ukraina” recebeu então status oficial pelo governo comunista após a revolução russa de 1917, proclamando a República Socialista Soviética Ucraniana (RSSU), no lugar de cinco províncias russas (Yekaterinoslavskaya, Poltavskaya, Tavricheskaya, Chernigovskaya e Kharkovskaya gubernii). Vários termos foram aplicados a agrupamentos destes territórios, tais como Novorossia (terras que a Rússia conquistou na segunda metade do século 18 como resultado de guerras com o Império Otomano) e Malorossia, ou “Pequena Rússia” (como uma designação para terras cristãs ortodoxas que passaram de um lado para o outro entre a Rússia e a Polônia durante muitos séculos).

Após a conclusão da Segunda Guerra Mundial, Stalin acrescentou à RSSU uma área fortemente balcanizada mais a oeste que fazia parte da Áustria-Hungria e era habitada por romenos, húngaros, alemães, russos, ciganos, poloneses e várias pequenas tribos eslavas. Foi dessa área que veio o nacionalismo ucraniano, em sua forma atual, e foi dos dialetos de aldeia falados nessa área que a língua oficial ucraniana, agora ensinada nas escolas em toda a Ucrânia, foi sintetizada artificialmente no final do século XIX – início do século XX.

Imediatamente após a mudança de regime de 2014, a Ucrânia começou a desmoronar. O primeiro a ir foi a Crimeia, que foi parte da Rússia durante a maior parte dos últimos 240 anos. Desfrutou brevemente de autonomia dentro do estado ucraniano, mas seu parlamento votou pela secessão logo após o golpe ilegal em Kiev. O Donbass, uma área russa acrescentada por Lênin, estava próxima à fissão. Por um tempo, parecia que as regiões de Kharkov e Odessa também estourariam. Seu separatismo foi contido através da aplicação do terrorismo de Estado. E agora, um mês após a operação militar russa na Ucrânia, restam apenas 60% do território ucraniano inicial; o resto está hasteando bandeiras russas. A tendência histórica geral é assim inconfundível: o remanescente territorial da República Socialista Soviética Ucraniana está desaparecendo.

Tire suas próprias conclusões, mas parece que o território da antiga Ucrânia, sendo de cultura maioritariamente russa, tendo religião maioritariamente ortodoxa russa, usando idioma maioritariamente russo, e sendo historicamente parte da Rússia, é, na verdade, apenas pedaços da Rússia que foram espalhados ao redor pelo colapso do império russo e depois pelo colapso da URSS. À medida que a Federação Russa se fortalece enquanto o Ocidente se aproxima de seu próprio colapso, é natural esperar que a Rússia comece a reunir suas diversas ovelhas perdidas e filhos pródigos.

2. O que é politicamente a Ucrânia?

Politicamente, a Ucrânia (o que resta dela) é uma “coisa” americana. Sua atribuição aos EUA é difícil de ser contestada: seu governo é controlado a partir da embaixada dos EUA em Kiev (ou seria em Lvov agora?) e suas forças armadas são diretamente controladas a partir do Pentágono com base em dados de sensoriamento remoto e relatórios de campo de oficiais dos EUA e NATO infiltrados. Mas o que é a Ucrânia afinal? Não é uma colônia, pois uma colônia é algo que produz algo valioso para o centro imperial, enquanto a Ucrânia é um buraco negro econômico. Não é um protetorado, uma vez que as forças dos EUA não estão oficialmente presentes lá e não fazem nenhuma pretensão de guardar este território ou proteger seus civis. E não é uma posse soberana, já que as autoridades americanas nunca se cansam de falar de sua soberania e integridade territorial. Ou seja, por processo de eliminação, trata-se de um Estado falido apoiado pelos EUA com o único propósito de atacar a Rússia. Como esse ataque falhou, resta-lhe um propósito: justificar as sanções antirrussas que supostamente já teriam destruído a economia russa. Mas agora que as sanções também falharam (a economia russa continua crescendo), resta-lhe apenas um propósito concebível: como uma pedra de moinho para pendurar no pescoço do pobre Brendan antes de atirá-lo borda fora.

A Ucrânia é 99% um Estado falido, com um exército escarço, uma economia inoperante e uma enchente de refugiados. No entanto, ainda tem um governo central reconhecido internacionalmente: esse é o regime de Kiev com seu comediante Vladimir Zelensky, escondido em algum bunker em um local não revelado. Todas as outras partes do Estado parecem um tanto quanto exauridas a este ponto. Como Zelensky baniu todos os partidos políticos exceto o seu, é um Estado de partido único, embora nas condições atuais esteja mais próximo de um Estado sem partidos. Também não há imprensa nacional, uma vez que Zelensky proibiu todos os canais de TV exceto o canal do governo. A maior parte do que ele transmite parece vir de uma ou mais “fábricas de notícias falsas” que podem estar localizadas em algum outro lugar, na Polônia talvez. Uma pergunta realmente excelente a ser feita é se Zelensky controla sua própria boca. Ele é um ator e parece estar desempenhando um papel determinado para ele por outra pessoa. Ele também parece estar sob uma coação considerável. Ele era notório por seu gosto pela cocaína, mas em vídeos mais recentes ele parece bêbado ou sob a influência de outras drogas (metadona, talvez, que é bastante difundida no exército ucraniano).

Ampliando a paisagem mental do antigo território ucraniano, tem-se uma terra profundamente traumatizada, acostumada a viver com medo. A maior parte dela é ocupada basicamente por russos com uma quantidade variável de ucranianos adicionados como aromatizantes. Mas, nos últimos oito anos, eles foram forçados a falar ucraniano (uma língua estrangeira para a maioria deles) e a jurar fidelidade a um regime que abraçou bandeiras, insígnias e ideologia nazistas. Eles foram forçados a renegar sua herança russa que remonta a mil anos (Kiev foi brevemente a capital da Rússia por volta do final do século IX) e a tratar a Rússia como um inimigo (ao mesmo tempo em que continuam a fazer comércio com a Rússia para todos os tipos de bens essenciais e a receber a ajuda econômica de milhões de ucranianos que trabalham na Rússia). Aqueles que tentaram ir contra estas ordens foram submetidos a maus tratos horríveis, desde o bombardeio de artilharia até a prisão em edifícios em chamas ou a tortura até à morte. Todos estes crimes de guerra foram escrupulosamente documentados e seus perpetradores serão levados à justiça em um tribunal de crimes de guerra que rivalizará com os de Nuremberg em 1945-6.

Alguns nacionalistas ucranianos tentam argumentar que Kievan Rus não era de modo algum a Rússia. A resposta a isso é que Kievan Rus nunca existiu de forma alguma. Havia Rus, e várias cidades dentro dela, incluindo Kiev e Novgorod, que foram proeminentes dentro dela em vários momentos. O ponto focal foi muito brevemente Kiev, mas depois se deslocou para o norte. No que diz respeito ao nome, Rus e Rússia são sinônimos. Há uma continuidade histórica, cultural, linguística, religiosa e política unindo toda a Rússia, inclusive Kiev, que se estende por 10 séculos. Kiev não durou muito tempo no topo da pilha porque é muito vulnerável – seja aos poloneses, mongóis ou nazistas alemães (que bombardearam Kiev no primeiro dia). Ao longo da maior parte da história russa, Kiev desempenhou o papel do elo mais fraco, de sacrifício. Mas apesar de ver mais do que sua quota-parte de invasores, permaneceu como um dos pontos focais da civilização russa e as pessoas lá são definitivamente russas.

E aqui está um teste de tornassol muito útil. Considere a proposta de que russos e ucranianos são essencialmente o mesmo povo atestado pela história, religião, língua, cultura e constituição genética. Há aqueles que aceitam esta proposta como verdadeira; estes estão bem. E depois, há aqueles que a consideram profundamente ofensiva; eles são nacionalistas ucranianos, enfim, nazistas. Dado que, entre os russos, o apoio a Putin é de 83% e o apoio à operação militar russa na (antiga) Ucrânia é absolutamente esmagador, este não é um bom momento para ser um nazista ucraniano. Eles provavelmente acabarão mortos, presos ou exilados em algum lugar na UE [União Europeia – nota do tradutor], onde sua vida dificilmente será confortável, dado que a UE vai entrar em colapso.

Parece válido perguntar de onde vieram estes nazistas ucranianos e por que eles conseguiram sobreviver por tanto tempo. Não há uma resposta simples para isto. O nacionalismo ucraniano teve seu início nas mãos dos anti-imperialistas russos. Havia muito fomento político nos dias da morte do império russo, e algumas pessoas viram que era vantajoso escrever e publicar (em São Petersburgo) uma gramática ucraniana (inventada por alguém de Sumy) e outras coisas do gênero. Quando o império russo ruiu, houve uma onda de fascismo que varreu as novas terras imperiais independentes. A Finlândia, o Báltico, a Polônia, o que mais tarde se tornou a RSSU e muitos outros países tiveram seu flerte com o fascismo, e aqui o nascente nacionalismo ucraniano encontrou sua primeira aplicação. Esse episódio não durou muito, pois o fascismo foi rapidamente substituído pelo comunismo, mas os bolcheviques, muitos deles contrários ao “chauvinismo russo”, acharam que seria apropriado alimentar uma identidade étnica ucraniana.

Então, durante a ocupação nazista alemã, os nazistas ucranianos conseguiram fazer alguns crimes de guerra como colaboradores nazistas, criando uma coleção de maníacos genocidas, ou seja, heróis ucranianos que estão no panteão do atual regime de Kiev: figuras como Bandera e Shukhevich. Após a guerra, a maioria desses colaboradores nazistas foi pega; alguns foram enforcados, outros embarcados para o Gulag. Mas após a morte de Stalin veio Nikita Khrushchev, que reabilitou esses criminosos de guerra e permitiu que eles se reintegrassem à sociedade ucraniana e corrompessem a mente dos jovens. Outra corrente do nazismo ucraniano foi criada pelos EUA e Canadá, que aceitaram criminosos de guerra e refugiados e os alimentaram como uma espécie de força de oposição antissoviética. Eles retornaram após o colapso soviético e todos os nazistas juntos foram generosamente financiados e apoiados politicamente pelos EUA por cerca de 22 anos até que o projeto fosse levado a bom termo no golpe de 2014. Desde então, a Ucrânia tem sido controlada por uma espécie de junta EUA/Nazistas, que agora está chegando ao seu fim pegajoso.

Então, onde tudo isso deixa a população da (antiga) Ucrânia, traumatizada por ser proibida de falar ou ensinar seu russo nativo, sujeita a bombardeios ou pior, e agora abandonada à terna misericórdia de soldados russos profissionais? É perigoso generalizar e conjecturar. Algumas pessoas estão simplesmente felizes por o pesadelo ter acabado. Outros, que sofrem uma forte lavagem cerebral, vão gradualmente despertar quando o falso canal de notícias da televisão ucraniana for desligado onde estão. Outros ainda passarão por um longo processo de recuperação semelhante ao que os antigos membros de cultos passam, pois estiveram profundamente envolvidos com o culto totalitário que é o nacionalismo ucraniano. A boa notícia é que o prognóstico é bom para uma recuperação completa; a maioria dos ucranianos se torna indistinguível da população geral russa em uma ou duas gerações.

3. O que é a Ucrânia em termos militares?

O exército ucraniano planejou inicialmente atacar o Donbass com tudo o que tinha, causando centenas de milhares de vítimas civis, e encenar provocações em território russo para forçar os russos a intervir, atolando-os em lutas de rua em Donetsk. Os russos souberam deste plano e o frustraram com talvez apenas uma semana de antecedência. O fato de ter sido uma surpresa para qualquer um é em si uma surpresa: pouco antes de acontecer, Putin disse:

“Uma das coisas que aprendi ao crescer nas ruas de Leningrado é que, se uma luta é inevitável, você deve atacar primeiro.”

E então ele fez exatamente isso, o que também não é uma surpresa: Putin é bem conhecido por dizer o que está planejando fazer e depois fazer exatamente isso.

A força russa, um pouco reduzida, talvez com apenas 1/4 de 1/5 do tamanho da força ucraniana, praticamente desarmou os ucranianos, destruindo metodicamente as defesas aéreas, tanques, estoques de armas, sistemas de artilharia, centros de comando, depósitos de combustível, refinarias, centros de treinamento de mercenários e até mesmo um bunker subterrâneo profundo, com um míssil hipersônico lançado de um pequeno navio a mil quilômetros de distância (apenas para fazer algumas pessoas no Pentágono vestirem calcinhas novas). As forças militares ucranianas restantes foram aprisionadas em apenas três pequenos caldeirões, todos no leste, onde estão sendo demolidas metodicamente.

A missão tem sido complicada pelo fato de os ucranianos terem usado civis como escudos humanos, retardando o progresso e aumentando o número de vítimas civis. Há indícios de que as forças ucranianas restantes estão sendo comandadas remotamente pelo Pentágono através de nazistas infiltrados em cada parte da estrutura militar para lutar até o último ucraniano. A julgar pelas entrevistas com aqueles que conseguem se render, eles estão desmoralizados, veem sua operação contínua como inútil, mas são impedidos de se renderem por um reinado de terror nazista, que prevalece dentro das forças armadas.

Em algum momento entre as próximas semanas e um mês, a Ucrânia deixará de ser um ambiente rico em alvos para as forças militares de alta tecnologia da Rússia, então será a hora de mudar a missão de neutralizar militarmente a Ucrânia para operações humanitárias e de limpeza. Dentro de aproximadamente o mesmo prazo, a maioria dos ucranianos que queriam fugir para a UE já terão tido a oportunidade de fazê-lo e será o momento de proteger as fronteiras ocidentais da Ucrânia. Se não fosse pela imposição do politicamente correto, os europeus talvez ficassem muito contentes de ver milhões de refugiados ucranianos se inundando para aliviar uma severa escassez de pessoas brancas ali causada por taxas de natalidade muito baixas entre os nativos.

Há poucas dúvidas de que veremos mais bandeiras falsas e provocações, como o “massacre” em Bucha (que foi cuidadosamente escolhida porque “O açougueiro de Bucha” soa bem, que ocorreu três dias após os russos terem recuado como um gesto de boa vontade baseado no progresso das negociações, e onde foram observados cadáveres, parecendo e cheirando frescos como margaridas, sentados e fumando cigarros). Havia também a maternidade de Mariupol (onde não havia mulheres, mas uma blogueira de moda local que não estava grávida). E vocês, meus caros leitores, sabendo melhor, serão forçados a ver e ler sobre esta porcaria e, embora sabendo melhor, fingir ofensa, pois, caso contrário, as pessoas ao seu redor olharão para vocês interrogativamente. Gostaria de assegurar-lhes que isso não fará de vocês um simpatizante nazista.

Mas todas as coisas, boas e ruins, devem chegar a um término, e estou disposto a sair de cena e adivinhar que o Dia da Vitória de Moscou de 2022, em 9 de maio, será uma ocasião e tanto. Ninguém anunciou isto, mas eu ficaria surpreso se os planos militares não exigirem algum tipo de fechamento na operação especial ucraniana até aquela época.


Fonte: https://boosty.to/cluborlov/posts/ee59dea8-9eea-45fb-94d5-7d48900e7b23?share=post_link

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